segunda-feira, 7 de maio de 2012

Neblina

"O processo Apito Dourado mostrou-nos a forma como certos clubes se movimentavam nos bastidores, e traficavam influências com vista à viciação de resultados desportivos. Dirigentes desportivos recebiam árbitros em casa nas vésperas de jogos, ofereciam-lhes prostitutas após os mesmos, adulteravam processos disciplinares, instrumentalizavam jornalistas, etc. Ficou à vista, e ao ouvido, de todos, que havia quem não olhasse a meios para atingir os seus fins, que havia quem fosse capaz de tudo para chegar às vitórias. À semelhança do que aconteceu em tantos outros casos no nosso país, questões processuais chocaram de frente com o apuramento da verdade, e promoveram a impunidade generalizada - aspecto que serviu para o branqueamento daquelas vitórias e daqueles títulos, convidando, simultâneamente, a que tias práticas continuassem, ou até que se intensificassem.
A quem conheça um pouco da história da corrupção no Desporto internacional (e, infelizmente, já houve vários e diferentes casos), não surpreenderia também que a vertente ligada à arbitragem, então desmascarada, fosse apenas a ponta de um iceberg onde outro tipo de elementos se misturasse. Dito de outro modo, quem acompanhe, por exemplo, o Ciclismo e os seus frequentes casos de doping, sabe que o tipo de controlo feito no Futebol não passa de uma brincadeira de crianças, à qual muitas práticas ilícitas, e actualmente bastante sofisticadas, podem facilmente escapar. E, quem tenha lido alguma coisa sobre o fenómeno das apostas ilegais (por exemplo na Ásia, mas também na Itália ou na Alemanha), perceberá como a um defesa-central, ou a um guarda-redes, é fácil fabricar um resultado, prejudicando a própria equipa, a troco de dinheiro, de um contrato, de um relação privilegiada com determinado empresário, de uma boa crítica num jornal, ou até de uma ameaça.
Quem já se mostrou capaz de corromper, e vive da impunidade de um sistema judicial obsoleto, não pode pois esperar as nossas felicitações, mas sim a nossa desconfiança."

Luís Fialho, in O Benfica

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