domingo, 26 de fevereiro de 2012

Kong! Kong! Kong!

"Como no filme de Peter Jackson, os selvagens gritam histéricos pelo nome do macaco grande ao mesmo tempo que lhe oferecem jovens donzelas na tentativa de lhe acalmar as fúrias: KONG! KONG! KONG!

Os selvagens formam uma turba insana. Vomitam ódio e desespero. Cospem insultos e ameaças. As ordinarices são comuns a todos: homens, mulheres, crianças, velhos... Seguem a cartilha de Chefe Palhaço que admite tratar os melhores amigos como se fossem filhos da mais reles das rameiras. É uma (in)cultura. É uma escola. Quem nela andou não esquece mais. É a escola do sarrafo, do golpe baixo e traiçoeiro, da violência gratuita e injustificável. Os gestos infames repetem-se aqui e ali e os protagonistas são sempre os mesmos: filhos do Madaleno, que se alimenta a fel e a veneno. E de cada vez que os selvagens se lançam sobre os pobres inocentes obrigados a suportar a sua incivilidade, centenas de gargantas repetem o som escabroso: KONG! KONG! KONG!

Talvez, como dizia Mário Filho, a vitória seja uma doença que só a derrota cura. Mas esta é a única forma de vencer os selvagens, o macaco gigante e o omnipresente Palhaço. Ganhar, ganhar, ganhar sempre. Cada derrota, cada queda, cada falha, levanta do outro lado da barricada um clamor estafado: KONG! KONG! KONG!

Por isso não há caminhos de retrocesso. Ganhar é o verbo! Repitam-no teimosamente, sobretudo no presente do indicativo e no futuro. Repitam-no e conjuguem-no. A toda a hora de todos os dias. Só assim o Madaleno se esfumará tão fatuamente como foi a sua existência e os selvagens tresloucados de raiva e estupidez calarão os seus gritos de KONG! KONG! KONG!

Mas, às vezes, o futuro que parecia ser já ali fica um pouco mais longe. É então que se torna necessário encher o peito de uma paciência infinita enquanto se alarga a passada por uma estrada em cujas bermas os selvagens se babam de ranço e esperam que alguém escorregue para lhe morderem o pescoço."


Afonso de Melo, in O Benfica

1 comentário:

  1. Gritam kong, kong, kong, mas quando estão de joelhos, quem os salva sempre?
    Gong, gong, gong!
    Parece de propósito!

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