quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Fortuna(I): a parte cómica

"O SLB doi a Dusseldorf assinar um memorando de entendimento com alemães... de Fortuna.
Após os cumprimentos da praxe, as delegações iniciaram a sessão com troca de galhardetes, perante uma bundestroika para actuar em caso de violação do memorando e como recurso de última instância. Estava-se ainda na fase de diagnóstico, quando o chefe da dita troika resolveu entregar uma carta a Garcia com aviso de recepção. Tal foi entendido por Luisão, chefe do luso grupo, como uma limitação intolerável de soberania, pelo que se lhe dirigiu em tom especulativo. Fischer - assim de chama o teutónico - temeu um haircut semelhante ao de Luisão, de tal sorte que caiu inanimado com - julga-se - um colateral eurobound na mão.
Por instantes, os estabilizadores automáticos não funcionaram e o pacto de estabilidade e crescimento foi violado. Se a (não) estabilidade só durou 9 segundos, o crescimento (do calmeirão) provocou um défice na massa (cinzenta) do homem, que se viu grego para se levantar. Resgatado por milagre, o alemão balbuciou: «Foi como se tivesse batido numa parede.» Sentiu mais força do velho escudo do que a injecção de novos euros. Encerrou o encontro, esterilizou a massa associativa do Fortuna no mercado secundário (leia-se: bilheteiras) e enviou relatório para a Chancelarina.
Hélas! Por uma vez, o marco alemão (disfarçado de euro) foi derrubado pelo escudo (com prata da casa). A Comissão Europeia considerou tal facto «uma experiência inspiradora para o futuro do euro». E a Grécia reclama por um Luisão para evitar a bancarrota.
P.S. Portugal-Panamá, três dias antes do começo da Liga. Que fortuna!"

Bagão Félix, in A Bola

Cena de Charlot

"A cena entre Luisão e o árbitro Fischer parecia retirada de um filme de Charlot: o matulão vai contra o pequenote, e este cai inanimado com o simples impacto do choque.
Isto explicará os sorrisos de Jesus, dos jogadores do Benfica e certamente do público. As quedas aparatosas dão muitas vezes vontade de rir - mas aquela assemelhava-se, de facto, a um filme cómico.
Não sei o que terá justificado o suposto desmaio do árbitro, já que o contacto, por muito grande que Luisão seja (e é), foi corpo contra corpo, não parecendo ter havido nada de especialmente grave.
Demasiado rígida foi a conduta posterior de Fischer, recusando-se a reatar a partida. Eu sei que tinha a lei do seu lado. Mas podia, por respeito para com o público, considerar que o gesto de Luisão não fora intencional, dialogar com ele, esclarecer a situação - e prosseguir o encontro. Até porque, como as imagens documentam, saiu do campo pelo seu pé em perfeitas condições: Interrompendo a partida, Fischer mostrou desrespeito pelos espectadores que pagaram o seu bilhete e tinham direito a ver 90 minutos de jogo e não apenas 39.
Ficou a ideia de que o árbitro quis fazer uma birra. Ainda por cima, estavam do outro lado uns portugueses selvagens, que não mereciam nenhuma consideração.
É que, a par da lei - que permitia ao árbitro interromper o jogo naquela situação - há o bom senso. Ora aquilo que justifica o espectáculo futebolístico são os espectadores - e estes foram lamentavelmente desprezados pela equipa de arbitragem, que fez uma demonstração de autoridade à custa de quem gastou o seu dinheiro para ir ao futebol."



A crise

"O futebol não foge à crise, designadamente em Itália. O Milan que nos últimos 26 anos, sob a presidência de Sílvio Berlusconi, conquistou títulos, muitos títulos, nacionais e internacionais (só Ligas dos Campeões foram cinco), vai reduzir a folha de salários em 40 milhões de euros/ano, vendendo e dispensando os jogadores mais caros: Ibrahimovic, Thiago Silva, Nesta, Gattuso, Inzaghi, Seedorf, Van Bommel, Zambrotta...
Para os substituir, recorrerá à prata da casa e a elementos low cost. Com o fair play financeiro à porta, concluiu que não pode competir no mercado com os xeques do petróleo ou os magnatas russos e que tem assim mais tempo para programar o futuro sem a incumbência de sonhar com a Liga dos Campeões. É um Berlusconi estilo Mario Monti aquele que anuncia aos milanistas que «não há recursos para gerir o clube como no passado e que o momento económico que vivemos não permite fazer investimentos loucos».
Por sua vez, o Inter seguiu outra via: vendeu ao chinês Fengchao Meng, presidente da China Railway Construction, por 55 milhões de euros, 15 por cento do capital que pode depois chegar aos 40. A família Moratti, que detém 98,2 por cento das acções, continuará de todo o modo a manter o controlo do clube. O acordo prevê a construção de um estádio privativo na zona de Rho, nos terrenos que serão utilizados para a Expo-2015. Desde que comprou o clube a Ernesto Pellegrini em Fevereiro de 1995 e fazendo as contas a todos os aumentos de capital para sanear os prejuízos sucessivamente acumulados, Moratti gastou até 2011 no Inter 1160 milhões de euros! Uma loucura. E os tempos não estão para loucuras."

Manuel Martins de Sá, in A Bola