sábado, 7 de dezembro de 2013

"Sistema" resiste à decapitação

"Que o espírito democrático é pequeno na corporação do futebol português já o sabíamos há muito tempo, mas este movimento do G-14 para destituir Mário Figueiredo da presidência da Liga é a mais recente prova que o futebol em Portugal resiste à mudança e está, há muito, agarrado a estereótipos geradores de injustiças e imparidades, que prejudicam o futebol. O anterior modelo está esgotado mas sobrevive. O poder de Joaquim Oliveira, enquanto guardião e gestor dos direitos televisivos, já não é o que era, está ameaçado (só o Benfica conseguiria infligir os danos que estão à vista no “barco de guerra” da Olivedesportos, o grande bombardeiro que foi vencendo batalhas através do “oxigénio envenenado” distribuído pelos clubes, tornando-os dependentes, solícitos e mansos) e o que está em causa é aceitar um sistema de concorrência mais aberto, com vantagens no campo da verdade desportiva. Joaquim Oliveira não aceitou como verosímil a dimensão do risco assumido pelo Benfica e resiste como pode, tentando agora, a cavalo da ZON e da PT, e com o beneplácito possível da banca, aguentar a estocada final. Já nada é como dantes e os seus eternos aliados mobilizam-se para salvar o que resta do “tesouro perdido”.
Houve um sismo de grandes dimensões no futebol português, cujos danos ainda estão por apurar. Não se registaram vítimas mortais, mas alguns dos feridos acusam sequelas para sempre e desconhece-se o prazo pelo qual vai ser possível determinar se vão conseguir resistir aos ferimentos.
Sem o “porta-aviões” Benfica, esta mudança de rumo não teria sido possível, mas é bom de ver que a UEFA não vai deixar o Benfica comprar os direitos de equipas que joguem no seu escalão competitivo. Se não houvesse essa regulação externa, e devido à baixa ética que existe em Portugal neste tipo de negócios e relações, acredito que teríamos aqui matéria para muita discussão. Sem essa possibilidade, é crível que o próprio Benfica, a prazo, se possa questionar sobre a rendibilidade do negócio do seu canal televisivo. É o único argumento válido para quem defende a solução da centralização dos direitos televisivos. A “Liga TV”, ou uma entidade semelhante, só será viável, contudo, se o Benfica se colocar numa solução inclusiva.
É por isso que, sem embargo de reconhecer que o objectivo da centralização é muito difícil de alcançar a curto prazo, podemos estar a viver uma fase de transição entre a solução que começa, agora, a ser combatida – protagonizada pela PPTV/Sport TV – e a que pode proporcionar uma distribuição mais equitativa dessas receitas.
Muita água, entretanto, vai passar por debaixo das pontes, sendo legítima a conclusão de que o controlo conjunto da ZON e da PT sobre a Sport TV pode diminuir a concorrência entre operadores, acabando por esvaziar a Vodafone e a Cabovisão.
A PT seria, em tese, a empresa com melhores condições para se constituir como alternativa à Sport TV. Acontece, porém, que debaixo de uma cláusula de confidencialidade, a PT parece estar impedida de concorrer com a Sport TV. Temos, assim, que potenciais concorrentes decidiram convergir: Sport TV, ZON e PT, e esta é matéria perante a qual a Autoridade da Concorrência vai ter de se pronunciar, sendo que a alteração dos players vem suscitando impasses e adiamentos sobre a decisão crucial.
Sem querer valorar, nem positiva nem negativamente, os factos de que resultaram a inversão do sistema a favor do Norte, através de uma estratégia bem urdida por aquele que, hoje, deve ser reconhecido não apenas como um visionário – Pinto da Costa – mas sobretudo como alguém que soube interpretar muito bem as debilidades da intelligentsia do país (poder político, muitos sectores da comunicação social, etc.) e um certo – como dizer? – provincianismo cosmopolita dos dois clubes de Lisboa, são certamente escassas as dúvidas de que esse sistema foi impulsionado pelo self made man, Joaquim Oliveira, que teve a perspicácia de construir um grande negócio através dos direitos televisivos (PPTV), ao mesmo tempo que escolhia o aliado-mor e sinalizava o terreno através de uma posição relevante no domínio da imprensa (jornais) e do audiovisual (rádio e televisão), que conhece agora um novo...contra-ciclo.
Esta tentativa de derrubar Mário Figueiredo acontece numa altura em que Joaquim Oliveira tem entre 20 a 25 milhões de euros para depositar nas contas dos clubes no curtíssimo prazo (na maior parte dos casos, até final do ano). O tal “oxigénio envenenado” continua a fazer muita falta, porque vai dando vida enquanto mata, lentamente.
Quem sustentou o “sistema” até hoje quer um verbo-de-encher na Liga e que esta se anule perante os poderes instituídos.
Justa causa? Só se for para manter a mentira em que o futebol português vive mergulhado. A escassa concorrência não estimula a verdade desportiva.

JARDIM DAS ESTRELAS
Exemplo Mandela
O exemplo Mandela, pela sua mensagem e pelas acções, é talvez o maior de todos os exemplos que, novos e velhos, devemos seguir nesta comunidade multirracial que é o Mundo. O Desporto tem um lado muito bom, de aproximação dos povos, que Mandela soube estimular. Mas o lado bom só pode vencer e prevalecer combatendo o lado mau. O lado mau é a corrupção, o ganhar a qualquer preço, a intolerância, a violência, o racismo, o agiotismo e a discriminação, seja ele qual for. Mandela o que nos disse é que as sociedades podem ser melhores e o Desporto pode ajudar-nos a alcançar esse objectivo.
É uma responsabilidade de todos. A FIFA não tem estado à altura do desafio que Mandela preconizou. Fazer o bem (não) está ao alcance de todos.

O CACTO
Sorteio?
O sorteio do Mundial’2014 realizado ontem fica marcado por uma interpretação abusiva da FIFA relativamente à distribuição das equipas pelos 4 potes e que beneficiou claramente a selecção francesa. São estes critérios convenientes que exibem os poderes atrás da cortina. Se o ranking da FIFA serve para a colocação das equipas nos respectivos potes, então a que tinha a pior classificação entre as europeias tinha de ir obrigatoriamente para o pote 2. Blatter está em má forma e deixa-se ultrapassar. Platini deve estar feliz: assim, ainda se arrisca a ser campeão do Mundo."

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