segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Papas

"1.Que o respeito é coisa bonita, todos o aprendemos no tempo da mestra palmatória, mas quando o respeito descamba em subserviência provoca asco. Se o presidente do Sporting resolve sugerir alterações no reino há muito podre da arbitragem portuguesa, o Senhor de Cócoras levanta a voz, indignado, desvalorizando a intenção; se o presidente do FC Porto apouca um árbitro, atirando-lhe sobre os ombro as frustrações recentes de derrotas dolorosas, o Senhor de Cócoras cala-se: respeitosa e subservientemente. Por isso continua de cócoras.

2. Na época passada a Taça da Liga viu-se a contas com uma tranquibérnia por causa de um jogador que não podia ser utilizado mas depois já podia, gastando-se tempo e paciência num caso que estava resolvido antes de ter acontecido, não fossem os protagonistas os suspeitos do costume. Nesta época, a Taça da Liga vê-se a contas com uma tranquibérnia de minutos de atraso, gastando-se mais uma vez tempo e paciência num caso que já está resolvido antes de o ser, não fossem os protagonistas os suspeitos do costume. Há que reconhecer que, embora desvalorizando o troféu, os dirigentes do FC Porto jogam mão de todos os instrumentos ao seu alcance para chegarem pelo menos às meias-finais.

3. Indeciso nas suas funções, entre dirigentes, treinador ou adepto, o presidente do Sporting começa a perceber de uma forma dolorosa que não basta falar muito e ter voz grossa. Estivesse ele estado mais atento em Penafiel em vez de fazer esforços sobre-humanos para aparecer na televisão abraçado aos jogadores, ofuscando o injustiçado Paulinho, e talvez o Madaleno não lhe tivesse comido as papas da cabeça. Algo que lhe deve ter sabido, naturalmente, a ginjas."

Afonso de Melo, in O Benfica

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