quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Levados a sério, levados a brincar

"Esta semana o Sporting merece parabéns porque terá percebido que toda e qualquer comunicação para o exterior resulta em tragédia ou em comédia


NO futebol, ganhar não é tudo. É a única coisa. Que o diga António Fiúsa, o presidente do Gil Vicente.

Dirigente que queira ser escutado, que pretenda sensações mediáticas a acompanhar o seu mínimo suspirar, que ambicione conduzir movimentos ou reformas estruturais, dirigentes que queira ser levado a sério fora das quatro linhas tem de ganhar dentro das tais quatro linhas ou então é apenas mais um, igual aos outros que não ganham e que, por isso, ninguém os ouve e ninguém os conhece.

Na madrugada de domingo fazia um frio de enregelar em Barcelos mas ninguém conseguiu dormir na cidade minhota. E os que conseguiram dormir foram acordados às 4 da manhã por uma salva de foguetes e pelas explosões de fogo-de-artifício com que os gilistas em festa receberam a sua equipa de futebol no fim da longa viagem que trouxe os heróis da terra desde Alvalade até casa.

Depois de ter ganho ao FC Porto para o campeonato, o Gil Vicente afastou o Sporting das meias-finais da Taça da Liga que vai agora discutir com os vizinhos do Sporting de Braga. Por tudo isto, António Fiúsa é o dirigente do momento.

E o presidente do Gil Vicente tem sabido aproveitar os seus dias de merecida fama para se constituir numa espécie de presidente dos clubes desfavorecidos, falando em nome de todos sobre os mais variados assuntos que preocupam os que lutam com armas de calibre inferior.

Fiúsa manda recados ao recém-eleito presidente da Liga. Fiúsa quer a profissionalização dos árbitros, Fiúsa exige uma distribuição mais justa dos dinheiros do futebol, Fiúsa ameaça os grandes de que «vão perder mais vezes» porque «os pequenos também trabalham mais».

Tudo isto se deve a um brasileiro na pré-reforma, o incrível Cláudio que, com 34 anos, deu-se a conhecer ao marcar dois golos ao FC Porto no jogo do campeonato e marcou um golo ao Sporting no jogo da Taça da Liga.

Sem os golos de Cláudio, isto é, sem vitórias, bem poderia António Fiúsa ter desabafos que entendesse porque ninguém lhe iria ligar pevide. E porque anda há muitos anos no futebol, Fiúsa sabe que é assim mesmo que as coisas se passam.

E faz bem em aproveitar este momento em que todos os amplificadores estão ligados em Barcelos e o som deste momento épico barcelense chega límpido e sem interferências a todos os quatro cantos do País.

Tudo isto serve, da minha parte, para dar os parabéns ao Gil Vicente e para, finalmente, dar razão ao Sporting.

Não a propósito da arbitragem do jogo do último domingo em Alvalade porque Onyewu cometeu mesmo uma falta para grande penalidade, foi bem expulso e porque a tentativa de Matías Fernandez de enganar o árbitro num lance na área dos visitantes não passou disso mesmo, de uma tentativa que não resultou.

O Sporting merece os parabéns porque terá percebido que toda e qualquer comunicação para o exterior resulta em tragédia ou, pior ainda, em comédia quando, no campo desportivo, os insucessos se acumulam. Ninguém leva a sério um presidente que não ganha ou uma auditoria que só perde, perde, perde...

Assim sendo, foi boa para os interesses do Sporting a decisão de optar pelo silêncio nos dias que precederam o crucial embate de ontem com o Nacional da Madeira. Não houve despautérios verbais nem de dirigentes, nem de técnicos, nem de fadistas, nem de carpinteiros.


QUEM gosta de futebol só pode saudar o regresso de Lucho González ao futebol português e ao FC Porto para ser o El Comandante de uma equipa que já vai no quarto capitão - Helton, Rolando, João Moutinho, e segue-se Hulk - mas que ainda não acertou o passo.

Lucho vem, portanto, para comandante. Não vem para capitão. Isso é para os demais.

Este FC Porto de 2011/2012 anda esquisito, acontecem-lhe coisas que normalmente acontecem aos outros. Desde a infalibilidade papal/presidencial posta em causa com a contratação e defesa de Vítor Pereira até à infalibilidade presidencial/papal posta em causa com a derrota em Barcelos depois das garantias solenes de que Coimbra não se iria repetir, muitos episódios inverosímeis têm acontecido na casa do Dragão.

Adeptos notáveis zangados com a prestação da equipa, Hulk moreno, Hulk louro, Hulk moreno, lamentos e protestos de jogadores através das redes sociais, contratações falhadas em excesso, derrotas expressivas na casa de adversários menores, Hulk moreno empossado como capitão na chegada de Lucho, o comandante...

Na semana passada, quando fechou o mercado de Inverno, cheguei a ouvir de um bom amigo portista qualquer coisa como «este Janko nem sequer tem cara de jogador do Porto», o que é francamente vontade de embirrar. Quando lhe perguntei de que clube tinha Janko cara de jogador, respondeu-me sem hesitar: «Tem cara de jogador do Sporting».

Com o golo marcado por Janko ao Vitória de Setúbal já lhe passou a descrença porque no futebol as convicções duram, no mínimo, uma semana.

Com Lucho e com Janko, o FC Porto vai atacar a liderança do Benfica. E vamos ter campeonato até ao fim.


POR ser uma experiência totalmente diferente do habitual, foi engraçado de testemunhar no domingo na Luz o incómodo sentido nas bancadas benfiquistas no momento em que o árbitro Artur Soares Dias, do Porto, expulsou injustamente um jogador do Marítimo, Pouga, ficando o adversário reduzido a 10 jogadores de campo!

-Isto não é para vermelho!

-Lá estão estes árbitros a roubar o Benfica!

-A roubar o Benfica?

-Sim, a roubar brilho às nossas vitórias dando azo a que os nossos rivais andem a choramingar porque somos beneficiados...

É um bocadinho excessivo o raciocínio, mas não está mal visto.


TIAGO já não é nenhuma criança e, por isso mesmo, não eram muitos os que ainda apostavam num renascimento do médio neste troço final da sua carreira. Mesmo assim veio mais do que a tempo.

Com a chegada do treinador argentino Diego Simeone ao Atlético de Madrid a equipa já não sabe o que é perder há meia-dúzia de jogos e Tiago, a mais intermitente das estrelas lusas no futebol espanhol, tem vindo a assumir um lugar importante e de alta responsabilidade na manobra da equipa do Vicente Calderón.

Tiago não enjeitou a confiança de Simeone nas suas capacidades, reaprendeu a alegria do jogo e até lhe viu ser atribuída a braçadeira de capitão do Atlético de Madrid. A verdade é que a carreira internacional de Tiago nunca conseguiu cumprir as expectativas depositadas no jogador português que saiu do Benfica para o Chelsea de José Mourinho com toda a lógica.

Com toda a lógica? Claro que sim. Mourinho quis levar para o Chelsea (e levou) alguns dos melhores e mais promissores jogadores europeus e era precisamente esse o estatuto do jovem Tiago em 2004 depois de ter protagonizado uma época de grande categoria ao serviço do Benfica de José António Camacho.

Tiago não vingou em Londres. Depois fez duas boas épocas em Lyon o que levou a Juventus a interessar-se por ele ao ponto de o comprar. Em Turim, a vida de Tiago foi um calvário. Não convenceu os adeptos, não convenceu a imprensa que o tratou de forma implacável. Em Madrid, Tiago tem feito um percurso mais ou menos... E o menos em Tiago soa sempre estranho, inexplicável, para quem se habituou a ver o lado mais de Tiago, que é muito mais do que o de um jogador medianamente bom a nível internacional.

Agora está Tiago a passar um bom momento. Que seja duradouro. Para que os adeptos do Atlético de Madrid, tal como os adeptos do Benfica, possam mais tarde recordar o futebol prático, combativo e elegante de Tiago Mendes. E já é pedir muito.


O Sporting está na final da Taça de Portugal onde se vai jogar com a Briosa. O Sporting está na final da Taça e Domingos não encontrou o menor reparo, o mais pequeno deslize no trabalho de Pedro Proença que foi o árbitro do jogo de ontem no Funchal.

Já no jogo da primeira mão, que o Sporting empatou depois do tempo regulamentar, o árbitro também não mereceu críticas exacerbadas.

Assim é que é bonito."


Leonor Pinhão, in a Bola

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