quinta-feira, 12 de abril de 2012

Alegremente

"A 19 de Fevereiro o Benfica era alegremente o comandante isolado do campeonato com 5 pontos de avanço sobre o segundo classificado. No dia seguinte jogou em Guimarães e desde aí perdeu 13 pontos. É incompetência a mais para assacar em exclusivo a um quadro tão rico de jogadores e a um treinador com provas dadas como é Jorge Jesus.
Haverá, obviamente, variadas responsabilidades de todos, jogadores e treinadores, neste inacreditável desmoronamento do Benfica. Mas é por isso mesmo, por ser inacreditável o desmoronamento, que todo o seu entulho não pode caber inteirinho no balneário do Estádio da Luz.
Como seria de esperar, teorias há muitas para explicar a débacle.
A primeira é sempre a teoria dos árbitros e de como eles se conluiaram para oferecer o título ao FC Porto. Não subscrevo. Os árbitros não se conluiam. Apenas fazem o melhor que podem e que sabem.
E de arbitragem sabem muito mais do que nós. Eu, por exemplo, não sabia que nos primeiros 41 segundos do jogo não se marcam grandes penalidades porque, enfim, é chato porque houve pessoal que ainda nem se sentou.
A segunda teoria da conspiração. O Benfica entregou alegremente o poder na Federação Portuguesa de Futebol a um vice-presidente do FC Porto, entregou alegremente o poder na Liga a um advogado que trabalhou no escritório de onde saiu a defesa do Apito Dourado e dá-se por satisfeito, há anos, com a presidência do Conselho de Arbitragem exercida por um sócio de mérito do Sporting.
Também não subscrevo porque bem me lembro de ouvir o senhor Pinto da Costa, tantas e tantas vezes campeão, repetir vezes sem conta que se para o Benfica o importante era meter gente de confiança nos órgãos do futebol, para o FC Porto o importante era ter bons jogadores e bons treinadores que valessem títulos.
Dizem que este FC Porto não terá um bom treinador. Mas vai um exagero daí até dizer-se que passou a ser mais importante para o clube da Invicta meter gente na Liga, na Federação, na RTP e na Avenida dos Aliados do que ter melhores jogadores e treinadores do que os adversários.
A terceira teoria é puro nonsense. Prende-se com matéria áudio-visual e financeira. Há quem garanta que a equipa de Jorge Jesus iniciou a sua débacle mais ou menos pela altura em que a comunicação social anunciou alegremente a renovação do contrato do Benfica com a Olivedesportos.
E há quem jure a pés juntos que o posterior desentendimento entre as duas partes não passa de um arrufo que se extinguirá alegremente no próximo defeso, ou mesmo antes.
Para a história desta temporada, diga-se que o Benfica em Alvalade só teve canetas para 20 minutos. E para história do derby, diga-se que depois de 6 vitórias e de 2 empates, o Benfica perdeu ao 8.º jogo com o Sporting e terá perdido também a ténue esperança que levava de ser campeão. Foi o suficiente para que surgissem as já referidas teorias.
E não só. Surgiram também ex-dirigentes do clube a clamar pelo fim de uma era. Como em Outubro há eleições é de prever uma cuidadosa gestão da insatisfação popular. Já há algum tempo que não se via disto.

A invulgar noite-não de Hugo Viana e a milésima noite-sim de Hulk deram a vitória ao FC Porto na sua visita a Braga. Nada a obstar.
O Sporting de Braga jogou bem e o FC Porto foi mais feliz. Ninguém precisou de chamar nomes ao árbitro. E nem sequer foi preciso chamar o electricista do estádio. O único apagão foi o de Álvaro Pereira depois de ser substituído, mas o incidente foi logo apagado.

PELO segundo ano consecutivo a Liga Europa chega às suas meias-finais com um quadro de pretendentes 100% ibérico. Na última época até houve maioria portuguesa nesta fase derradeira da competição com FC Porto, Sporting de Braga e Benfica a acompanhar o Villarreal, representante único do país dos vizinhos.
Este ano é precisamente o contrário. Nas meias-finais da Liga Europa de 2011/2012 é o Sporting o único representante de Portugal enquanto a Espanha vai a jogo com três emblemas: Atlético de Bilbau, Valência e Atlético de Madrid.
O Atlético de Madrid foi, aliás, o primeiro vencedor desta prova que a UEFA inventou para suceder à Taça UEFA que já estaria estafada nos seus moldes e com rendimentos insuficientes.
No seu ano inaugural, 2008/2009, a Liga Europa foi levada de vencida pelo Atlético de Madrid que, na final, precisou de ir a prolongamento para triunfar sobre o Fulham, um honesto mas irrelevante clube inglês.
A segunda edição foi conquistada pelo FC Porto numa final lusitana com o Sporting de Braga. A terceira edição, a que está correr, tanto pode ter um final espanhola ou uma final luso-espanhola.
Ou seja, a Liga Europa é a nova espécie de Taça Latina e tem constituído vasto campo de legítima animação nos dois países vizinhos.
Aparentemente, a UEFA não está a achar graça nenhuma à brincadeira. Na semana passada, o jornal alemão Bild avançou com a notícia de que Michel Platini estaria já a preparar um plano para acabar com a Liga Europa em 2016 promovendo um alargamento de 64 clubes para a Liga dos Campeões, que passaria a única prova internacional de clubes organizada pela UEFA.
É uma possibilidade altamente verosímil. A organização que superintende os milhões da indústria europeia de futebol não tem grande paciência nem tempo a perder com uma competição de não-milionários e que, muito objectivamente, vem fazendo as delícias das equipas espanholas de segundo plano e das equipas portuguesas de primeiro plano.
Já a sua antecessora, a defunta Taça UEFA, terá morrido do mesmo mal.
Nas suas últimas 7 edições a Taça UEFA viu cair o seu palmarés nas mãos dos remediados e, pior do que isso, de alguns inesperados que se fizeram convidar para a festa. De 2002/2003 até 2007/2008, o ano da sua última edição, a Taça UEFA foi conquistada por um clube português, o FC Porto, e por dois clubes espanhóis: pelo Valência e duas vezes pelo Sevilha, todos do grupo dos remediados.
Como se não bastasse, ainda vieram da outra extremidade da Europa três dos tais emblemas inesperados: dois russos, CSKA de Moscovo e Zenit de Sâo Petersburgo, e um ucraniano, Shaktar Donetsk. Assim ficou completo o ramalhete de desvalidos triunfantes.
E por coincidência ou não, assim que o Shaktar Donetsk ganhou a sua Taça UEFA, em 2008, a UEFA deu imediatamente por encerrada aquela competição.
Este ano, enquanto os dois Manchesters, o United e o City, por lá andaram, a Liga Europa até poderá ter parecido um negócio promissor aos olhos dos grandes industriais do futebol. Mas o Atlético de Bilbau e o Sporting mostraram-se pouco impressionados com o poderio dos cabedais dos dois clubes ingleses e atiraram-nos para fora da competição, devolvendo-lhe aquele ar pobretanas que a pode colocar em perigo.
É aproveitar enquanto dura, clubes portugueses de primeira e clubes espanhóis de segunda! Até 2016 todos poderão sonhar alegremente com a Liga Europa. Depois disso, logo se verá.
Vai uma aposta que a nossa querida Taça da Liga ainda sobreviverá muitos e bons anos a essa tal Liga Europa?

E por falar em Taça da Liga. É já este sábado a final. António Fiúsa, o presidente do Gil Vicente, já fez as suas contas: «Dos quatro grandes só nos falta ganhar ao Benfica.» E é verdade, este Gil Vicente já ganhou alegremente ao FC Porto, ao Sporting de Braga e ao Sporting.
Ao Gil Vicente só falta ganhar ao Benfica para que Barcelos possa celebrar condignamente uma época de sonho.
Convinha que o pessoal lá da Luz se lembrasse disso."

Leonor Pinhão, in A Bola

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