quinta-feira, 7 de março de 2013

Crédito zero

"Quando um banco decide riscar o futebol da lista de clientes de crédito, está a reconhecer dois factos. O primeiro é o de que os clubes pertencem, perdoem-me a expressão, ao mundo dos caloteiros. O segundo é o de que, além de mais, são perigosos: que banco manda executar um clube e corre o risco de reputação junto da sua massa associativa? Nenhum.
É difícil perceber como há bancos que emprestaram tanto dinheiro a clubes que ficariam falidos. Mas assim foi, o que demonstra também incompetência desses bancos. Há muitos casos perdidos, sendo o maior deles o Sporting. Por isso se fala há muito de uma reestruturação da dívida, que é uma forma educada de dizer “perdão”. E por isso Luís Filipe Vieira saiu a terreiro dizendo que se o Sporting tiver perdão de dívida, o Benfica também quer.
Vieira é esperto que nem um alho e, para mais, tem razão: se um clube (ou uma empresa) quebra e é perdoado, então a sua má gestão é compensada, em detrimento de quem geriu sem ajudas. Mas a reclamação de Vieira também trará água no bico: ao Benfica não caía mal uma folga da banca. O clube da Luz, além de ter o maior passivo bancário, tem também sido forçado a reduzi-lo, o que tem feito através de receitas de jogadores vendidos e através de emissão de obrigações (cujo encaixe na prática serve para pagar dívida aos bancos).
O Benfica anda de peito feito mas tem uma dívida atrelada aos pés que tem de gerir com cuidado. Nesse sentido, o investimento na Benfica TV agora reforçado com a inesperada compra de direitos da liga britânica parece ser um passo entre a coragem e a loucura. Porque ou o Benfica tem aliados por ora desconhecidos, ou a guerra aberta à Sport TV pode até ser vencida, mas custará balúrdios antes de gerar lucro. Disso seremos espectadores. Atentos."

Benfica TV

"Já aqui escrevi sobre a decisão corajosa de o Benfica cortar com o protectorado monopolista dos direitos televisivos, com assinaláveis implicações no coração do sistema.
Sabemos agora mais: que a Benfica TV vai sair do seu casco e transformar-se num canal pago. E que já assegurou os direitos da Liga Inglesa para as próximas épocas.
Uma estratégia sedutora e certeira, dada nos propósitos e bem delineada nos pressupostos. Mas contendo uma não negligenciável dose de risco, sobretudo pelo momento do seu arranque. Tempos de retracção económica, de rarefacção do mercado publicitário, de desemprego, de diminuição do rendimento familiar.
Li que o valor mensal de assinatura do canal não será superior a 10 euros. Partindo deste valor, 200.000 assinantes darão uma receita anual de 24 milhões de euros, montante superior ao oferecido pelo actual detentor de direitos e não considerando as receitas com publicidade.
Há risco de não se atingir tão rapidamente este número de assinantes? Sim. Primeiro, porque assinante quer dizer famillas ou estabelecimentos e não pessoas individuais, o que torna o objectivo mais difícil. Segundo, porque apesar de uma mais rica e diversificada oferta, o canal continuará a ser visto como hostil pelos adeptos dos rivais. Terceiro, porque a subscrição da Benfica TV não implica necessariamente que se saia de outros operadores (jogos do SLB fora de casa ou na Europa e outras competições), pelo que o custo pode ser cumulativo para os assinantes, pese embora a provável desvalorização e preço da Sport TV.
Se tiver êxito – como espero - é bom para o meu clube... e para a verdade desportiva."

Bagão Félix, in A Bola

Tudo mudou

"Há um mês, o FC Porto revelava uma pujança impressionante, parecendo imparável na caminhada para o título, enquanto o Benfica dava mostras de uma quebra física e exibicional.
Há um mês, o Barcelona passeava-se no campeonato espanhol, com 16 pontos de avanço, e o Real Madrid era humilhado. Messi acabava de conquistar pela quarta vez o ceptro de melhor do Mundo, batia recordes atrás de recordes, enquanto Ronaldo roía as unhas.
Um mês depois, o Benfica está com 2 pontos de avanço na Liga, o Real Madrid venceu duas vezes o Barça em quatro dias, Ronaldo agigantou-se e Messi apagou-se.
Isto mostra a imprevisibilidade do futebol – e devia aconselhar calma aos mais exaltados. No ano passado, Jesus foi crucificado por deitar a perder 5 pontos de avanço em relação ao Porto. Ora, quando nada o fazia prever, o Porto perdeu de repente 4 pontos neste campeonato.
O futebol é isto. Não vale a pena procurar bodes expiatórios. E só há um modo de os clubes crescerem de forma sustentada e chegarem aos títulos: com serenidade e estabilidade.
O FC Porto é o exemplo máximo disso: tem um presidente há 30 anos e os resultados vêem-se. O Benfica está no bom caminho, e nas últimas épocas recuperou muito terreno em relação ao Porto. Quanto ao Sporting, espero que aprenda estas lições – e dê tempo à próxima direcção  dê tempo a este treinador, para se consolidarem processos, rotinas, padrões de jogo.
Só com estabilidade se alcançam vitórias. A instabilidade gera necessariamente uma “espiral recessiva”, de que o Sporting foi este ano a grande vítima. O Sporting é hoje a prova mais eloquente dos malefícios da instabilidade interna."