segunda-feira, 7 de maio de 2012

Palavras

"Nesta fase do Campeonato, as palavras estão cansadas. E, assim, é difícil encontrar palavras frescas para fazer referências a um empate em Vila do Conde, com dois golos tão bem marcados, dois golos tão inacreditavelmente sofridos e tantos, tantos golos perdidos. E foi nesse dia e desse modo que o Benfica perdeu em definitivo a fé no Campeonato, cuja classificação comandava destacadíssimo no final de Março.
Ao longo da temporada vai-se dando uso às palavras, explicando aqui, justificando acolá. Chega-se a um ponto em que as palavras estão gastas, porque independentemente de tudo o que se joga e se decide à margem das quatro linhas, nas antecâmaras da mentira, não há palavra para justificar, perdas de tantos pontos assim.
E agora, que dizer quando o mais fraco FCP de que há memória nos últimos anos, com um plantel sem soluções e um treinador de recurso, celebra o título a duas jornadas do fim? Não há palavras. As palavras estão gastas.
Bem sabemos de grande parte do muito que se joga fora do campo, nas alfurjas do Sistema. Na véspera do jogo em Vila do Conde, assistira-se no Funchal ao que o jornal A Bola designou por «caricato», a cena com «dois jogadores do Marítimo a saltar juntos para cortar a bola com a mão», para o primeiro dos dois penálties da vitória portista. Provavelmente Sir Alex Fergunsson tinha razão quando sentenciou que há clubes que comprar títulos.
O Benfica , ao invés, comprou jogadores e formou para esta época um plantel que dificilmente repetirá, pela quantidade e qualidade de jogadores e pela diversidade de soluções. Mas chega-se ao fim do calendário e que dizer? As palavras estão cansadas e gastas."

João Paulo Guerra, in O Benfica

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