sábado, 26 de maio de 2012

Silêncio

"O silêncio está por todo o lado no futebol português. No fim-de-semana, vimos, no final da Final da Taça, um árbitro a ser cuspido e a levar com uma garrafada, enquanto a polícia tentava, a custo, protegê-lo de uma valente carga de pancada por parte de centenas de adeptos enfurecidos com a derrota do seu clube. Vimo-lo todos pela televisão. Viram-no os mais altos dirigentes do futebol português. Sobre isso caiu o silêncio. Um silêncio opaco que nos mostra como não são transparentes os interesses do futebol português.
Adeptos desse mesmo clube incendiaram uma bancada do nosso Estádio. Não foi há cinco décadas, foi há pouco mais de cinco meses. Não passou à História porque a ausência de palavras, a presença do silêncio, caiu pesadamente sobre a ignomínia dos factos. Não passará a ser História porque o silêncio impede que a palavra avive a memória e se constitua como inscrição. Quebrar esse silêncio é, nos dias que correm, agitar a modorra em que medram os pirómanos que chantageiam a voz alheia, para que a revolta se conforme ao silêncio conivente.
Foi às custas desse silêncio sujo que gente como o ex-presidente da Juventus Luciano Moggi constituiu a imagem de ter uma ‘estrutura’ perfeita e louvável. Até ao dia em que o silêncio se quebrou e o grito de revolta mostrou ao mundo os tentáculos da ‘estrutura’ perfeita. Moggi tem os seus descendentes, os seus imitadores, os seus seguidores e os seus herdeiros. Conhecemos-lhes os rostos, as falas, as ameaças e as ironias. Sabemos que quem cala consente. Sabemos que o Benfica não se pode calar e que, sempre que se calou (e isso aconteceu recentemente), consentiu. Sabemos que não pode haver silêncio quando se impõe a justa indignação."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

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