quinta-feira, 5 de março de 2015

Semântica

" «O Banco de Portugal tem sido perentório, categórico a afirmar que os portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à sua parte não financeira, mesmo na situação mais adversa.»
Cavaco Silva, presidente da república, Julho de 2014

Pela mina parte, confesso as minhas limitações semânticas. Fiquei convencido de que o Presidente da República, na frase em cima, estava a falar do Banco Espírito Santo - porque confiava o suficiente no Banco de Portugal para verbalizar as garantias que lhe tinham sido dadas. Se as não tomasse como suas teria ficado caladinho, presumi. Mas não. Afinal, Cavaco Silva não estava a falar do BES, estava a falar do Banco de Portugal. Foi ele próprio quem o garantiu, já depois do colapso do banco de Ricardo Salgado e família.
Infelizmente, não apreendi a lição. Há dias ouvi um treinador falar sobre o «azar» da sua equipa, porque as decisões de arbitragem vão sempre contra ela, e a sorte de outras, que quando não estão a jogar bem lá aparece a «fortuna» dalgumas decisões. Pensei mesmo que estava a queixar-se das arbitragens nos seus jogos e nos dos outros, e até que os outros eram apenas um, o Benfica. É que pensei mesmo. E não fui só eu. E não foram só os jornalistas portugueses, que parece que são maus, segundo se percebeu depois de Basileia. Até os espanhóis falharam a interpretação daquilo que o treinador quereria dizer quando afirmou: «Sabemos que temos de fazer mais que outros, que são boas equipas, mas quando o futebol não lhes chega... têm essa fortuna que nós não temos». Garante ele: «Não falei mal das arbitragens, estais confundidos. Eu falei de azar. É diferente».

P.S.: Tentando decifrar a forma de pensar de Lopetegui, acredito que ele possa entender que este texto é sobre semântica. Na verdade é sobre ele."

Hugo Vasconcelos, in A Bola

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