terça-feira, 29 de abril de 2014

Final em Turim sem a Juventus?


"A UEFA é fantástica. E trabalha bem. E depressa. Bastou uma reclamação da Juventus - esse paladino do fair-play - para que em Nyon se antecipasse em uma semana a reunião do Comité Disciplinar para julgar um lance, envolvendo Enzo Pérez, descortinado numa repetição televisiva do recente Benfica-Juventus. Não há memória de tanto zelo por parte da organização presidida por Michel Platini (que bela carreira fez ele pela Juve, 147 jogos, Bolas de Ouro, campeão europeu no Heysel Park...), que concedeu ao Benfica 24 horas para apresentar defesa. Provavelmente, bastaria aos encarnados, se tivessem tempo, mostrar mil lances daqueles que não receberam qualquer reparo a posteriori da UEFA. Em tempo útil, é duvidoso que o consiga...
Sejamos absolutamente claros. À UEFA não basta ser séria. precisa parecê-lo. E esta decisão em cima da hora, que objectivamente pode favorecer a Juventus, que por acaso tem por estádio a sede da final da presente Liga Europa, cheira a esturro à distância. Como se não bastasse terem enviado a Lisboa, para dirigir a primeira mão, um dos árbitros de maior confiança do italiano Pierluigi Collina, surge agora esta tentativa atabalhoada (mas, se calhar, eficaz, porque a justiça de Nyon nunca se prendeu com pormenores como a equidade ou os precedentes...) de tirar Enzo Pérez do jogo de Turim.
A vitória do Benfica sobre a Juventus, na passada quinta-feira, foi mal digerida pelos italianos que pareceram surpreendidos por verem posta em causa uma eliminatória que davam por garantida. Provavelmente por ter uma boa equipa - a caminho do terceiro scudetto consecutivo - que jogou bastante bem em Lisboa, aliás, à Vecchia Signora nunca passou pela cabeça falhar a final marcada para o seu estádio. Porém, esse cenário passou a tomar forma após a desvantagem na Luz, que só não foi pior porque o apito do turco Cuneyt Cakir teve um problema técnico, ficando sem som, quando Cáceres fez uma falta claríssima sobre Enzo Pérez, dentro da área bianconera, num lance que poderia dar o 2-0 para o Benfica. Já alguém imaginou o que seria uma final da Liga Europa, marcada para o estádio da Vecchia Signora, entre o Benfica e o Sevilha ou o Valência?
Do ponto de vista do clube italiano, que depois de ter sido despromovido à Série B em 2006 pelo pior caso de corrupção de que há memória no futebol - o calciocaos - tem vindo a regenerar-se e aponta agora aos holofotes da UEFA, seria uma tragédia. E do ponto de visita da UEFA? Manda o politicamente correcto que se diga que a UEFA não tem, nessa matéria, ponto de visita. Manda o senso comum que se diga que uma final em Turim sem a Juventus seria como ir a Roma e não ver o Papa."

José Manuel Delgado, in A Bola

Arrogância e despudor

"1. O futebol italiano vive em sobressalto. Encara como uma ignomínia que o seu ranking da UEFA possa ser superado pelo de um pequeno e arruinado Portugal. Para eles, tetracampeões mundiais, seria o auge da humilhação. Por isso, fazem cálculos às milésimas e concluem que, neste preciso momento, temos 0,455 de vantagem porque na próxima época deixarão de contar os pontos acumulados em 2009/10. Uma só frase de La Gazzetta dello Sport basta para avaliar o drama: «Fomos alcançados na classificação pelos portugueses, que nem sequer deveriam estar à altura de atar os atacadores das nossas chuteiras.» Parente este quadro tão chauvinista, é de crer que não faltarão milhares de preces à Virgem do Loreto para que quinta-feira a Juventus elimine o Benfica e conquiste a Liga Europa na final de 14 de Maio. Mais valia que as suas preocupações incidissem sobre a situação alarmante a que chegaram: só 34 por cento das transferências são feitas a título oneroso; a idade média dos jogadores é a mais elevada da Europa; os estádios (propriedade dos municípios em mais de 90 por cento) ameaçam ruína; vários clubes estão à venda ou já foram vendidos (Roma e Inter) e outros como o Milan procuram sócios endinheirados...
2. O futebol não merece os dirigentes que tem, gente corrupta e desonesta, desde logo nas altas instâncias da FIFA e UEFA. Platini lançou o pânico nos clubes europeus ao anunciar urbi et orbi a criação de um fair play financeiro que excluísse das competições europeias os clubes que contraíssem dívidas excessivas e passivos incapazes de pagar. O ano passado o Málaga e o Besiktas já pagaram por isso. Esperava-se que agora fosse a vez do PSG e do Man. City, mas não. Basta ver o que diz o roi: «Se esperais lágrimas e sangue ficareis desiludidos. Haverá penas duras mas não a exclusão das provas europeias»! Vejam até onde vai a hiperbólica falta de vergonha destes senhores a quem estamos entregues. A justiça para os pobres é uma e para os ricos é outra. Tudo isto é um enorme bluff."

Manuel Martins de Sá, in A Bola


Uma velha Julieta e um Romeu negro

"O interesse da Juventus em Eusébio em 1962 foi um caso que encheu páginas de jornais. Dinheiro grande! Dinheiro gordo! Vinte mil, trinta mil, cinquenta mil, cem mil contos!!!!

JUVENTUS outra vez. A semana passada falei daquele golo extraordinário de Eusébio à Juventus em Turim para a Taça dos Campeões, um pontapé quase de meio-campo, livre directo e imparável. Isso em 1968. Hoje falo da paixão que a Juventus sempre teve por Eusébio. Talvez não tão grande como a do Inter, e do histórico presidente Moratti, mas uma paixão que durou anos a fio.
Franklin Foer: jornalista norte-americano, editor no «New Republic», escreveu um livro interessantíssimo - «How Soccer Explains the World».
Franklin Foer: «A Juventus é conhecida pela alcunha da 'Velha Senhora', um nome estranho para uma equipa governada com tanto estilo por Gianni Agnelli. Exceptuando algumas 'estrelas' estrangeiras de grande qualidade que lhe deram, em certas ocasiões, uns laivos de futebol espectacular, a Juventus tem um estilo de jogo que não é mais do que a extensão dos seus maçadores uniformes pretos e brancos. A sua obsessão por tácticas defensivas deixa uma pequena margem para o erro e muito na mão dos árbitros».
Ah! Quem diria?
Por isso a Juventus é das equipas mais detestadas no Mundo. Sempre envolta em escândalos, em polémicas, condenada a descer de divisão por via de resultados combinados. Uma mancha muito negra num emblema a preto e branco.
A Juventus está aí, a jogar com o Benfica outra vez. E está também na memória de muitos de nós.
Por isso recordo. Recordo a paixão intensa de uma velha Julieta pelo Romeu negro Eusébio.
Vamos até 1962, por exemplo...

A propaganda italiana saiu de graça
FEVEREIRO. Fevereiro de 1962.
O Benfica era convidado para jogar em Itália, frente à selecção italiana. Cachet: 700 contos; despesas de deslocação e estada pagas para vinte pessoas durante três dias. Valores impressionantes. O jogo fica marcado para Milão, no dia 14 de Março. Os italianos vão ver Eusébio ao vivo. Afiança a imprensa que emissários da Juventus e do Inter estarão presentes, talvez com propostas em branco no bolso dos casacos.
Uma súbita febre de milhões parece trepar no mercúrio dos termómetros da Juventus, do Inter e dos jornais italianos e portugueses.
Como distinguir a verdade da mentira; a realidade da mistificação?
«Vinte mil contos, oferece a Juventus por Eusébio», diz-se à boca cheia.
Maurício Vieira de Brito, presidente do Benfica: «Fantasia. Nada mais do que fantasia. Já ouvi de tudo: oito, dez, quinze, vinte mil contos. Pois eu digo: o Benfica exige cinquenta mil. E se continuam com essa história, nada me custa passar para cem mil».
A Juventus desmente. Desmente de forma categórica.
Mas a seguir já não desmente tão categoricamente.
Depois, confirma. Finalmente revela, com requebros de Velha Senhora: tem interesse em Eusébio, mas Eusébio é caro demais.
Entretanto deixa correr tinta numa jogada publicitária. É um dirigente do clube de Turim, Barone Mazzonis, que confessa a estratégia: «Tenho que reconhecer que sim, que a Juventus gostaria de assegurar o concordo de Eusébio porque sabemos que se trata de um grande jogador. Mas não fizemos junto do Benfica nenhuma tentativa para negociar a sua transferência. O facto de os jornais portugueses, franceses, ingleses, espanhóis e italianos afirmarem que a Juventus está disposta a pagar vinte mil contos por um jogador, constitui uma tremenda propaganda para o nosso clube, pois só um clube muito rico e muito poderoso poderia pagar tão importante soma por um futebolista. De mais a mais, é uma propaganda que não nos custa um centavo. Logo, por que haveríamos nós de nos dar ao incómodo de o desmentir? Falem de trinta, quarenta, ou cinquenta mil contos. Quanto mais, melhor! Não mexeremos um só dedo para o desmentir».
Valores extremos para um tempo de pobreza. Eusébio no topo do Mundo. Namorado por uma senhora velha e rica..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Coragem, união e determinação

"Não existem receitas mágicas para se concretizarem objectivos. Mas que existe magia no Benfica, lá isso existe! Sociologicamente, a articulação dos factores sociais é um incógnita. Nada melhor do que a metáfora da Fig.I.
(-Você não tem vergonha de gostar destas músicas?
- Teria vergonha se deixasse os outros controlarem o que eu gosto.
...)
Psicologicamente a resiliência define-se como a capacidade que uma pessoa tem de interagir com os problemas, superando obstáculos ou resistindo à pressão de situações adversas sem que isoo lhe provoque caos psicológico.
Essa relação passa obrigatoriamente pela tomada de decisões emergentes da dicotomia entre a tensão envolvente do ambiente e a vontade de vencer. Essas decisões propiciam capacidade na pessoa para enfrentar a adversidade.

Contextualização, percepção, força, psicológica, capacidade de análise e entendimento persistência, vontade, anti-depressão, sorte e principalmente, coragem, 'lots and lots' de coragem!
Os parabéns são endereçados a todos sem excepção, mas que existe um, ou dois, que os tem bem colocados no lugar correcto, isso ninguém poderá negar!


E pluribus unum
Literalmente quer dizer «De muitos, um'.
Analisado por outro prisma, significa que as partes permitiram a existência de um todo único! As partes fomos todos nós, sem excepção e o todo único, é, obviamente, o Sport Lisboa e Benfica.
E curioso observar que o Grande Selo dos Estados Unidos, (em Inglês, Great Seal os the United Stades) que é utilizado para autenticar determinados documentos emitidos pelo governo dos Estados Unidos, ou seja, o equivalente ao nosso selo branco, tem o desenho que reproduzimos:
Lá está a inscrição E PLURIBUS UNUM.
Ninguém pode ficar indiferente ao reconhecimento que para as gerações vindouras, possa ficar aqui escrito no nosso Jornal para todo o sempre.
Qualquer leitor futurista, que leia, seja em que momento, forma ou modo for, terá acesso a esta frase indesmentível!
O Benfica foi Campeão Nacional de futebol de 2013/2014 e fica a devê-lo a todos os Benfiquistas, todos sem excepção, parafraseando o presidente: 'A vitória é de todos, mesmo dos que não acreditaram.'
Isto é o Benfica!
Uma lição para o presente, retirada do passado e com uma lança no futuro.
Nunca nos poderemos esquecer que somos todos diferentes, mas simplesmente, somos todos iguais numa coisa - no Benfica!
O momento em que sentimos que fazemos parte da mesma comunhão, esse é o momento mágico! Mítico!
Jamais nos poderemos esquecer que a luta continua e temos de continuar a 'batalhar' e a viver em função dessa luta e dessa crença. Os tempos que se avizinham não serão fáceis, mas creio que todos aprendemos com os nossos próprios erros cometidos.
Para a história ficará a bravura de um conjunto de Homens, pertencentes ao tal todo que sempre irei defender até à morte!
Há muito a aprender na vida e jamais alguém poderá dizer que é dono da verdade eterna e definitiva.
Mas existe uma verdadeira indesmentível - o Sport Lisboa e Benfica é afinal o que nos une, mesmo perante aqueles que não acreditaram!
Mas que eles existiram um, ou dois, que os tiveram bem colocados no lugar correcto, isso ninguém poderá negar!
A última diferença do Sport Lisboa e Benfica é que de todos rezará a História!
É isso que nos faz ser Benfica! Sempre!"

Pragal Colaço, in O Benfica

A cigarra e a formiga

"Filipe Vieira lutava e Pinto da Costa ironizava: primeiro, elogiou os «olheiros» do Benfica depois, deu chama à novela Jesus, cantando as virtudes do treinador encarnado.

OS bons resultados esfumaram-se e a confusão instalou-se na família do dragão. Julgo que ainda não se chegou à gritaria, mas o mal-estar é iniludível. Não só de agora, note-se. Os mais avisados pressentiram que transformação significativa estaria iminente em função da ostentação da cigarra, promovida pelo FC Porto, e do labor da formiga, desempenhado pelo Benfica, como na fábula. O que se pretendia proclamar como »princípio da imortalidade» tudo a leva a crer que tenha os dias contados, dando fôlego aos que sugerem o fim de um «ciclo» e o início de outro, justificando-se as aspas por causa de novas teorias sobre o verdadeiro significado do vocábulo. É por isso que prefiro a expressão «fim do império», no sentido da derrocada de um edifício que o poder de influências ergueu e o mérito desportivo manteve de pé. Como este emite claros sinais de debilidade verifica-se que, afinal, por debaixo dele, pouco se enxerga de suficientemente forte para amparar. os tais alicerces à prova de fenómenos da natureza que o projecto encabeçado por Antero Henrique, sob a bênção de JNPC, amparado na competência, no rigor e na disciplina, talvez não seja o que se pensava: nem tão competente, nem tão rigoroso, nem tão disciplinado. Beneficiou, sim, ao longo dos últimos anos, de uma conjuntura favorável à qual o «formigueiro» da Luz se tem oposto, com muita discrição, imenso sacrifício e cada vez mais segurança em cada passo que dá.

EM declarações à Renascença, António Figueiredo, antigo vice-presidente benfiquista, concordou com a aproximação do final do «ciclo» do FC Porto, o terceiro que testemunha: o do Sporting dos cinco violinos foi o primeiro e o do Benfica europeu o segundo. Adiantou também tratar-se de situação normal, desejando, dada a sua filiação clubista, que o seguinte liderado pelo emblema da águia.
À TSF, José Guilherme Aguiar, no tom ponderado que o define, reconheceu a má temporada portista e admitiu a eventualidade de uma transição de «ciclos». No entanto, colocou o acento tónico na hegemonia portista e essa não será beliscada pelo sucesso alheio, a não ser, sublinhou, que quadro idêntico ao actual se repita por vários anos, hipótese que rejeita.
Posição aproximada expressou Octávio Machado na Antena 1, com o senão de ver na linha de tiro da sua crítica o grande líder, considerando deselegante dizer-se que quando se ganha «é o Pinto da Costa» e quando se perde «são os jogadores, o treinador e os dirigentes».

POIS é, enquanto no «cigarreiro» do dragão se desfrutavam as mordomias geradas pela hegemonia futebolística e que aludiu José Guilherme Aguiar, no «formigueiro» da Luz, ou do Seixal, como se quiser, Luís Filipe Vieira projectava uma estrutura moderna e preparada para vencer os desafios de futuro, investindo em ousado plano a partir dos escalões de formação, com resultados já bem visíveis, embora pouco valorizados, ao mesmo tempo que dotava a área profissional de condições de excelência, no patamar dos mais ricos e poderosos.
Filipe Vieira lutava e Pinto da Costa ironizava: primeiro, elogiou o desempenho dos «olheiros» do Benfica a propósito dos «desvios» de Danilo e Alex Sandro, de Falcao e James Rodríguez; depois, deu chama à novela Jesus, nunca se cansando, de viva voz ou por terceiros, cantar as virtudes do treinador encarnado, em mal amanhado namoro de efeitos perversos.

VIEIRA aprendeu depressa com os próprios erros e nunca abdicou do seu caminho. Apenas foi agilizando a progressão.Sabe que para concretizar a sua enorme empreitada falta-lhe a última e mais sensível fase que visa recolocar a águia na rota dos títulos e das conquistas e devolver-lhe o lugar que lhe pertence por força da história: entre os grandes da Europa e do Mundo. Há comando, há equipa, há treinador, há tudo quanto é preciso para triunfar em todas as frentes. Era assim ontem e será assim amanhã: eis o Benfica de Vieira!"

Fernando Guerra, in A Bola

Benfica notável a jogar com dez

"Não pode deixar de ser curioso pensar que o Benfica, nos seus dois mais recentes sucessos no confronto com o FC Porto, impressionou mais a jogar com dez do que a jogar com onze. Tanto mais que em ambos os jogos, um na Luz e outro no Dragão, esteve em cada um deles cerca de uma hora em desvantagem numérica e utilizou sistemas diferentes para encarar e vencer essa enorme contrariedade.
Na Luz, o Benfica precisou de ser uma equipa de ataque para poder marcar os dois golos de que precisava para eliminar o FC Porto na meia final da Taça de Portugal; no Dragão, o Benfica soube ser uma equipa superdefensiva para evitar que o FC Porto marcasse na meia final da Taça da Liga.
Em ambos os casos, o Benfica eliminou o FC Porto. Apesar de ter apenas dez jogadores, marcou os dois golos na Luz de que precisava para se qualificar para a final; e embora tivesse apenas dez jogadores no Dragão controlou toda a segunda parte e impediu que o FC Porto marcasse, levando a decisão para onde queria: os penaltis, que lhe viriam a ser favoráveis.
Os dois diferentes sistemas arquitectados por Jesus foram, de facto, notáveis e a verdade é que se torna difícil escolher qual o que mais devemos elogiar, se a surpreendente dinâmica ofensiva da equipa da Luz, se a excelente qualidade e solidez defensiva, conseguidas à custa de duas linhas muito próximas, que bloquearam o ataque portista no Dragão.
Dito isto, algo de não menos decisivo nos dois jogos: mentalidade, diversidade e rigor na equipa de Jorge Jesus; Desorientação, previsibilidade e desunião na equipa de Luís Castro. E o que ainda impressionará mais nesta evidência é a maneira como, num ano apenas, tudo ficou no avesso."

Vítor Serpa, in A Bola