quarta-feira, 8 de abril de 2015

A arte sublime de Jonas

"Está a construir na Luz um império grandioso pelo futebol que oferece mas também pelos afectos criados junto dos adeptos. É um jogador de outra dimensão, candidato a estrela maior da época 2014/15.

1. Há uma luz que o acompanha em campo, sendo que, nos melhores dias, há mesmo fogo de artifício a estrepitar à sua passagem; ao brilho do que os olhos veem junta-se então o som de plateias rendidas à surpresa dos magistrados golpes de magia e ao modo como satisfaz a inteligência com a perfeita execução do senso comum. Jonas vive segundos adiantados aos factos e, por ser um excepcional leitor de indícios, pensa cinco toques à frente; a participação no bordado, feita de tabelas e fintas que aproximam a equipa do golo, serve também para acumular veneno e descarregá-lo quando a bola lhe volta aos pés, mais à frente, a implorar por um último toque. É um génio de armas subtis, encantador por vocação, que impressiona companheiros, público, jornalistas e até verdadeiros. Toda uma construção cujo efeito mais relevante é camuflar a verdadeira natureza de assassino profissional.

2. Sem espírito nem físico para caçador solitário entregue a lutas desiguais com feras sem pudor, não tem perfil para ser efeito sem causa, isto é, decidir do nada, sem a contribuição dos outros. Mas é um atacante milagroso porque, integrado nos mecanismos instituídos da equipa, não só acrescenta soluções para todos os gostos como também multiplica a produção de quem o rodeia. No seu padrão criativo, por técnica, habilidade, influência, espontaneidade, e abrangência, há elementos que rematem para João Vieira Pinto: genial, imprevisível, intenso, tanto mais perigoso quanto a equipa for capaz de se unir para dar eficácia ao ataque posicional. Quase tudo ao contrário de Rodrigo, o seu antecessor, mortífero em deslocamentos mais amplos, que o tornam perfeito para um jogo directo e feito de transições.

3. Talvez por isso, por extrair o máximo de si próprio com a equipa virada quase em exclusivo para a frente, o Benfica seja tão deslumbrante e esmagador na Luz e tão susceptível de expressar-se na plenitude longe do lar. Não será por acaso que, analisando os 22 golos de águia ao peito, Jonas apontou 14 em casa (repartidos por 11 jogos) e só 8 fora (em apenas 6). O brasileiro é um futebolista de exaltação pepétua, que navega ao sabor de uma esplendorosa maturidade, precisamente porque mantém o entusiasmo juvenil de toda a vida e a impertinente convicção de ser grande naquilo que faz. A influência diferenciada exercida na produção colectiva não tem a ver com os 31 anos mas com o estilo de sempre - está ainda longe de suscitar o sentimento de injustiça quando um artista entre na recta final da carreira.

4. Jonas é um prodígio iluminado por uma auréola de inocência, que se movimenta com a malícia e trata a bola com esmero de quem guarda um tesouro nos pés. Nessas acções em que purifica sistematização e ordem com virtuosismo e magia contagiantes, revela articulação motora perfeita e o deambular enigmático que lhe permite passar por zonas de altíssimas tensões, cheias de barreiras electrificadas, com minas e armadilhas espalhadas por todo o lado, como se estivesse a passear no quintal de casa. Avançado com descaramento, convicções, talento e pontaria, deu ao Benfica versatilidade e contundência nos processos ofensivos. Por tudo quanto tem feito, está a construir na Luz um império grandioso pelo futebol que oferece mas também pelos afectos criados junto dos adeptos. É um jogador de outra dimensão, candiadato a estrela maior da época 2014/15.

(...)"

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