sábado, 26 de maio de 2012

O Azeiteiro e Dona Constança

"O Azeiteiro-da-cabeça-d'unto e Dona Constança são almas gémeas. Nem um nem outro falham festa ou festança. O Azeiteiro vai às festas mesmo sem ser convidado; e se não há motivo para festejos, ele arranja. Desde que seja para ver feliz o Palhaço. Ultimamente, ainda mais que Dona Constança, tem-se visto como parlapatão de muita festança. Talvez, na sua íntima estupidez, se convença de que é convidado pelos seus méritos histriónicos. Não é: é apenas obediente, subjugado. Um bobo de cócoras. Há dias untou de azul a sua cabeça oleosa e, respeitoso, dócil, sujeitou-se à mais tinhosa das vergonhas. Lá do alto, o Madaleno ordenava-lhe que beijasse as mãos e lambesse pescoços. E ele, sem asco, encheu de saliva todas as mãos e pescoços que lhe passaram pela frente.
O Madaleno fazia esgares de satisfação e incontinências; o Azeiteiro-de-cabeça-d'unto fazia vénias. Já não via farejar pescoços daquela forma desde a primeira edição de um filme que tinha o Marlon Brando como protagonista. E os farejadores tinham todos finais infelizes. Um ou dois imbecis, acompanhados por dois ou três intelectualmente desonestos, lavraram a teoria segundo a qual o Azeiteiro foi à Festa da Cerveja por dotes inquestionáveis e que isso é uma machadada fatal no discurso de quem lhos não reconhece. É esse o motivo porque não passam de imbecis e de intelectualmente desonestos. Não percebem a simples teoria das festas e das festanças: requerem um bufão, farsante e chocarreiro, ao qual se possa largar um grito como quem lança um matilha de cães para o ver esconder-se, por entre gargalhadas, debaixo da mesa dos bolos. O Azeiteiro-da-cabeça-d'unto presta-se a isso e a muito mais. Vocês vão ver..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Saudades de Abel

"A final entre o Sporting e a Académica acabou em festa. Festa em Coimbra, claro está. Como muitos sportinguistas, senti-me frustrado. Haveria, na minha expectativa, alguma soberba. Talvez a mesma que levou o Sporting à derrota. Ainda assim, ninguém roubou aquele dia à Académica. Porque tem sido essa, com raríssimas exceções que critiquei, a cultura do Sporting.
Na mesma semana, o FC Porto perdeu o título de basquetebol. E bastou essa derrota e umas palavras menos agradáveis do treinador benfiquista para que o pavilhão Dragão Caixa se transformasse em cenário de guerra campal. Perante isto, o que fez Pinto da Costa? Pôs-se, como faz sempre, do lado da violência. Indignado por a polícia ter impedindo que os jogadores do Benfica fossem atacados pela multidão em fúria, dirigiu às forças da ordem a sua ira de mau perdedor. Compreendo que tenha saudades do guarda Abel e da conivência das forças de segurança com a sua falta de escrúpulos. Compreendo que ameaças sobre jornalistas seja a ideia que tem do que deve ser a segurança pública. Entendo, por isso, a sua estupefação por a polícia ter defendido os jogadores em risco.
Já aqui deixei várias vezes nota de qual é o meu problema com o FCP. Não é com o clube, o melhor, há alguns anos, no futebol nacional. Não é com a cidade, de que gosto muito. Não é seguramente qualquer simpatia pelo Benfica (que também já fez gracinhas destas). É o facto de este senhor, ao mesmo tempo que, com toda a legitimidade, levava o Porto para o topo do futebol nacional, ter transformado o ambiente no desporto profissional numa coisa irrespirável. O papel de Pinto da Costa no episódio de quarta-feira, que obrigou os novos campeões a receberem a taça no balneário, é apenas mais um triste exemplo da falta de classe deste dirigente."


PS: O Daniel Oliveira escreveu, no geral, mais uma boa e equilibrada crónica, mas entre parênteses lá deu a sua bicadinha ao Benfica... sendo que eu não me recordo (e tenho boa memória) de ver um Presidente do Benfica a responder a actos de violência daquela forma...!!!

Silêncio

"O silêncio está por todo o lado no futebol português. No fim-de-semana, vimos, no final da Final da Taça, um árbitro a ser cuspido e a levar com uma garrafada, enquanto a polícia tentava, a custo, protegê-lo de uma valente carga de pancada por parte de centenas de adeptos enfurecidos com a derrota do seu clube. Vimo-lo todos pela televisão. Viram-no os mais altos dirigentes do futebol português. Sobre isso caiu o silêncio. Um silêncio opaco que nos mostra como não são transparentes os interesses do futebol português.
Adeptos desse mesmo clube incendiaram uma bancada do nosso Estádio. Não foi há cinco décadas, foi há pouco mais de cinco meses. Não passou à História porque a ausência de palavras, a presença do silêncio, caiu pesadamente sobre a ignomínia dos factos. Não passará a ser História porque o silêncio impede que a palavra avive a memória e se constitua como inscrição. Quebrar esse silêncio é, nos dias que correm, agitar a modorra em que medram os pirómanos que chantageiam a voz alheia, para que a revolta se conforme ao silêncio conivente.
Foi às custas desse silêncio sujo que gente como o ex-presidente da Juventus Luciano Moggi constituiu a imagem de ter uma ‘estrutura’ perfeita e louvável. Até ao dia em que o silêncio se quebrou e o grito de revolta mostrou ao mundo os tentáculos da ‘estrutura’ perfeita. Moggi tem os seus descendentes, os seus imitadores, os seus seguidores e os seus herdeiros. Conhecemos-lhes os rostos, as falas, as ameaças e as ironias. Sabemos que quem cala consente. Sabemos que o Benfica não se pode calar e que, sempre que se calou (e isso aconteceu recentemente), consentiu. Sabemos que não pode haver silêncio quando se impõe a justa indignação."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Ganhar os próximos dois jogos...


Leões de Porto Salvo 3 - 2 Benfica

Só vi os últimos 17 segundos(!!!)... quando o jogador do Porto Salvo foi expulso (estranho que o adversário não tenha atingido o limite de faltas, dado a maneira 'agressiva' como festejaram a vitória...!!!). Só quem nunca viu jogar esta equipa do Porto Salvo podia pensar que esta eliminatória seria fácil... agora só temos que vencer os dois próximos jogos em casa, simples...!!!

PS: Amanhã poderemos ter mais uma celebração do Basket, desta na Luz!!! Os sub-20 estão a 1 vitória do título Nacional... no último confronto com o Barreirense vencemos com uma 'tremenda cabazada', mas amanhã só contam os pontos marcados durante o jogo...!!!

Final da Taça

"1. Esta final da Taça de Portugal, com a Académica presente, fez-me recordar a única vez em que assisti a um jogo do Benfica com o coração dividido. Foi na célebre final de 1969, que constituiu uma grande manifestação dos estudantes contra o Estado Novo. Acabou por tudo correr bem: ganhou o Benfica, foi um grande jogo no campo, uma grande manifestação nas bancadas e os jogadores das duas equipas acabaram abraçados e a trocar camisolas. O Benfica era o adversário ideal da Académica para esse jogo, pois (ao contrário do que agora querem fazer crer os seus inimigos) sempre foi o Clube português mais anti-regime. Um simples exemplo: o FC Porto inaugurou o Estádio das Antas a 28 de Maio (data de implantação do Estado Novo), enquanto o Benfica, que abriu o antigo Estádio da Luz a 1 de Dezembro (data 'neutra'), havia inaugurado o seu anterior Estádio (Campo Grande) a 5 de Outubro, data bem pouco simpática para o Estado Novo...

2. O presidente do Conselho de Arbitragem da Federação, Vítor Pereira, admitiu a presença de árbitros estrangeiros no Campeonato português. Por princípio, estaria contra. Nas actuais circunstâncias, concordo. Vítor Pereira afirma que «esta não é a geração dos 'quinhentinhos'». Gostaria de acreditar que tem razão. Mas quem (o chefe e os seus 'compinchas') esteve na origem da existência dos 'quinhentinhos', quem recebeu árbitros em casa, quem falou com eles ao telemóvel, ficou impune, continua em actividade. E o seu clube continua a ser beneficiado, enquanto os outros são prejudicados. Como podem os adeptos acreditar que tudo está diferente?

3. 'Record' de sábado passado nas páginas centrais. A propósito da passagem dos 20 anos sobre o primeiro título europeu do Barcelona, recorda-se a final de 1961, que o Benfica ganhou, por 3-2. E o texto termina com a afirmação de que 'os catalães atiraram seis bolas aos postes'. Acontece que foram três, em duas jogadas (numa delas a bola foi de um poste ao outro). É só uma 'ligeira' diferença, mas convinha que a verdade fosse respeitada..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Prestígio

" (...)
Fui ao site do Corriere dello Sport ler a entrevista de Roberto Mancini no original. A língua de Mancini é também a de Dante e Petrarca, Vivaldi e Verdi, uma língua cantabile, que tem música. Mas em relação a Roberto Mancini do que mais gostei foi da letra: «Sì, mi piacerebbe conquistare la Liga ma anche lo scudetto portoghese com il Benfica». Dias depois de alcançar o extraordinário feito de levar o Manchester City ao cimo do Futebol inglês, Mancini ainda tem sonhos. E um deles é ser Campeão, em Portugal, pelo Benfica.
Muito provavelmente nunca veremos Roberto Mancini saltar do banco para festejar um título do Benfica. Mas este episódio da declaração de Roberto Mancini coloca o Benfica onde ele merece estar: num patamar de prestígio sem comparação, entre instituições desportivas portuguesas, e a um nível de crédito sem parecença com os que pensam que estão a disputar o jogo da glória com títulos comprados.
Mas uma coisa é certa: o prestígio de uma instituição como o Glorioso Benfica tem de manter-se com títulos no presente para cimentar as glórias do passado."

João Paulo Guerra, in O Benfica