quarta-feira, 27 de junho de 2012

A culpa foi da secretária

"Aconteceu há muitos anos, ainda no século XX, a uma selecção jovem de Portugal ver-se envolvida em situação de embaraço perante a UEFA ao apresentar-se num torneio com um jogador mais velho do que era suposto e que não podia competir no escalão etário em causa. Foi um pequeno escândalo. A FPF anunciou um rigoroso inquérito ao sucedido e, ao contrário do que acontece frequentemente, o inquérito teve conclusões e apontou culpados.

Veio a saber-se que o culpado por um jogador com idade a mais ter sido incluído numa selecção com idade a menos tinha sido um mero funcionário da FPF, um dactilógrafo que se teria enganado nas teclas no momento de escrever o ano do nascimento do referido jogador. E assim, graças ao lapso do escriturário de serviço, foram ilibados da acusação de batotice os dirigentes da Federação, os técnicos da Federação e os médicos da Federação. A culpa foi do dactilógrafo, pois então.

Com os seus contornos próprios, a história repete-se agora a propósito do caso Cardinal, o fiscal-de-linha que se viu confrontado com um milagroso depósito de 2 mil euros na sua conta bancária depois de ter sido nomeado para actuar num jogo do Sporting. E de modo a que “parecesse” que o anónimo benemérito de José Cardinal era afecto ao clube adversário, o Marítimo, o dito depósito foi feito ao balcão de uma agência bancária na ilha da Madeira.

Para acabar de ver com a excitação insana que este caso tem vindo a provocar nos meios desportivos e judiciais, recordando os factos já públicos referentes ao processo e avaliando a entrevista concedida pelo ex-vice do Sporting, Pereira Cristóvão, à TVI, pode-se já avançar com o nome do culpado, aliás, da culpada. Trata-se de uma secretária de Paulo Pereira Cristóvão que, num momento de tédio, levantou 2 mil euros da sua conta bancária e entregou-os a um reputado membro ou ex-membro de uma claque leonina, juntamente com um bilhete de avião para o Funchal, para que fosse até à pérola do Atlântico comprometer José Cardinal para todo o sempre.

Cessem todos os processos de averiguação civis e desportivo. A culpa foi da secretária. E Paulo Pereira Cristóvão e o Sporting não têm nada a ver com esta ousadia de uma secretária tresloucada. Arquive-se.

ERRAR É HUMANO
Como turismo, é perfeito
Legitimada pela FIFA e pela UEFA, a experiência dos chamados árbitros de baliza já vem do Mundial de 2010, na África do Sul, e tem vindo a provar desde aí a sua calamitosa inutilidade prática. Se quisermos entender a convocação de um quarto e de um quinto árbitro como reforço de monta em prol da aplicação das leis do jogo, a experiência já há muito que deveria ter sido cancelada por ausência de benfeitorias à santa causa da verdade desportiva.

Na África do Sul, Lampard marcou um golo que empataria o jogo para a Inglaterra mas que foi anulado porque nenhum árbitro viu a bola passar para lá da linha fatal da baliza alemã. Esta semana, na última ronda do grupo D do Europeu, foi a vez de a Inglaterra beneficiar da total improficuidade das funções do senhor auxiliar de baliza que, ao não ver a bola rematada por Devic passar um bom bocado para lá da linha de golo, negou o empate à Ucrânia quando ainda faltava meia hora até ao fim do jogo.

A coisa só faz sentido se quisermos entender a invenção dos árbitros de baliza como uma simpática e pródiga benesse concedida, ao mais alto nível, aos árbitros de todo o mundo para se multipliquem agora em funções, em viagens, em importâncias e em ajudas de custo. Como turismo, é perfeito. Quanto ao resto…

POSITIVO
Costa incrível
Pela primeira vez um ciclista português conquistou uma prova por etapas do World Tour. Aconteceu a Rui Costa na Volta à Suíça e trata-se de um grande feito que não foi devidamente apreciado no seu país. A culpa é do futebol.

Drogba a facturar
Na Europa, Drogba já fez o que queria: saborear uma Liga dos Campeões. O costa-marfinense parte agora para uma aventura na China ao serviço do Shangai Shenhua a 248 mil euros por semana. Aventura, mas bem paga.

NEGATIVO
Neymar não chega
Um golo de Neymar não chegou ao Santos para atingir a final da Taça Libertadores. Depois da derrota em casa com o Corinthians, o Santos não fez-melhor do que 1-1 no campo do grande rival.

PÉROLA
“MOURINHO É MEDÍOCRE.”, Znedek Zeman
O Portugal-República Checa, a contar para os quartos-de-final do Euro’2012, foi antecedido por uma inusitada provocação checa a um português muito especial. Para o treinador da AS Roma, José Mourinho é apenas “um grande comunicador” que, por isso mesmo, disfarça bem a sua “mediocridade”."

Leonor Pinhão, in Correio da Manha

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