"O futebol e os seus psicodramas, mais as suas mirabolantes operações de compra e venda de última hora, em Portugal e nas principais ligas europeias, bem que reclamam a nossa atenção exclusiva de um modo quase possessivo, mas desta feita teremos mesmo de ser implacavelmente impermeáveis. A culpa é de um homem de raiz cabo-verdiana nascido na Costa do Marfim, mas português de verdade. Chama-se Nélson Évora e já conquistou medalhas de metais diversos, como ouro, prata ou bronze, representativas de feitos de distinta relevância, com particular ênfase para as douradas nos Campeonato do Mundo de Atletismo de Osaka em 2007 e nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, sempre na disciplina de triplo-salto. Ontem voltou a conquistar uma medalha no Campeonato do Mundo que está a decorrer no Ninho do Pássaro da capital chinesa. Isto depois de, já neste ano, ter vencido o Campeonato Europeu de Atletismo em Pista Coberta disputado em Praga. Trata-se, por conseguinte, sem qualquer dúvida, do melhor atleta português. A sua marca, porém, ultrapassa em muito o brilho das medalhas, precisamente pela razão que leva a reconhecer o especial esplendor do bronze que ontem conquistou. Porquê? Porque esteve praticamente três anos sem poder competir, em consequência de impiedosas lesões que consecutivamente contra si atentaram. Ainda por cima quando já se acercava dos trinta anos, limiar que no imaginário popular português - que não italiano ou americano, por exemplo - corresponde ao terminus de uma carreira de alta-competição. Agora Nélson Évora volta a provar que aquilo que faz de si um atleta superior é sobretudo o animus que habita o seu corpus. Este é o instrumento que salta mais de 17 metros. Aquele é a entidade que lhe confere identidade."
Paulo Teixeira Pinto, in A Bola
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