"Se eu fosse brasileira considerava o golo de Óscar um insulto maior do que o cabaz de sete acumulado perante os alemães.
QUANDO aos vinte e nove minutos do jogo entre brasileiros e alemães os alemães fizeram o 5-0 pensei:
- Só espero que este Júlio César nunca venha para o Benfica.
Isto vindo de uma pessoa, eu, que desde sempre nutre grande consideração pelo guarda-redes citado, desejando repetidas vezes vê-lo na Luz com a camisola número 1 do Benfica.
Volúvel é o coração dos adeptos.
Quando aos vinte e quatro minutos do mesmo jogo os alemães fizeram o 3-0 pensei:
- Era o que devíamos ter feito ao Sevilha.
Não há maneira de se ver um jogo de futebol, para mais desta magnitude, sem cair na tentação de comparar todos os seus detalhes com os detalhes de outros jogos já passados que, esses sim, nos disseram respeito.
E não só. O futuro também entra nestas considerações egoístas.
Quando o árbitro mexicano apitou para o intervalo, observando as expressões de estupor dos jogadores brasileiros no regresso ao balneário pensei com grande sentido de alívio:
- Ainda bem que o Talisca não pertence ao escrete.
A segunda parte não se adivinhava animada. Tivesse Joachim Low oportunidade e teria com certeza mandado entrar a equipa B da Alemanha. Tal como Jorge Jesus fez nos jogos decisivos das meias-finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal com o FC Porto mandando entrar a equipa B do Benfica.
Começou a segunda parte. Minutos depois de um comentador da RTP ter previsto que o jogo pendia muito mais para um golo brasileiro do que para um golo alemão, a Alemanha fez o 6-0 chegando à meia-dúzia quando ainda faltavam vinte minutos para o fim.
Não sendo brasileira mas por comiseração pensei que pena o Pinilla ter atirado aquela bola ao poste nos instantes finais do Brasil-Chile.
Com 6-0 liberta-se a imaginação. E que venha o apocalipse. É verdade que desejei o 7-0. E quando o 7-0 inevitavelmente chegou pensei:
- A Alemanha será para todo o sempre o Celta de Vigo dos brasileiros.
Reconfortada nesta paridade de emoções, só ao alcance dos maiores entre os maiores, desejei intensamente, por respeito ao historial do Brasil, que o resultado não sofresse mais alterações.
E que, sobretudo, o Brasil não se atrevesse a marcar o abominável tento de honra porque não pior, quando o desastre é épico, do que aquela coisa pífia, insensata e incolor de um tento de honra. Mas qual honra?
Talhado para a tragédia na tarde Belo Horizonte, já noite na Europa, o Brasil, insensato, incolor, contra toda a decência e compostura, atreveu-se mesmo a marcar o seu tento de honra aos noventa minutos.
Se eu fosse brasileira teria considerado esse golo tardio de Óscar um insulto maior do que o cabaz de sete golos acumulados nos anteriores oitenta e nove minutos de jogo.
No século passado, custou-me mais o golo solitário de Wando dos 7-1 de Alvalade do que o sofrido cabaz de sete perante o rival da rua.
Já este século presumo que para muitos adeptos do rival da rua, o golo solitário de João Moutinho em Munique tenha caído tão mal ou pior do que o sofrido cabaz de sete perante o Bayern Munique.
Basicamente era isto que vos queria dizer: sou contra os tentos de honra que sós nos fazem sentir pior.
Deus nos livre dos golos de honra!
UM guarda-redes é peça fundamental de qualquer equipa que se queira grande. A Costa Rica é o exemplo mais recente do sobredito. Foi graças a Navas que os costa-riquenhos chegaram aos quartos-de-final do Mundial e que chegaram também à decisão das grandes penalidades nos jogo com a Holanda.
Navas defendeu tudo o que havia para defender durante os noventa minutos do jogo em que a sua equipa, limitada em comparação com a concorrência, deixou a pele em campo para manter o 0-0 e resolver o apuramento nos penalties. A Costa Rica defendeu-se durante cento e vinte minutos e fez o seu único remate à baliza aos cento e dezoito minutos, chama-se a isto um exagero.
Seria escandaloso ver nas meias-finais de um campeonato do mundo uma equipa que só rematou uma vez à baliza contrária no jogo de qualificação? Seria. Mas os costa-riquenhos confiavam em Navas para os penalties. E eu também. Porque um guarda-redes inspirado é o que se quer nestas circunstâncias.
Van Gaal, no entanto, não foi em lotarias. Van Gaal atirou para jogo o guarda-redes suplente da Holanda e pontificou-se a ser crucificado, gozado, mal-tratado se, porventura, a coisa lhe corresse mal. Correu, no entanto, lindamente. Navas não segurou uma bola e Krul, fresco que nem uma alface, sem pressão alguma sobre os ombros, defendeu duas bolas e colocou a Holanda no seu devido lugar.
O que define o génio é ir à frente dos comuns mortais. Honra atirando-lhe com uma cara nova no momento da compita decisiva. Foi uma coisa nunca vista numa fase final de um Mundial. Mas não inédita em termos globais.
Honra, por isso, a André Branquinho, o jovem treinador português dos açorianos do Operário que, na primeira eliminatória da última edição da Taça de Portugal, fez exactamente a mesma coisa na eliminatória com o Salgueiros. Aos cento e dezoito minutos de jogo, adivinhando-se o desempate por penalties, mister Branquinho substituiu o guarda-redes titular Rui pelo guarda-redes suplente Bruno Costa que defendeu quatro bolas.
Chamaram-lhe maluco? Com certeza que chamaram. Também chamaram o mesmo a Van Gaal mas os factos vieram a dar-lhe razão tal como deram a André Branquinho ainda que com menos foco nacional e internacional. Um bom treinador, um treinador do outro mundo não tem medo que lhe chamem maluco. Até faz parte do pedigree.
Assistindo a estas coisas todas dois meses passados sobre a final da Liga Europa, em Turim, lamento que Jorge Jesus, a quem também chamem muitas coisas, não se tivesse lembrado de uma coisa destas, mirabolante, retirando Oblak da baliza e lançando Artur. Quem sabe se não daria resultado?
À distância só vejo virtudes numa decisão dessas. Ao contrário de Oblak, que não agarrou uma bola na decisão com o Sevilha, talvez estivesse escrito nas estrelas que Artur, tão infeliz no fim da temporada de 2012/2013, teria o seu momento de glória no fim da época de 2013/2014.
E, assim acontecendo, estaria agora o heróico Artur desaparecido do Seixal, a caminho do Atlético de Madrid e o Verão seria bem mais tranquilo para todos nós.
FUCILE, ao que tudo indica, nunca mais voltará ao FC Porto. Lá longe, do outro lado do Atlântico, deu uma entrevista e referiu-se assim ao clube que o projectou (pouco, convenhamos): «Aquilo é uma monarquia».
A meu ver nada de insultuoso o termo «monarquia». Não é por aí que os portistas devem ficar zangados com Fucile. Já apelidar de «aquilo» o FC Porto me parece bem mais digno de choque e incompreensão. «Aquilo»?
AQUI pelo nosso burgo, o futebol a sério ainda não arrancou. Nem a sério nem a brincar visto que nem começaram aqueles adoráveis joguinhos de Verão para matar saudades e para se chegar a conclusões, normalmente, precipitadas.
Apenas o FC Porto se estreou nestas compitas para treinador ver e para adepto se entreter brindando o Valadares por 9-0.
Resumindo: ainda não houve futebol, nem bola a correr, nem penalties, nem foras-de-jogo e o presidente do Sporting já soltou o seu primeiro «grito de revolta» da temporada. Assim veio definido na imprensa o discurso de Bruno Carvalho agastado com as notícias sobre entradas e saídas de jogadores, fruta da época, como todos sabemos. De Vieira e de Pinto da Costa não tem havido notícias mas de Bruno de Carvalho, sim, tem havido. «Dentro de 20 anos ainda vou cá estar!», diz. Melhor grito de revolta.
A Argentina é o Enzo Pérez e mais dez. Vi o jogo com os holandeses até perto dos oitenta minutos quando o treinador argentino tirou Enzo do jogo. Estava 0-0. Depois, francamente, não me interessa muito o que aconteceu."
Leonor Pinhão, in A Bola