quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Foi um extraterrestre que apagou as luzes (ou Artur e as «coisas do outro mundo»)

"Para Artur explicar «coisas do outro mundo» que acontecem em Braga terá de provar que quem desligou a luz foi um alienígena ou um saco de ectoplasma vindo do Além


DE todas as coisas inacreditáveis que se passaram e se disseram em Braga desde que o Benfica foi lá jogar, a mais inacreditável de todas é, por sorte, logo a única que está documentada.

Sim, sim temos foto!

A coisa que seria mais improvável de ocorrer em nome do bom senso, da harmonia e do progresso da civilização, a coisa verdadeiramente mais chocante triunfando sobre as demais nos capítulos da intolerância e da estupidez, é a única coisa que disponibiliza a imagem em flagrante do abuso cometido.

Certamente, será alvo de um inquérito não da Liga dos Clubes, que organiza os jogos de bola, mas do Ministério da Educação que organiza o resto, ainda que menos importante.

Na terça-feira, o bom do Mossoró, que joga no Sporting de Braga, visitou a escola EB 2-2 de Celeirós, uma freguesia bracarense, e um aluno «foi aconselhado a não assistir à sessão de autógrafos, não fosse a sua presença ser confundida como uma provocação», como se podia ler ontem neste jornal. E não só ler.

Ver também porque A BOLA publicou uma fotografia - que aposto que não é forjada - de um rapazinho com uma camisola do Benfica encostado a uma parede a ouvir as explicações, depreende-se, de uma senhora mais velha que não se sabe quem é. Poderá ser uma professora, uma mãe, uma funcionária ou mesmo alguém que goste de aparecer em fotografias.

O rapaz tem um sorriso maravilhoso.

Não mostra o menor temor pelo acto de segregação de que está a ser alvo nas instalações de uma escola do Estado português.

Está a sorrir de frente para eles.


A Comissão de Disciplina da Liga decidiu multar esta semana o Sporting na quantia de 1700 euros por causa da pancadaria entre elementos de uma claque sua e as forças policiais no jogo de Alvalade com o Benfica, a contar para o campeonato de 2010/2011. O tal episódio de violência, amplamente documentado pelas câmaras, ocorreu a 21 de Fevereiro deste ano. Está quase a fazer um ano e a demora da decisão praticamente fez esquecer o despautério infelizmente comum nos nossos bonitos campos.

Assim sendo, ainda bem que a Liga não vai abrir nenhum inquérito às três falhas de luz que obrigaram a interromper o jogo por três vezes numa primeira parte que, por isso mesmo, teve 37 minutos de tempo de compensação.

Aparentemente, ouvindo o presidente da Liga e futuro presidente da Federação a falar, foram mais do que suficientes as explicações fornecidas em pleno camarote VIP do estádio Axa para que Luís Filipe Vieira e o próprio Fernando Gomes se considerassem esclarecidos sobre o invulgar episódio eléctrico.

No entanto, é bem possível que a Liga abra um inquérito às acusações trocadas publicamente entre Artur e Alan.

Artur, por exemplo, está tramado com a analogia que escolheu. Agora vai ter de provar aos juízes da Liga que em Braga, sempre que o Benfica lá vai, «acontecem coisas do outro mundo». Não vai ser fácil para Artur, neste mundo, justificar o que afirmou sobre a recorrência das manifestações anti-benfiquistas do além. Para se safar ao castigo terá de provar, para além de qualquer dúvida razoável, que quem fechou por três vezes a luz do estádio foi um extraterrestre ou um saco de ectoplasma ou um alienígena ou uma alma penada, enfim, qualquer coisa «do outro mundo».

Alan também se desgraçou um bocadinho com a analogia que escolheu em defesa da inocência dos cortes da luz. «Falha de electricidade é um erro técnico o que acontece. Quando o FC Porto foi à Luz ligaram o sistema de rega», disse.

Disse e esticou-se.

Porque não há ninguém que acredite que a ligação do sistema de rega (quando o tal jogo tinha acabado, o que já faz a diferença) na Luz «foi um erro técnico» que aconteceu, pois não?

Alan terá levado longe de mais o seu esforço na ânsia de grande profissional que quer defender o bom nome da sua entidade empregadora mas que, por excesso de voluntariedade e pouco tino, acaba por cometer um lapso de analogia que era absolutamente dispensável.


ALAN não fez uma exibição muito inspirada contra o Benfica e até parece que só acordou para o jogo 24 horas depois de Pedro Proença ter apitado para o fim da contenda. Acordou e acusou Javi Garcia de lhe ter chamado «preto», a ele que «preto eu, não, é negro».

A frase é confusa, admita-se.

Não é claro se Alan está a querer dizer que não é preto, que é negro. Ou se Alan está a querer simplesmente explicar-nos em que língua é que Javi o insultou, visto que em língua castelhana não existe «preto», só se usa o «negro».

Este vai ser um inquérito difícil para os juízes da Liga. Até porque todos sabemos que não há prova documental dos insultos visto que Alan acabou com o suspense afirmando que o jogador espanhol do Benfica «pôs a mão à frente da boca» quando falou. Para ninguém lhe poder ler os lábios, estão a perceber?

Lá mais para os Santos Populares teremos notícias destes inquéritos.


A selecção começa amanhã o seu mano-a-mano com a Bósnia Herzegovina. Hélder Postiga, que tem sido titular indiscutível na equipa de Paulo Bento, disse no início da semana que «atrapalha mais a chuva» do que as declarações de Bosingwa, o lateral-direito do Chelsea que o seleccionador preteriu em favor de João Pereira e de Sílvio.

Postiga saberá com certeza do que está a falar e bem pode ter razão. Quem lá está dentro é que sabe, como se costuma dizer. Mas a verdade é que se todas as equipas e selecções inevitavelmente se renovam, no caso da selecção portuguesa nos últimos largos tempos não houve renovação que não tivesse o seu quê de contencioso ou de purga, desde o cortejo de abandonos por vontade própria ao vigoroso índex dos malquistos por vontade alheia. Que amanhã não chova para vermos se isto acaba tudo em bem e ao som do Hino Nacional.


O seleccionador da Bósnia-Herzegovina diz que a selecção portuguesa defende mal. É verdade que sim, defendeu muito mal nos últimos jogos. Aliás foi por aí que engrossou o maior caudal de críticas à equipa de Paulo Bento.

Os adeptos portugueses foram logo os primeiros a apontar essa fraqueza e os comentários foram na generalidade produzidos com a maior sem-cerimónia para a qualidade e entrosamento dos nossos jogadores mais recuados.

Agora veio um senhor bósnio-herzegovino dizer exactamente a mesma coisa e o país sentiu-se ofendido. Somos assim. Para dizer mal de nós, estamos cá nós primeiro. Aos outros, exige-se respeito, muito respeitinho.


NAS próximas eleições para a Federação Portuguesa de Futebol o Sporting joga deliberadamente ao ataque em dois tabuleiros. E, portanto, sairá sempre vencedor o que tem as suas virtualidades.

Godinho Lopes reitera a cada momento o seu apoio a Fernando Gomes, de acordo com as notícias de todos os jornais. Luís Duque, de acordo com o Correio da Manhã, mantém-se inabalável na campanha por Carlos Marta ao ponto de «ameaçar mandar regressar a Alvalade já em Dezembro» os jogadores que o Sporting emprestou aos clubes da Associação de Futebol de Lisboa que assinaram a convocatória da assembleia-geral que visa destituir Marta, o actual presidente da AFL.

Estas eleições da FPF estão como o universo, em expansão. Não só vão decidir quem vai suceder a Madaíl na presidência do referido organismo de utilidade pública, como também vão decidir quem manda nos árbitros e nos delegados e, como se já não bastassem tantas decisões num acto só, vão também sufragar quem é que verdadeiramente manda no Sporting.

Atenção, portanto, ao dia 10 de Dezembro."


Leonor Pinhão, in A Bola

Mãos fortuitas

"Os penáltis são golos quase certos. Portanto, os árbitros não podem assinalá-los por dá cá aquela palha ou em lances duvidosos.

Um dia destes, num jogo decisivo – pois decidia o último classificado –, vi o árbitro punir uma mão casualíssima (que ditou o vencedor), ainda por cima 5 minutos depois da hora!

No domingo, em Braga, vi um avançado centrar, um jogador do Benfica virar as costas, a bola bater-lhe num braço encostado ao corpo e o árbitro assinalar penálti. O resultado estava em 0-0.

Hora e meia depois, em Alvalade, vi um jogador do Leiria estender a perna à bola, cortar, a bola raspar-lhe na mão e o árbitro marcar penálti.

Uma vez o árbitro Pedro Henriques explicou que uma bola que ressaltasse do pé do jogador para a mão nunca podia ser penálti – porque o penálti exigia intencionalidade e a distância entre o pé e a mão é demasiado curta para isso. Mas a toda a hora marcam-se faltas destas!

Ora isto, senhores árbitros, não pode acontecer! É um desrespeito para com os jogadores – que andam 90 minutos a correr e veem esse esforço tornar-se inglório por um erro vosso –, um desrespeito para com o público e um desrespeito para com a verdade.

Senhores árbitros: tal como os juízes no tribunal, os árbitros dentro do campo não podem ser executores cegos das leis. Têm de ter bom senso. Não devem transformar mãos fortuitas (e lances inofensivos) em golos quase certos! Só devem marcar penálti quando tiverem a certeza da gravidade da falta e de que houve intenção. Não falseiem os resultados. Isso não dignifica o futebol e não contribui para a verdade desportiva!"


José António Saraiva, in Record