terça-feira, 29 de abril de 2014

A cigarra e a formiga

"Filipe Vieira lutava e Pinto da Costa ironizava: primeiro, elogiou os «olheiros» do Benfica depois, deu chama à novela Jesus, cantando as virtudes do treinador encarnado.

OS bons resultados esfumaram-se e a confusão instalou-se na família do dragão. Julgo que ainda não se chegou à gritaria, mas o mal-estar é iniludível. Não só de agora, note-se. Os mais avisados pressentiram que transformação significativa estaria iminente em função da ostentação da cigarra, promovida pelo FC Porto, e do labor da formiga, desempenhado pelo Benfica, como na fábula. O que se pretendia proclamar como »princípio da imortalidade» tudo a leva a crer que tenha os dias contados, dando fôlego aos que sugerem o fim de um «ciclo» e o início de outro, justificando-se as aspas por causa de novas teorias sobre o verdadeiro significado do vocábulo. É por isso que prefiro a expressão «fim do império», no sentido da derrocada de um edifício que o poder de influências ergueu e o mérito desportivo manteve de pé. Como este emite claros sinais de debilidade verifica-se que, afinal, por debaixo dele, pouco se enxerga de suficientemente forte para amparar. os tais alicerces à prova de fenómenos da natureza que o projecto encabeçado por Antero Henrique, sob a bênção de JNPC, amparado na competência, no rigor e na disciplina, talvez não seja o que se pensava: nem tão competente, nem tão rigoroso, nem tão disciplinado. Beneficiou, sim, ao longo dos últimos anos, de uma conjuntura favorável à qual o «formigueiro» da Luz se tem oposto, com muita discrição, imenso sacrifício e cada vez mais segurança em cada passo que dá.

EM declarações à Renascença, António Figueiredo, antigo vice-presidente benfiquista, concordou com a aproximação do final do «ciclo» do FC Porto, o terceiro que testemunha: o do Sporting dos cinco violinos foi o primeiro e o do Benfica europeu o segundo. Adiantou também tratar-se de situação normal, desejando, dada a sua filiação clubista, que o seguinte liderado pelo emblema da águia.
À TSF, José Guilherme Aguiar, no tom ponderado que o define, reconheceu a má temporada portista e admitiu a eventualidade de uma transição de «ciclos». No entanto, colocou o acento tónico na hegemonia portista e essa não será beliscada pelo sucesso alheio, a não ser, sublinhou, que quadro idêntico ao actual se repita por vários anos, hipótese que rejeita.
Posição aproximada expressou Octávio Machado na Antena 1, com o senão de ver na linha de tiro da sua crítica o grande líder, considerando deselegante dizer-se que quando se ganha «é o Pinto da Costa» e quando se perde «são os jogadores, o treinador e os dirigentes».

POIS é, enquanto no «cigarreiro» do dragão se desfrutavam as mordomias geradas pela hegemonia futebolística e que aludiu José Guilherme Aguiar, no «formigueiro» da Luz, ou do Seixal, como se quiser, Luís Filipe Vieira projectava uma estrutura moderna e preparada para vencer os desafios de futuro, investindo em ousado plano a partir dos escalões de formação, com resultados já bem visíveis, embora pouco valorizados, ao mesmo tempo que dotava a área profissional de condições de excelência, no patamar dos mais ricos e poderosos.
Filipe Vieira lutava e Pinto da Costa ironizava: primeiro, elogiou o desempenho dos «olheiros» do Benfica a propósito dos «desvios» de Danilo e Alex Sandro, de Falcao e James Rodríguez; depois, deu chama à novela Jesus, nunca se cansando, de viva voz ou por terceiros, cantar as virtudes do treinador encarnado, em mal amanhado namoro de efeitos perversos.

VIEIRA aprendeu depressa com os próprios erros e nunca abdicou do seu caminho. Apenas foi agilizando a progressão.Sabe que para concretizar a sua enorme empreitada falta-lhe a última e mais sensível fase que visa recolocar a águia na rota dos títulos e das conquistas e devolver-lhe o lugar que lhe pertence por força da história: entre os grandes da Europa e do Mundo. Há comando, há equipa, há treinador, há tudo quanto é preciso para triunfar em todas as frentes. Era assim ontem e será assim amanhã: eis o Benfica de Vieira!"

Fernando Guerra, in A Bola

2 comentários:

  1. Um comentàrio apenas: o subscritor
    do artigo, o chamado f.guerra, vi-
    rou de bordo no que concerne Jorge
    Jesus??? que ele teimou sempre em
    ver antes como arruaceiro do que alguém que tem o coração na boca...!Jesus expôs-se a jeito para ser criticado, é certo, mas o chamado f.guerra operou um autêntico assassinato jornalïs-
    tico sobre o nosso treinador, a raiar a histeria, acerca dos incidentes que se conhece; ao invés, não foi mesmo nada contundente para com
    outros 'artistas' do nosso fu-
    tebol, em circunstâncias anàlo-
    gas... não se sabe porquê. Imagino
    o que saïria da caneta do chamado fguerra se o Jorge Jesus
    não tem tido a época brilhantïs-
    sima que teve...

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  2. Tens toda a razão. Eu cheguei a escrever alguns post's acusando o Fernando Guerra de 'loucura' anti-Jesus!!!
    Chegou a passar em muitas ocasiões o limite do razoável... pura obsessão doentia anti-Jesus!!!

    Mas agora, teve que 'acalmar', mas ao primeiro resultado negativo, vai voltar ao habitual...

    PS: Sobre o conteúdo deste post, eu por acaso também discordo da insinuação do Guerra. O Benfica só ganhou 1 campeonato, e os Corruptos só perderam um campeonato. Falar em fim de Ciclo, ou num novo Ciclo, é prematuro, muito prematuro...

    Abraços

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