sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Pé e chinelo

"Algo tem distinguido, de há muitos anos, aqueles que servem de bandeira ao clube do regime corrupto, sejam eles treinadores de boina aos quadrados enterrada na cabeça ou dirigentes amancebados com meninas de pouco preceito: a falta de educação e o baixo nível. À desonestidade intelectual da maioria destes figurões, que copiam bocados de livros com o à vontade de quem bebe um copo de água fresca e gerem equipas à custa de favores de arbitragem como se houvesse nisso algum mérito, junta-se uma ordinarice muito própria - ia quase escrever muito castiça - que os faz tratarem-se, entre amigos do peito, como «meu grande filho da puta», desculpem lá, mas assim mesmo, tal como testemunhado em tribunal por inopinado palhaço pobre que nunca teve graça nem faz rir embora esboce sorrisos naqueles que são pagos para lhe humedecerem as mãos com baba bovina dos medíocres. É o pé e o chinelo que por ele chama.
Uns dizem-se escritores à custa da imaginação alheia, outros são merceeiros afeminados que parecem atender os clientes de pijama. Há também baladeiros de melena oleosa e banqueiros com os cérebros malinados por doenças degenerescentes. Há de tudo menos educação nessa gentinha barraqueira que usa páginas de jornais e microfones para dar largas a uma insuportável bigorrilha que no tempo do velho Eça seria corrida a bangaladas à porta da Baltreschi. E quando a semana é de mau vento, trazendo-lhes as palavras a público como borbotões de vómitos, o Futebol fede. Mas fede de alto a baixo, até que abanem as estruturas do seu edifício podre, reles e depravado.

P.S. - Ao ver o Madaleno agitar o telefone, fiquei convencido de que iria mostrar as chamadas que costuma fazer para os presidentes do Conselho de Arbitragem. Afinal era só mais uma figura triste. La está: escorrega-lhe facilmente o pé para o chinelo..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Com a força dos ventos do Destino!

"A terrível derrota de Nuremberga, o Benfica respondeu com uma das mais brilhantes exibições da sua história. Aos três minutos já a eliminatória estava virada... Durante os restantes 87 minutos, o campeão alemão sofrer uma humilhação sem igual.

A semana passada deixámos o Benfica na Alemanha. Era, na verdade, a primeira visita dos 'encarnados' à Alemanha, em Fevereiro de 1962, e recordá-la faz sentido agora que, mais de 50 anos depois, o Benfica se prepara para regressar à Alemanha, desta vez a Leverkusen, para jogar uma eliminatória da Liga Europa.
Em Nuremberga, como se recordarão, o Benfica Campeão Europeu viu-se confrontado com um frio terrível, com um relvado que parecia uma placa de gelo e com um adversário pleno de brio decidido a obter uma das vitórias mais retumbantes do seu historial. E consegui-o. Belá Guttmann, ao pisar o terreno do jogo previu uma catástrofe. E esta catástrofe aconteceu: o Benfica saiu de Nuremberga vergado ao peso de uma derrota dura: 1-3. Mas nem por isso moralmente derrotado. Treinador, jogadores, dirigentes, acreditavam na reviravolta de Lisboa. Acreditavam profundamente que o Benfica era infinitamente superior ao campeão alemão.
Na Baviera, apesar da vitória, morava o receio. «Espera-nos um ambiente terrível! Serão mais de setenta mil gargantas a empurrar o Benfica no Estádio da Luz!»
No dia 22 de Fevereiro, a Luz encheu. Era uma quinta-feira. No fim-se-semana anterior, o Benfica deslocara-se à Covilhã e perdera, por 1-2, com o Sporting local. Não havia, por isso, motivo para optimismos acrescidos. No entanto, a crença não quebrava. E foi um dia de fé, entusiasmo a vibração.
Decididamente, os alemães nunca tiveram consciência do que os esperava na noite excitada de Lisboa. Recebidos com aplausos na sua entrada em campo, não imaginavam a tempestade que lhes caíria em cima. E a tempestade tinha nomes: Costa Pereira; Ângelo, Mário João, Germano e Cruz; Coluna e Cavém; José Augusto, Eusébio, José Águas e Simões. Nomes que ainda hoje fazem tremer as vidraças da História...

Um início devastador!
Três minutos! Três minutos foram suficientes para que o Benfica recuperasse da terrível desvantagem que trouxera da pista de esqui que fora o estádio do Nuemberga. Logo no minuto inicial, José Águas, num golpe de cabeça formidável, fez 1-0. Dois minutos depois, Eusébio, num remate potente, colocou o Benfica na frente da eliminatória.
Os setenta mil adeptos que enchiam a Luz nem queriam acreditar no que os seus olhos viam: o Benfica reduzia a pó o campeão da Alemanha e ainda havia mais 87 minutos para jogar. Até onde iria a voracidade dos jogadores 'encarnados'? De que tamanho seria a humilhação do Nuemberga? Não tardariam a afastar todas as dúvidas. Foi uma completa hora e meia de futebol da mais alta qualidade. Fantasia e sonho: soberbos e arrebatadores. Velocidade estonteante em todos os movimentos, dribles em progressão, remates súbitos e explosivos. Os alemães, após o soco inicial, tentaram recompor-se. Sem argumentos para disputar a partida a toda a extensão do campo, recolhem-se na frente da sua baliza na tentativa de evitar um descalabro de proporções homéricas. Debalde. A força do ataque do Benfica cai sobre eles um pontapé tremendo que leva a bola a esbarrar na trave. Aos 20 minutos, novo remate fortíssimo, desta vez de Coluna: a bola ainda resvala na perna de um contrário antes de entrar na baliza do guarda-redes Strick.
O 4-0 já surge após o intervalo, aos 55 minutos. Um lance individual de Simões que progride em dribles antes de colocar a bola na frente de Eusébio que com o pé esquerdo faz um golo monumental. O Benfica não refreia os seus ímpetos. Os jogadores 'encarnados' sentem que estão de braço dado com a lenda e exigem de si mesmos uma exibição que marcará para sempre a vida do Benfica. José Augusto faz o 5-0 (63 minutos) e o 6-0 (78 minutos) em lances individuais. Por mais de uma vez o campeão alemão está à beira de uma derrota de proporções inimagináveis.
A catástrofe anunciada por Béla Guttmann para Nuremberga virara-se contra os alemães com a violência dos ventos do destino... O Benfica ia na calha da sua segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus."

Afonso de Melo, in O Benfica

FC Porto foi capaz de empatar na Luz

"O resultado do Benfica-FC Porto é muito melhor para os dragões do que para as águias.
O Benfica queria ganhar e não conseguiu. O FC Porto só não queria perder e conseguiu. A euforia de Vítor Pereira no final da partida dizia tudo.
O Benfica tentou dominar o jogo, enquanto o FC Porto tentou controlar. O FC Porto esteve sempre mais perto do seu objectivo.
Mesmo sem rematar à baliza encarnada e com um canto em 90 minutos, o FC Porto fez o que queria e não perdeu.
Bem sei que muitos benfiquistas dirão, com razão, que não fosse a asneira de Artur ou a bola na trave de Cardozo e tudo seria vermelho.
Mas o futebol não tem ses, e a realidade mostra um FC Porto capaz de empatar na Luz. Parabéns!
A alegria dos portistas pelo empate é uma razão de esperança para nós benfiquistas.
O desespero das nossas hostes por empatar é uma razão de alento. Já não nos basta senão aquilo que nos é devido.
Matic é um monstro, um jogador sem adjectivos, um super-homem. Como adepto espero que a renovação não sirva para o vender mais caro e seja suficiente para o manter.
Jorge Jesus lançou a partida de ontem com a Académica em bases correctas, pois os adeptos benfiquistas suspiram por chegar e vencer no Jamor.
Em Coimbra estiveram, frente a frente, a equipa detentora da Taça de Portugal contra aquela que mais vezes a ganhou. Com esta qualidade é bem possível que Jorge Jesus devolva o Jamor aos adeptos encarnados, foram quatro e podiam ter sido mais.
Segunda-feira a competição é outra mas a ambição é a mesma. O primeiro tem de vencer o último para continuar a ser primeiro."

Sílvio Cervan, in A Bola

Editorial

"No 'aquecimento' para o jogo do domingo passado, valeu de tudo na comunicação desportiva. Mas, assustador, mesmo, foi o grau de despudorado regionalismo clubista a que chegou a chamada RTP 'informação'.
O canal de notícias no cabo da Rádio e Televisão de Portugal, apesar de praticamente feito à custa do dinheiro de todos os contribuintes portugueses, está a preferir reduzir-se a si próprio à dimensão de uma mera estação local, provinciana e vesga, no no persistente benchmarkting com que escolhe comparar-se ao canal do FCP e ao jornal O Jogo.
Afinal, o desafio foi bem disputado, espalhando o equilíbrio entre as duas equipas, ambas desfalcadas de jogadores essenciais. Realmente, um grande jogo em que, por vezes, tive aquela sensação dantes relativamente comum, de que os atletas agiam mais por conta própria do que seguindo rigidamente estratégias traçadas pelos treinadores.
Nada justifica, a meu ver, a desgravatada rabularia do treinador portista no fim do match. Mas, como se sabe que naquele papel nunca são eles que ali mandam, toda a gente percebeu que antes de lhe ligarem as câmaras, o pobre, desta vez, terá recebido ordem expressa do dono para fugir para a frente a desatar aos berros contra o árbitro. Lá diz o povo, 'dono e foice, cavalo e coice'.
Um e outro perderam as estribeiras e mandaram às urtigas o que ainda dias antes, haviam postulado sobre comentários acerca de arbitragens. Fez bem em Lembrá-lo, no fim das contas, o presidente Luís Vieira.
Quando parece estar para breve o anúncio da decisão sobre a queixa de abuso de posição dominante da Olivedesportos quanto à compra dos direitos, já se fala de uma nova demanda à Autoridade da Concorrência acerca da legalidade, ou presumida falta dela, no contexto do inopinado maneja-a-três, com que se pretendem enroscar numa mesma cama, as conveniências da PT, da ZON e da Olivedesportos.
Se o bom senso e a honradez não tiverem desaparecido por completo das instâncias do poder e da justiça, não hão-de durar muito mais tempo, a oligarquia e a impunidade que têm regido os cenários do Futebol português."

José Nuno Martins, in O Benfica

Afirma Pereira

"Há empates com sabor a vitória (Bessa, 2005). Há empates com sabor a derrota (Camp Nou, 2012). Mas há também empates com sabor a…empate. Foi o caso do último “Clássico”.
O Benfica fez mais remates, teve mais cantos, criou mais ocasiões de golo e sofreu mais faltas. O FC Porto controlou o jogo, impediu o adversário de fazer aquilo que gosta, e conseguiu o que queria, saindo do relvado em efusivos festejos. A arbitragem foi boa, deixando jogar, evitando até ao limite a mostragem de cartões, favorecendo assim um espectáculo que começou em grande estilo, manteve intensidade e emoção até final, mas não conseguiu cumprir aquilo que o frenético ritmo do primeiro quarto-de-hora parecia prometer. Houve, genericamente, correcção, quer dentro quer fora do campo. E o resultado acabou por ser justo, premiando com um ponto o empenho das equipas, e penalizando com dois os erros cometidos.
Num jogo desta natureza, com toda a pressão que o envolve, há sempre quem esteja menos feliz. O nosso Artur, por exemplo, costuma fazer muito melhor. Mas o figurão da noite, pela negativa, foi o acidental treinador portista.
Já sabemos que naquele clube ninguém tem voz própria, e todos se limitam a dizer aquilo que lhes mandam. Mas alguns, no passado recente, sabiam trazer os recados com maior assertividade. Este Pereira, que revela gritantes dificuldades em se afirmar como o verdadeiro comandante das suas tropas, espalhou-se ao comprido numa conferência de imprensa em tons de surrealismo.
Até poderíamos compreender que, mal habituado a penáltis de Lisandro, ou golos de Maicon, tenha estranhado não dispor, desta vez, do habitual obséquio dos juízes. Mas dizer do Benfica aquilo que disse, além de fazer rir o país desportivo, foi insultuoso, até para com os seus próprios jogadores.
Não é a primeira vez que o homem se enxovalha em público. Mas talvez seja uma das últimas. É que, fora do contexto em que herdou este FC Porto, não o vejo com nível para muito mais do que um qualquer Santa Clara desta vida."

Luís Fialho, in O Benfica

O domínio das novas tecnologias

"O recente jogo entre o nosso Benfica e o FCP foi interessante, disputado e pleno de emoção. Não se atiraram calhaus, não se atingiram futebolistas com bolas de golfe nem se atiçaram ‘Abéis’ às canelas de ninguém.
Ou seja, tudo seria normal caso, no final, Vítor Pereira não se tivesse comportado como um complexado com o medo de ser atirado borda fora e desatasse, canhestramente, a tentar condicionar arbitragens futuras, invocando a mesma lei do fora de jogo que o solícito Proença na época passada ignorou, oferecendo ao tal Pereira um campeonato que festejaram em conjunto. Felizmente, as novas tecnologias permitem-nos gravar as imagens, fixar os factos e recordá-los sempre que algum Pereira mascara a verdade com o medo de ser corrido do clube que treina.
Por falar em novas tecnologias, foi interessante ver, no final do jogo, o Sr. Costa brandir um telemóvel com a imagem de um lapso presente no resultado final apresentado no sítio da Liga na internet. Já noutra célebre ocasião, observáramos como o Sr. Costa conseguia, facilmente, substituir-se a um aparelho de GPS e diligentemente indicar o caminho de sua casa na Madalena a um árbitro que, poucas horas depois do aconselhamento recebido nesse serão, apitaria um jogo em que o clube do Sr. Costa seria um dos contendores. Por este andar, ainda veremos um dia o Sr. Costa a mostrar orgulhoso aos jornalistas as escutas do processo Apito Dourado que estão disponíveis no youtube. São as tais escutas em que, apesar dos esforços de muitos para as silenciar e de outros tantos para as branquear, se percebe muito bem quem é o homem que domina o futebol com o mesmo à vontade com que domina as tecnologias.
Para recordar o conteúdo das ditas escutas, basta a memória, a liberdade de expressão e, nos dias que correm, a coragem... ‘tecnologias’ que não são novas nem aceitam o domínio de ninguém."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica