quarta-feira, 16 de julho de 2014

Vermelho!

"Quase aposto que a maior parte das pessoas desaprovariam o comportamento dum polícia no seguinte cenário: pelas sete e meia da manhã, o agente apanha um carteirista com a mão na massa a roubar a reforma de uma senhora; dirige-se ao homem e com o dedo em riste diz-lhe: «eu vim bem o que o cavalheiro fez e olhe que isso dá prisão, aviso-o já. Fique a saber que se voltar a apanhá-lo vou ter de detê-lo. Vá lá, devolva à senhora o dinheiro e porte-se bem o resto do dia». Depois de deixar o turno, diria ao colega que o acompanhava: «viste, não estragámos o dia com aquela detenção logo ao início da manhã e depois até correu tudo bem».
Se não digo «todas as pessoas desaprovariam o comportamento do polícia» é porque presumo que muitos árbitros de topo o aplaudissem. Não que mo tenham dito, mas pelo que demonstram actuando de forma complacente para com os futebolistas que tantas vezes deviam ser expulsos e safam-se com um dedo em riste ou um cartão amarelo por algo que se fizessem aos 88 minutos os mandaria mais cedo para o duche.
Escrevo estas linhas tendo por pretexto o Mundial e o inacreditável perdão de expulsão a Thiago Silva, do Brasil, por derrubar um holandês que seguia isolado aos dois minutos do jogo de atribuição do terceiro lugar.
Se eu fosse jogador da Holanda garanto que muito me teria zangado: queria lá eu saber de o jogo ser bonito... Só queria que as regras fossem cumpridas e, se um adversário fez infracção que vale expulsão, jogar com 11 contra 10 durante 88 m. Sim, da mesma forma que quero que o carteirista seja detido se apanhado (basta uma vez) em flagrante.
De uma vez por todas, senhores árbitros: os jogos de futebol não são património da humanidade nem os jogadores espécies em vias de extinção. A estúpida mania de não expulsar nos instantes iniciais de um jogo só porque se está precisamente nos instantes iniciais de um jogo é apenas uma estúpida mania.
E um jogo de futebol - mesmo daqueles a que milhões de pessoas gostam de assistir - é sobretudo um confronto entre 22 homens. Só respeitar as regras é respeitá-los a todos."

Nuno Perestrelo, in A Bola

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