sexta-feira, 6 de junho de 2014
A Noite e o Riso
"1. «A Noite e o Riso» é um belo romance de Nuno Bragança. Nele li pela primeira vez a expressão «a lucidez do riso».
2. Se me chamassem mentiroso com todas as letras, poderia dar-me vontade de rir mas não estaria lúcido. Das duas, uma: ou a acusação era por sua vez uma mentira, o que me causaria indignação; ou era verdadeira e provocar-me-ia embaraço e até vergonha. Riso é que nunca. A menos que fizesse da mentira um divertimento, o que é de garotos; a menos que fizesse da mentira um hábito, o que é de canalhas.
3. Não digo riso, mas um sorriso: o Azeiteiro-da-Cabeça-d'Unto promete abandonar a arbitragem se o Mundial correr bem. Vai correr, certamente. Deus (se é que ele existe, coisa que duvido muito) na sua infinita misericórdia não deixará que se perca uma tão boa oportunidade de tornar o futebol um jogo mais agradável.
4. Entretanto, o Senhor-de-Cócoras na sua infinita inconsistência (???) já se dá ao luxo de participar em eventos promovidos por clubes. Não será isto contra todas as regras de isenção? Que importa? No pântano do futebol português estar de cócoras é uma benção."
Afonso de Melo, in O Benfica
Semântica desceu aos regionais
"Ernest Hemingway dizia «em África uma coisa é verdade ao amanhecer e mentira pelo meio diz...». É com base nesta verdade mutante ou na capacidade de não reconhecer a mentira que alguns adeptos, de certos (todos) clubes conseguem concordar com as algumas declarações dos seus dirigentes.
Esta semana foi demais. O admitir o erro, a mentira ou o ridículo às vezes é até, para alguns desses adeptos, um acto de menor amor ao clube. Só assim se explica como tanta indigência gramatical nos últimos dias.
Bem sei que o defeso, para além de 487 notícias por hora sobre a lesão de Ronaldo e 674 possíveis compras e vendas de jogadores, não tem trazido grande pimenta.
Mal o nível da semântica desceu aos regionais. Como adepto espero sinceramente não perder tantos jogadores como se lê, mas com igual rigor espero não comprar metade do que anunciam.
Deixo aqui algum do meu primário registo de interesses afectivo: Enzo Pérez é de todos o que me custaria mais ver partir, é inteligência e perfume. Garay faz parte da melhor tradição de centrais de enorme classe do Benfica, na escola de Humberto, Mozer, Ricardo Gomes ou Gamarra. Passei a época a azucrinar a paciência do meu amigo Alcino António (cadeira do lado) que só daríamos o valor ao Siqueira quando ele faltasse. Espero não perceber nada disto. Luisão é o patrão, e ninguém gosta de perder o patrão. Gaitán é magia. Gostava muito de poder ter dez anos do gelo de Oblak. Maxi e Salvio são alma.
Este ano foi com inteligência, perfume, alma, magia e gelo que se conseguiram tantos títulos. Admito pois, que com alguns jogadores diferentes, mas os mesmos ingredientes, se chegue a êxito igual, mas admito sem vergonha o quanto me custa ver sair os melhores. Depois de chegar ao céu, ninguém gosta de sair de lá."
Sílvio Cervan, in A Bola
Falsificações
"1. Já há datas (18 e 20 de Julho) para a próxima edição da Taça de Honra, prova com algum historial e que a Associação de Futebol de Lisboa (AFL) recuperou na época passada. E foi então que se deu conta de uma grave falsificação histórica, que atribuía ao Sporting a conquista da sua 30.ª Taça de Honra, contra 19 vitórias do Benfica, 12 do Belenenses, etc.
Fonte: o site da AFL, que considerava que nos anos em que não se realizou esta competição, iniciada em 1914/15 e interrompida nos anos 20 e 30 do século passado, o vencedor seria o... campeão regional. Ou seja, uma prova contava por duas! Mais grave: esta 'invenção' não surgiu na época mas agora. Ao longo dos anos sempre se consideraram apenas as edições da Taça de Honra (36 anos do reatamento da época passada) e sempre se apresentou uma lista de vencedores liderada pelo Benfica, com 18 triunfos, contra apenas 11 do Sporting e 6 do Beleneneses. Em Julho de 2013, o jornal Record repôs a verdade mas a AFL não ligou (nada alterou no seu site). Se fosse eu a decidir, o Benfica não participaria na prova enquanto a verdade histórica não fosse reposta. E espero que a Direcção actue com firmeza e obrigue a AFL a emendar o seu grave erro. O Benfica tem 18 Taças de Honra (e não 19). O Sporting tem apenas 12 (com a do ano passado) e não 30!
2. A propósito: no Hóquei existe também uma falsificação de dados em termo de Campeonatos Nacionais e Taças de Portugal. Ao Benfica e ao Malhangalene são retirados os títulos de campeão nacional nas épocas de 1962/63 e 1963/64, substituídos por vitórias em denominadas Taças de Portugal. Acontece que a Federação resolveu chamar Taça de Portugal aos Campeonatos dessas épocas, os quais foram realizadas em 'poule' e em moldes totalmente idênticos aos Campeonatos anteriores e posteriores. E as Taças de Portugal, a eliminar, como sempre acontece, apenas começaram a realizar-se em 1975. Sei que o Benfica já expôs o assunto à Federação mas, que eu saiba, ainda sem consequências. Há que insistir até ser reposta a verdade histórica. O Benfica não pode ser roubado.
3. Grandes superioridade (18-3 nos despiques directos com o Sporting!) no Nacional de Atletismo (masculino), que ganhámos pelo 4.º ano consecutivo. E, tal como em 2013, fizemos o pleno: títulos nacionais de Estrada, Corta-Mato (longo e curto), Pista Coberta e Pista!"
Arons de Carvalho, in O Benfica
Glória
"O Benfica não é só Futebol e para além dos títulos conquistados este ano na mais popular das modalidades, o SLB sagrou-se também Campeão Nacional, com grande brilhantismo, Voleibol, Basquetebol - conquistando o tricampeonato - e no atletismo, modalidade superiormente dirigida no Clube, na qual a equipa masculina alcançou também o título de Vice-campeão da Europa.
O segundo lugar do Hóquei em Patins sabe a pouco e os adeptos interrogar-se-ão como foi possível perder na disputa do título a favor do Valongo, clube que os nossos venceram por 12-0 na penúltima jornada. A questão é que o Benfica não chegou ao título precisamente em Valongo, na primeira volta, derrotado não tanto pelo adversário mas por uma arbitragem carregada de erros todos para mesmo lado. A conquista dos títulos no Voleibol e Basquetebol consagra o trabalho de equipas técnicas e plantéis de grande competência e dedicação ao Benfica. O quarto lugar no Andebol foi decepcionante e no futsal a eliminação da equipa nas meias-finais do play-off, o que aconteceu pela primeira vez desde que a Secção de Futsal foi criada no Clube há 13 anos, foi humilhante. É de esperar que, à semelhança do que já aconteceu no Andebol, a direcção do Benfica arrume a casa no Futsal.
Para além destes resultados mais mediatizados, equipas femininas do Benfica venceram, entre outros troféus, o Campeonato Nacional de Hóquei em Patins, pela segunda vez consecutiva, a Taça de Portugal de Futsal, e o acesso à Liga Feminina de Basquetebol. Também nos escalões da formação, no Futebol e em diversas outras modalidades, o Benfica se sagrou Campeão Nacional ou Regional.
Todos estes e muitos outros atletas contribuem para a glória do Glorioso. Os Benfiquistas prestam-lhe as devidas homenagens."
João Paulo Guerra, in O Benfica
Novo ciclo
"A questão divide opiniões: pode um simples título, ou uma só temporada, determinar o início de um novo ciclo no futebol português? A resposta não é fácil. E, na verdade, a pergunta também não pode ser formulada deste modo.
Olhando de relance para as oito décadas de história que leva o campeonato nacional, podemos identificar alguns ciclos bem definidos, a par de algumas fases híbridas, de domínio repartido entre dois ou mais clubes. É fácil associar o final da década de quarenta, e o início dos anos cinquenta, ao Sporting dos “Cinco Violinos”. É igualmente linear o amplo domínio do Benfica de Eusébio, entre 1961 e 1975. De 1995 até 2009, foi o FC Porto a manter a hegemonia, não cabendo aqui dissecar os métodos pelos quais a atingiu.
Porém, para o espaço de tempo decorrido entre esses períodos, ninguém poderá cantar superioridade absoluta. Por exemplo, entre 1975 e 1995, Benfica e FC Porto venceram nove campeonatos cada um (o Sporting conseguiu dois títulos). Nesses vinte anos, tivemos um ciclo repartido, que sucedeu a um domínio benfiquista, e antecedeu a hegemonia portista.
Ora, o que as últimas cinco temporadas têm demonstrado – não somente pelos títulos, mas também pela força relativa das equipas – é precisamente um reequilibrar dos pratos de uma balança que há pouco tempo atrás pendia claramente para um dos lados. Em cinco épocas, o Benfica venceu dois campeonatos e ficou três vezes em segundo lugar, ao passo que o FC Porto venceu três campeonatos, quedando-se em duas ocasiões pelo terceiro posto da tabela. Em número total de pontos, a diferença é escassa, a favor do FC Porto. Em número de jornadas na liderança, a vantagem, também escassa, é benfiquista. Pode, assim, falar-se de equilíbrio.
É prematuro afirmar que estamos perante a alvorada de um ciclo de domínio encarnado (só um segundo título consecutivo poderia apontar nesse sentido), mas é um dado insofismável que o domínio absoluto do FC Porto já não existe.
Estamos pois num novo ciclo. Por agora…de equilíbrio."
Luís Fialho, in O Benfica