quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O Duque! O Duque! Ponham já o Duque a funcionar!

"O Sporting é vítima de Guttmann. Se foi com a maldição que a imprensa explicou a derrota do Benfica na final de Turim, só pode ter sido a mesma maldição que o impediu de golear.

É normal. Os impérios nascem, crescem e morrem. Mas há impérios que morrem mais do que outros. Reza a História que o estertor de alguns impérios produz singulares curiosidades.
Confiando no que nos relatam os jornais, a crise no BES, o desmoronamento da PT e o periclitante estatuto da Olivedesportos, provocaram uma aflição de tal monta no nosso futebol que houve necessidade, obviamente, imperiosa de erigir uma nova ordem para fazer face ao caos.
Reuniram-se, portanto.
Que fazer, amigos?
Alguém gritou:
- O Duque! O Duque! Ponham já o Duque a funcionar!
Dito e feito. Vem aí uma Liga para durar séculos. Ou, pelo menos, outros trinta anos. No fundo, é o que se quer.

O melhor do Benfica esta semana. Em 1.º lugar: os três golos do Jonas na Covilhã e o Jonas propriamente dito.
Em 2.º lugar: Gonçalo Guedes na Covilhã, a jogar, e Gonçalo Guedes no Seixal, a sair de um táxi a toda a brida para seguir viagem para o Mónaco com os adultos.
Em 3.º lugar: o ponto sofridamente conquistado no Mónaco dá uma esperança ténue de qualificação para a Liga Europa, que é a nossa praia. Mesmo assim está a coisa muito difícil. Perder em casa e não ganhar fora é no que dá. A ideia de um Benfica só para consumo interno entristece.

Na Taça de Portugal vamos em frente. Nesta eliminatória caiu um candidato forte. Pela segunda vez consecutiva Marco Silva foi ganhar na casa do FC Porto e adiós Copa de Portugal.
A segunda parte do jogo no Dragão arrancou de modo inaudito com os donos da casa a falhar dois penaltis de rajada.
Ao primeiro, apontado com o pé por Jackson Martinez estando a bola na marca dos 11 metros, respondeu Rui Patrício com uma estirada majestosa. Ao segundo, apontado de cabeça por Marcano, respondeu Rui Patrício com outra estirada categórica impedindo o golaço.
Pouco depois houve ocasião para uma terceira grande penalidade mas Jorge Sousa entendeu não apontar para o castigo máximo depois de ajuizar aquele segundo em que o braço de Jonathan Silva desviou a trajectória da bola dentro da área dos visitantes.
Está encarregue o árbitro de interpretar se há ou não intenção do jogador, exercício impossível visto que não se pode exigir a ninguém capacidades do foro paranormal ao ponto de saber ler o que vai na cabeça dos jogadores no que diz respeito a intenções.
O árbitro-mentalista ainda não foi nem nunca será inventado. E ainda bem porque com árbitros-mentalistas, ou seja com árbitros aptos a ler os pensamentos dos jogadores, poucos jogos chegariam ao fim por falta de material, à força de expulsões não por palavras, nem por actos, mas pela penalização de “pensamentos” de índole grosseira, quando não insultuosa.
Quanto a mim, que faço parte do público, estes momentos de dúvida que ocorrem sempre que uma mão e uma bola se encontram dentro da área, resolvo-os de maneira simples:
- Se o mesmo lance tivesse acontecido fora da área era ou não era falta?
Se era falta fora da área então é porque dentro da área tem de ser penalty. E vice-versa.
Sabemos como pesa de modo diferente a decisão de apontar uma falta fora da área (peso-leve) e a decisão de apontar para uma grande penalidade (peso-pesadíssimo). Terá sido por isso que Jorge Sousa, no papel de árbitro-mentalista, leitor dos pensamentos de Jonathan Silva, entendeu não marcar penálti contra o Sporting quando, provavelmente, não teria hesitado em castigar com uma falta um lance idêntico que tivesse ocorrido a meio do campo.
Esta, portanto, é a minha interpretação benévola da não menos interpretação benévola que o árbitro fez do lance de Jonathan Silva na sua área. Leu-lhe os pensamentos e considerou o momento como fruto da casualidade e não da intenção.
Há, no entanto, quem tenha outras interpretações sobre os motivos que levaram o árbitro Jorge Sousa a poupar uma grande penalidade contra o adversário do FC Porto e logo na casa do Dragão, o que não é propriamente o pão nosso de cada dia das últimas décadas.
Correm duas teorias sobre o assunto.
A primeira está infectada de clubismo. Jorge Sousa não apontou para a marca de grande penalidade porque não suportou a eventualidade de um segundo falhanço de Jackson Martínez na cara de Patrício o que acarretaria forte contributo para a desmoralização do avançado colombiano que é, de longe, o melhor jogador da equipa. Trata-se de uma teoria, a meu ver, desprezível. Adiante.
A segunda teoria, a meu ver, já não é assim tão desprezível ainda que seja mais rocambolesca do que a primeira. Cá vai ela:
Terá caído mal a Jorge Sousa, embaraçando-o ao ponto de se recusar a marcar uma segunda grande penalidade contra o Sporting, o excessivo realismo das imagens divulgadas do convívio da Batalha, na véspera do jogo, evento de índole pedagógica que reuniu Pedro Proença, o Super Árbitro, e Fernando Madureira, o Super Dragão.
Tudo isto aconteceu sob o alto patrocínio da celebérrima APAF (Agremiação de Pavoneio do Azeite Forrobodó) a quem coube organizar o 13.º Encontro do Empreendedorismo Jovem, porque de pequenino é que se torce o pepino.
Na Batalha, com tanto flash a disparar para si, Pedro Proença encadeou-se e, contra aquilo que era a sua intenção, acabou por obrigar Jorge Sousa a desfavorecer o FC Porto ao proclamar a sua satisfação pelos elogios recebidos da parte do Jovem Empreendedor Madureira.
- Não é normal um árbitro ver o seu trabalho aplaudido por um chefe de claque!
- Oh, falsa modéstia! Oh grandíssima falsa modéstia! – terá pensado Jorge Sousa e por isso não apontou para a marca da grande penalidade. Há limites, caramba!
O Maicon é que se fartou de rir.

PELO que se viu o Sporting é a mais recente vítima da maldição do Guttmann. Pois se foi com a maldição do Guttmann que a nossa patriótica comunicação social justificou ao país a derrota do Benfica na última final da Liga Europa, só pode ter sido a sobredita maldição que, anteontem, impediu o Sporting de golear o Schalke 04 na Alemanha.
Pois é. Temos pena.

A minha simpatia pelo jogador Rúben Amorim, que não é menor do que a simpatia que nutro pelo cidadão Rúben Amorim e pelo benfiquista Rúben Amorim, leva-me a não o condenar pela presença no 13.º Encontro do Empreendedorismo Jovem organizado pela Agremiação de Pavoneio do Azeite Forrobodó. 
Rúben Amorim, que está a recuperar de uma lesão complicada, deslocou-se à Batalha na condição de para lá mandado pelo Benfica que, certamente, entendeu ser dignificante para as suas cores a presença de um seu representante na já referida soirée em prol da educação dos Empreendedores Jovens da dita APAF.
Caro Rúben, apenas um reparo: da próxima vez que alguém lhe pedir para ficar numa fotografia tenha o cuidado de, pelo canto do olho, verificar a constituição completa do plantel.
Caro Benfica, apenas uma questão: será que por este andar ainda te vamos ver, um dia destes, na mesma barricada estratégica da grande macacada no dealbar de uma guerra para eleger um presidente da Liga? 
Reparem como trato o Rúben Amorim, que não conheço, por você e como trato o Benfica por tu. Não é falta de respeito pelo maior de Portugal.
Eu digo:
- Carrega, Benfica!
Não digo:
- Carregue, Benfica!
Trato o Benfica por tu, passe o exagero, desde que nasci. Assim vou continuar até ao fim e recusando-me a colaborar nas festas da APAF. Há milhões iguais a mim, acho eu."

Leonor Pinhão, in A Bola

O Porto e Jesus

"Já escrevi o que tinha a escrever sobre Lopetegui: acho que está errado. A sua rotatividade funciona mal. Dir-se-á que outros também a fazem. Mas não é a mesma coisa: no Benfica, mesmo quando há rotação de jogadores, sabe-se qual é a equipa titular, enquanto no Porto reina a balbúrdia. Não se sabe quem são os titulares e os suplentes, nem se sabe bem quais são as posições dos jogadores. Ninguém se entende.
Entretanto, os adeptos do Porto insurgiram-se contra declarações de Jorge Jesus em que este substimou a Champions, dizendo que 'a prioridade é o campeonato'. Compreendo Jesus: o Benfica nunca ganhará a Champions e a vitória neste campeonato é mais importante do que nunca.
Porquê? Porque Pinto da Costa está de saída, e a derrota na Liga portuguesa pela segunda vez seguida pode significar o fim de um ciclo de 30 anos. Inversamente, a vitória do Benfica pode representar a reconquista da hegemonia no futebol português. Por isso, os portistas estão tão irritados com Jesus. Eles preferiam que não privilegiasse o campeonato - e desse uma oportunidade ao Porto...

No desespero de querer sair pela porta grande, Pinto da Costa deu carta-branca a Lopetegui para uma revolução de mentalidades e para constituir um plantel caríssimo. Mas o treinador pode estar a ser vítima dessa ambição. Tendo tantos e tão bons jogadores, Lopetegui foge a definir uma equipa-base, até para não ter estrelas a protestar por não serem titulares. E é isso mesmo que provoca a balbúrdia!
O momento decisivo está à porta. Para a sucessão de Pinto da Costa ser feita convenientemente, a equipa tinha de estar na mó de cima. Ora, estando na mó de baixo, o dragão pode ficar ferido de morte."


Felizmente só um pesadelo...


"Tive um pesadelo. Com tanto futebol por aí, fui sonhar com o mundo que o compõe e rodeia. Mas não havia humanos. Só pássaros. Que esvoaçavam em movimentos sinuosos: tordos, andorinhas, pardais, milhafres, abutres, corvos, cagarras, pelicanos, garças, gaviões, falcões, patos-marrecos, corujas, tentilhões, gralhas. Em bandos discutiam as suas ligas, apitos, disciplina, direitos de imagem em alta definição, fundos e fundas. Ora zangados, ora amuados, ora em estranhos conúbios. Mas preocupados com a quebra de alimento com fibras (ópticas) e grãos de espírito (santo). Tudo em alvoraço, num ambiente de fim de festa terrificamente esplendoroso.
Ao fundo, ouviam-se os chilreares, ora em catadupa descontrolada, ora entre-cortados por silêncios estranhamente comprometedores. Os voos eram altos ou rasantes, em função da transacção de poisos, melhores lugares nos ninhos, raminhos de cooperação, penas e penugens suspensas e vendettas mesquinhas.
Era alucinante a velocidade com que naquele céu plúmbeo, a regra virava excepção, a anomalia se tornava norma, o definitivo e o provisório se miscigenavam sem decoro. O que, no início do sonho, parecia nobreza de espírito foi-se metamorfoseando em batota, descarte e esperteza. Valia tudo porque já nada valia, numa iconografia de sucesso sem regras, onde medravam as mais afoitas aves. Quase no fim do sonho, li Fernando Pessoa: «os homens dividem-se em três categorias - os que nasceram para mandar, os que nasceram para obedecer, e os que não nasceram nem para uma coisa nem para a outra». E os passarões?
Foi então que acordei e respirei de alívio. Voltei à sereníssima realidade."

Bagão Félix, in A Bola