sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O homem do fraque

"As Antas estavam às moscas. Ou melhor, às varejeiras. Eles não têm culpa, pobres diabos, vendo bem. O Euro-2004 desorganizou a verdade dos estádios de Portugal - pôs em Leiria um de 25.000 lugares onde só vão 500 macacos; pôs em Aveiro um de 35.000 lugares onde só vão meia-dúzia de apanhadores de moliço; pôs no Algarve um de 20.000 lugares onde não vai quem quer que seja; e pôs nas Antas um de 50.000 lugares que encheu no jogo de estreia do Europeu e só volta a encher quando joga lá o Benfica e saem à rua todos os ordinários das redondezas com as bocas cheias de pedras e de bolas de golfe. Por isso, repito, não é de admirar que lá tenham estado meia-dúzia de gatos pingados.

É o normal. Árbitro não deve ter estado, nem fiscal-de-linha, senão teriam visto aquele golo em fora de jogo, que tão conveniente foi para descansar o clube em que todos parecem andar irritados uns com os outros, vá lá saber-se se por não perceberem ao certo como ganham, se por não perceberem ao certo como não ganham. Lá do alto do seu poiso que, como dizia o Hugo Chávez, deve tresandar a enxofre, o Madaleno controla tudo. Tem mesa marcada na marisqueira de Matosinhos até para o árbitro incompetente que se esqueceu de lá ir. Um envelope ou dois para resolver qualquer problema urgente que a explosão da crise possa ter criado nos últimos dias para os representantes do senhor de cócoras, sempre tão alegremente submisso. E umas meninas de coro para completar o convívio com as facturas da utilização a serem arquivadas na pasta das refeições. O único problema do Madaleno é não saber o que fazer com aquela figura sinistra e muda que, jogo após jogo, se mantém em pé no topo da bancada das Antas: o homem do fraque..."


Afonso de Melo, in O Benfica

A importância de Garay

"A vitória em Aveiro foi mais importante do que os números e os títulos dos jornais fazem supor.

Em primeiro lugar, o Beira-Mar, frágil no ataque, tem uma excelente defesa, depois o jogo sucedia a uma deslocação importante da Liga dos Campeões e o Benfica estava cansado, por fim vencemos uma arbitragem que, sem erros clamorosos, daqueles que fazem manchetes, empurrou nas pequenas faltas, nos amarelos, nos foras-de-jogo, o Benfica para um risco permanente de empatar o desafio. Um bom árbitro que não fez uma boa arbitragem e foi mal auxiliado.

Em suma, sem deslumbrar o Benfica conseguir ganhar e de preferência não passar por tantos sobressaltos. Aqueles livres e cantos no últimos minutos de Aveiro desfazem o coração do mais pacato adepto.

Olhanense, SC Braga e Sporting decidem muito daquilo que será o nosso campeonato. Os próximos três jogos serão decisivos na corrida ao título e não poderá haver deslizes. Parece claro que este ano a corrida será a três, é bom para o futebol que assim seja, e se for leal a competição o vencedor terá ainda mais valor e mérito. Ganhar na batota alegra pouco e poucos. Ganhar com classe e qualidade tem que ser o objectivo de um futebol decente.

Muito se tem falado das contratações mais importantes deste ano no Benfica, Nolito fez títulos no início da época, Artur veio depois ao impor a sua calma e serenidade como atributos decisivos, já poucos regateiam elogios a Bruno César e a Witsel, mas poucos falam de uma das mais decisivas contratações, Garay. Fantástico central, calmo e personalizado, com uma qualidade de passe rara, com um entrosamento com Luisão como se jogassem juntos desde pequenos, uma das mais decisivas compras do Benfica.

Hoje, temos uma das melhores duplas de centrais da Europa, na boa linha de Humberto, Mozer, Ricardo ou Gamarra."


Sílvio Cervan, in A Bola

Vitórias

"1. Categórico (e importantíssima) vitória em Basileia, muito 'tremido' o triunfo em Aveiro, onde não gostei da nossa equipa, que deveria ter 'morto' o jogo a tempo e horas, não nos fazendo sofrer naqueles minutos finais, quando um qualquer lance fortuito poderia dar um triste empate. Mas o importante foi ter-se ganho, mantendo a liderança. Vêm aí jogos (quase) decisivos...


2. Já aqui o disse: pelo seu passado, intimamente ligado à Direcção comprovadamente corrupta de Pinto da Costa no FC Porto, Fernando Gomes, candidato a presidente da Federação, não me inspira confiança. No entanto, a composição da sua lista, nomeadamente com Hermínio Loureiro e Humberto Coelho em postos importantes, deixa-me bem mais descansado. O Benfica, tal como muitos outros clubes, já manifestou o seu apoio a esta candidatura. Mas, entretanto, surgiu uma outra, encabeçada por Carlos Marta e apoiada (nomeadamente) pela Associação do Porto (Lourenço Pinto). Estranhamente, Fernando Seara aparece como presidente da Assembleia Geral.

Lamento (mas já não me surpreende...) que um benfiquista com responsabilidades apareça a 'apadrinhar' uma lista destas. Mais grave ainda é a posição de Luís Duque, com um alto (e bem remunerado) cargo no Sporting e que apoia uma candidatura contrária aquela que o seu clube defende. Mas isso é problema deles...

E quanto ao presidente da Associação de Lisboa, sempre de braço dado com a do Porto, chegou a hora de dar lugar a outro. Li com entusiasmo a notícia de que os clubes da principal associação do País se preparam para correr com ele.


3. O Sporting tem alguma razão de queixa das arbitragens num ou outro jogo das jornadas inaugurais do Campeonato. E tem feito à conta disso uma grande campanha de vitimização, alimentada por alguns jornais. Campanha que incluiu, a dada altura, notícias de desconfiança em relação a João Ferreira, que iria arbitrar um jogo seguinte, facto que agora de tenta esquecer mas que esteve (esse sim) na origem da 'greve' dos árbitros. Curiosamente, não vi salientado o facto de a sua vitória da semana passada frente ao Vaslui ter começado a desenhar-se com um penálti contra não assinalado, com consequente agressão e expulsão de jogador adversário..."


Arons de Carvalho, in O Benfica

12.º Jogador

"O treinador do Benfica convocou 20 jogadores para o desafio no campo do Beira-Mar e cuidou que não ficasse em casa o 12.º jogador: «A situação do País não está fácil, mas espero que tenhamos um enorme apoio». E a equipa teve «enorme apoio» que o treinador pediu. Estava uma enchente no Municipal Mário Melo Duarte, de Aveiro, e ninguém terá dúvidas sobre quem tinha a maioria absoluta naquelas bancadas. Bastaria ouvir a banda sonora do encontro. Nos anteriores jogos em casa - excluindo a recepção ao Sporting -, o Beira-Mar tivera uma média de 2300 espectadores, média que subiu para 6700 com o Beira-Mar, 0 - Sporting, 0. No jogo com o Benfica era perto de 20 mil, o que elevou a média do estádio de Aveiro para 9900 espectadores.

E é assim com o Benfica, e só com o Benfica, que acontece este milagre, semana som, semana não, de casas cheias por esse País fora, público nas bancadas e dinheiro em caixa.

O Porto precisou do Benfica para levar 49 mil ao estádio. O vice-presidente da SAD do Beira-Mar reconheceu que a visita do Benfica permitiu «resolver questões prementes» do clube aveirense.

Mas do lado do Beira-Mar, independentemente da vontade do clube de Aveiro, que joga o seu futebol defensivo com muita entrega, houve também um 12.º jogador: foi um indivíduo fardado de azul e munido de um apito. Nenhum outro player deste desafio virou tanto jogo contra a baliza do Benfica, apitando por tudo e por nada, com dualidade de critérios, vendo faltas onde elas não existiam e vendo outras ao contrário, apontando livres perigosos à medida que os minutos se aproximavam dos 90. Em Aveiro, como é frequente em diversos jogos e modalidades, o Benfica ganhou contra duas equipas."



João Paulo Guerra, in O Benfica

Onda vermelha

"O Benfica foi jogar e ganhar a Aveiro. Mais de vinte mil benfiquistas nas bancadas ajudaram a trazer vida a um estádio novo e já decrépito, fruto de um investimento mal pensado aquando do Euro 2004, e com uma decrepitude resultante de uma gestão de merceeiro que não permite uma manutenção minimamente digna. Vinte mil benfiquistas serviram de bodo ao Beira-Mar, da mesma forma que vão servindo de bodo a tudo quanto é clube espalhado por este Portugal de mão estendida em busca de esmola.

A chico-espertice de uns quantos dirigentes associada a uma vergonhosa falta de eficaz regulação dos preços dos bilhetes leva a que se aproveitem despudoradamente dos benfiquistas a cada deslocação do nosso clube a casa alheia. Vemos, ano após ano, clubes a subsistirem desportivamente num beija-mão subserviente a um dono alheio que vai satelitizando e parasitando clubes com treinadores, jogadores e até dirigentes e outros homens de trazer no bolso. E vemos que esses mesmos clubes subsistem financeiramente em grande parte graças à receita que conseguem aquando da visita do Benfica.

Na presente época, devido aos bons resultados da equipa, começamos a ver crescer essa onda vermelha que acompanha a nossa equipa para todo o lado. A onda que recentemente mostrou em Basileia como é que, jogando fora na Champions, acabávamos por ter um apoio superior aos da casa é a mesma que em Aveiro demonstrou um apoio massivo e inequívoco à equipa. Desta onda fazem parte os três mil que se deslocaram recentemente, a meio da tarde, ao Estádio da Luz para ver um… treino.

Esta onda vermelha de crença e benfiquismo merece uma equipa vencedora e profissionais dignos e empenhados, mas merece também que quem regula o futebol em Portugal saiba tratar com respeito os que, pela sua presença nos estádios, garantem a subsistência do futebol em Portugal. Infelizmente, nem a Liga nem a Federação nos têm respeitado."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica