sexta-feira, 3 de maio de 2013

Euroáguia

"Foram 23 anos. O Benfica está de volta a uma final europeia e é fácil de entender o que significa, para um clube da dimensão social e desportiva do da Luz, pôr fim a tão longo interregno. Pode sempre argumentar-se que aquela dimensão vale por si só, mas o que conta mesmo são os registos históricos. O "estar no mapa". Era muito importante para o Benfica fazê-lo. Ganhe ou não em Amesterdão, há algo que já ninguém pode anular : as águias voltaram à ribalta.
Tinha aqui referido antes, que seria determinante abordar a segunda mão com o Fenerbahce com o "querer" chegar à final. Não chegava o "crer". Ora, o Benfica quis muito. A entrada da equipa encarnada foi brilhante, aos 10 minutos já tinha anulado a desvantagem (grande execução técnica de Gaitan) e até aos 20 não deu a menor hipótese ao adversário de sair da sua metade do terreno, embora não aproveitando mais duas óptimas hipóteses para aumentar a contabilidade.
A condição física do Benfica foi excelente. Mas parece difícil separar a superação dos jogadores do facto de sentirem que estavam no desafio que os poderia colocar numa final europeia, algo que qualquer futebolista pretende jogar, por muito que ganhar um campeonato seja marcante na respectiva carreira. Repare-se que os encarnados só "abanaram" emocionalmente a seguir ao golo de Kuyt, provavelmente mais pelas circunstâncias (arbitrais) em que sucedeu do que pelo golo em si.
No entanto, em apenas uma dezena de minutos, tudo voltou à normalidade. É aqui que dois homens assumem um papel fulcral para que se possa entender o que é hoje a estrutura do Benfica. Matic, com mais uma demonstração do que é aliar técnica a sentido posicional, e Enzo, com uma exibição absolutamente notável, trataram de repor os níveis de ansiedade da equipa no seu devido lugar, isto é, baixos. O 2-1 de Cardozo, que já tinha ameaçado antes, serviu para que o Benfica voltasse ao ponto anterior, ou seja, à necessidade de marcar apenas mais um para triunfar na eliminatória. Pouco depois Kuyt perde o empate à boca da baliza e, formalmente, o Fenerbahce acabou aqui.
A segunda metade do desafio resumiu-se à espera da confirmação do que se tornava já muito evidente. Coube a Cardozo, novamente, ditar a sentença. O paraguaio pode ser o ponta de lança mais irritante do mundo para muitos, mas mesmo estes não resistem a render-se a uma veia goleadora que, quando desperta, faz destas e doutras. E mais importante : resolve jogos. Acabou por ser a estrela maior numa equipa em que o sentido de solidariedade constituiu a palavra de ordem. Quando se vê Gaitan e Salvio a participarem activamente no processo defensivo, não é preciso acrescentar mais nada.
Agora, uma palavra para Jorge Jesus. Ninguém sabe em rigor como será o futuro dele, nem se continuará a passar pelo Benfica. Mas o técnico acaba de inscrever o seu nome na lista de treinadores encarnados que levaram a equipa a finais europeias. Graças a uma gestão do plantel como ainda não conseguira desde que chegou ao clube (nem no ano em que foi campeão), Jesus colocou o Benfica perante a possibilidade de discutir duas finais (uma doméstica e outra europeia) e de caminhar, em simultâneo, para o título. No fim, logo se verá o que vai realmente conquistar. Só que há aqui muito trabalho de Jesus, numa temporada em que, por razões várias, também teve de inventar aquilo que não tinha. Os já citados Matic e Enzo são, provavelmente, o melhor exemplo disto mesmo.
Uma arbitragem tão débil numa meia final europeia dá que pensar sobre a verdadeira qualidade de certos nomes que, pelos vistos, não são aquilo que parecem ser. Do ponto de vista disciplinar foi uma salada e no capítulo técnico idem aspas, ou pior. Mas será que vale a pena continuar a "desancar" os árbitros portugueses perante isto?
A Liga Europa é, desta vez, a via para a (re)afirmação europeia de Benfica e Chelsea. Na Champions falharam, mas o facto é que estão ambos na final da Liga Europa. Um reencontro. Todos se lembram da forma como o Benfica foi eliminado, na época passada, na Liga dos Campeões. Só que várias coisas mudaram entretanto nos dois lados. Este Chelsea é menos "resultadista" e este Benfica é menos "ingénuo". Além de que a decisão é numa única partida, o que faz toda a diferença. E, como diz a velha máxima, as finais não se jogam, ganham-se."

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