segunda-feira, 28 de julho de 2014

E que tal termos uma Liga rentável?

"Ter os bancos como parceiros de jornada é, no futebol português, 'chão que deu uvas'. Os próximos tempos dirão mais sobre este tema...

O futebol europeu está a mudar a uma velocidade alucinante e quem não perceber o que passa à frente dos olhos vai ficar, sem remédio, para trás. De uma forma pensada e sustentada, vários clubes estão a munir-se de super-plantéis, capazes de encarar as múltiplas competições que têm pela frente. Nesta altura, esses emblemas já estão vários degraus acima dos outros e não será de estranhar que o alargamento do fosso entre uns e outros venha a terminar num novo formato competitivo no seio da UEFA, onde todos serão iguais, mas uns serão mais iguais que os outros.
Há clubes, nesta lista, com uma capacidade extraordinária para angariar receitas - Manchester United, Barcelona e Real Madrid são bons exemplos disso mesmo -, outros aparecem propulsionados por mecenas, árabes e russos, essencialmente - Chelsea, Manchester City, PSG e Mónaco - e surgem ainda os alemães, com o Bayern como chefe-de-fila, que beneficiam de uma organização afinadíssima que lhes permite gerar uma riqueza assinalável. A caminho, embora sem a consistência necessária, nesta fase, estão alguns emblemas russos, onde o dinheiro também não é problema. Estes são os novos donos da bola, aqueles que vão mandar de forma muito nítida no futebol europeu.
Que papel estará, neste contexto, reservado aos clubes portugueses? Se se mantiver o nível de indiferença perante a indústria do futebol, como um todo, a resposta é inevitável: de corpo presente.
A Liga está em fanicos - o que está a acontecer é surreal - e ou os clubes levam à prática as boas intenções enunciadas na última reunião patrocinada pela FPF, ou o declínio (que se acentua à medida que se alargam, na Europa, as diferenças entre os muitos ricos e os outros) será vertiginoso.
Há pouco mais de uma ano, passou-se boa parte da campanha eleitoral do Sporting a discutir entidades bancárias. Percebe-se hoje como as coisas deram uma volta de 180 graus e o que parecia determinante então, hoje é carta fora do baralho para todos os clubes portugueses. Bater à porta dos bancos, tê-los como parceiros é, no futebol português, chão que deu uvas. Os clubes, por uma questão de sobrevivência, precisam de encontrar uma plataforma comum credível (que não se esgote nos penalties e nos foras-de-jogo) capaz de chamar patrocínios e levar adeptos aos estádios. Modelo para isso? Basta por os olhos na Alemanha onde a entidade mais prestigiada do país, com um nível de aprovação acima do Bundestag, ordens profissionais ou Tribunais, é a DBF (Federação Alemã de Futebol). E sigam a filosofia de quem, sem hipotecar a soberania, foi capaz de fazer do futebol um negócio pujante.

PS - As clivagens no seio da arbitragem são preocupantes. Caminham para a rotura?

(...)"

José Manuel Delgado, in A Bola

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