quarta-feira, 25 de abril de 2012

Nozes e vozes

"O Benfica é o maior Clube português. É-o nas vitórias, quando arrasta multidões apaixonadas em seu redor. Mas é-o também na hora da derrota, quando a sua grande dimensão se transforma no seu principal adversário.
Se um dos nossos rivais entra em crise de resultados, a polémica é reduzida, o espaço mediático fecha-se, e a coisa dissipa-se. Se acontece com o Benfica, logo temos todo um foguetório de críticas, sempre feitas de cabeça quente, e poucas vezes suficientemente ponderadas. Isto parte de uma profunda paixão clubista, que, na ânsia de ganhar sempre, de ganhar mais, e de ganhar tudo, tem necessidade de deitar rapidamente cá para fora a frustração da derrota. É humano, é compreensível, e faz parte da identidade de um grande Clube - como não há outro em Portugal. A uma nova vitória, lá está novamente todo o povo benfiquista, de bandeiras erguidas, e coração aquecido, vibrando com o emblema que tanto ama.

A crítica legítima
O Benfica é um Clube democrático, onde a crítica tem naturalmente o seu espaço. Não é bom benfiquismo, olharmos para o Clube, para os seus dirigentes e para os seus profissionais, sem o grau de exigência e para os seus profissionais, sem o grau de exigência que uma história centenária e ganhadora nos legou. Quando as coisas correm mal, há que encontrar soluções, e não fugir ao debate sobre qualquer ajuste que possa ter de ser feito, custe a quem custar, e sempre no supremo interesse do Benfica. Não é a lavar as lágrimas na frustração que se devem tomar decisões, ou emitir opiniões, pois o risco de precipitação é grande. Mas com frieza, com ponderação e equilíbrio, não devemos deixar de reflectir sobre aquilo que podemos fazer melhor entre portas, de forma a não estarmos tão sujeitos às interferências externas que normalmente nos vitimam. Este Campeonato tem sido, de resto, exemplo paradigmático, com arbitragens desastrosas a penalizarem-nos reiteradamente, mas com desempenhos da equipa - mormente na fase decisiva da época . também bastante aquém das expectativas geradas pelo forte investimento nela efectuado. Como aqui disse na passada semana, não podemos varrer o défice competitivo com que enfrentamos as jornadas mais importantes do Campeonato (nosso principal objectivo) para debaixo do tapete das arbitragens. Para além da denúncia daquilo que, desde fora, nos prejudicou, temos também de analisar o que, dentro de casa, correu mal, porque motivo correu mal, e aquilo que será necessário fazer para que se não repita, tendo sempre o cuidado de não confundir a árvore com a floresta, e perceber que uma coisa é o que se passa dentro de campo (que, obviamente, não nos deixa felizes), e outra, bem diferente, é a vitalidade institucional de um Clube que recuperou a sua histórica grandeza, e onde o grau de exigência é hoje bem maior do que há poucos anos atrás. Tendo presente que só quem está por dentro do Clube, quem conhece a equipa, os treinadores, os jogadores, quem sabe, enfim, como lá se trabalha, poderá dispor dos dados para decidir em conformidade, todos temos direito às nossas opiniões, pois, no fundo, o Futebol vive dos seus adeptos, e o que todos queremos é ganhar.

O oportunismo
Coisa muito diferente é o aproveitamento oportunista que algumas figuras fazem destes momentos mais angustiantes, procurando desse modo usar o sofrimento dos benfiquistas para protagonismos pessoais, ou mesquinhos ajustes de conta com o passado. É efectivamente uma triste tradição, já com décadas de vida, vermos, ouvirmos ou lermos um desfilar de vozes críticas, que esperam o momento do desaire para, contando com o apetite sanguinário da comunicação social, darem largas aos seus sentimentos ressabiados, e tentarem atingir o que foi preciso para alcançarem os seus fins.
Por vezes caem do ridículo, tal a desfaçatez das opiniões que emitem. Custa a acreditar como um antigo funcionário do Benfica, e ex-presidente de uma colectividade de apoio ao FC Porto, não percebe que só se descredibiliza ao dizer o que diz do nosso presidente, que foi, aliás, quem o contratou - cometendo aí, porventura, um erro. Se algum benfiquista ainda acreditasse nos seus bons propósitos para com o Clube, esta simples declaração - a cheirar a vingança, a traição, a ódio, a mesquinhez, enfim, a quase tudo o que o ser humano tem de pior - chegaria para perceber perante quem estamos. Infelizmente não é caso único.

(...)

'Uma vergonha'

Aquilo que se passou à chegada da nossa equipa depois da conquista de um troféu, envergonha-me enquanto benfiquista. A soldo não se sabe bem de quem, meia dúzia de indivíduos encapuçados vilipendiaram jogadores e treinadores, não escondendo um propósito de desestabilização gratuita, que visa fins muito pouco claros. A comunicação social, sempre ávida de sangue, fez o resto, dando-lhe o destaque que não deu aos quinze mil que se deslocaram a Coimbra e apoiaram a equipa."

Luís Fialho, in O Benfica

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