sexta-feira, 29 de julho de 2011

Faça inversão de marcha

"«Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros, apreciem cada momento, agradeçam», as palavras são do actor António Feio, falecido a 29 de Julho de 2010, faz hoje precisamente um ano. Se não vos tocou na altura, se não a viram, se por acaso nem se aperceberam da sua existência, posso garantir-vos que a mensagem do actor, a propósito do filme 'Contraluz», de Fernando Fragata, é por si só uma inspiração, tão poderosa que se torna difícil de qualificar. Arrebatadoramente urgente, diria eu. Falou para todos aqueles que teimam em não dar importância ao que lhes é oferecido, ao que lhes é colocado à frente, aos dispor. António Feio falava durante uns curtos 42 segundos, antes de se iniciar o trailer que tem Joaquim Almeida como protagonista. Em menos de um minuto, AF alertou para o que realmente importa, «aproveitem», »ajudem-se», «apreciam» e «agradeçam». Em menos de um minuto foi quase tudo expresso e tornado evidente. O que ficou de fora não é inspirador, verdade seja dita. Evoco hoje António Feio, um grande benfiquista, por considerar a homenagem justa, simples mas oportuna. Acima de qualquer outra razão, evoco o comentário em Contraluz como chamada de atenção aos sócios e adeptos, a todos quantos amam o Benfica e se emocionam com a grandeza deste Clube. Temos um bem precioso, aqui, à nossa frente, ao dispor, temo-lo erguido por nós e mantido com o nosso contributo. É um bem precioso, que nos presenteia, que nos enche de alegria e esperança, que nos faz vibrar e regressar dia após dia, semana após semana, ano após ano. Aproveitemo-lo. Se o leitor não entende isto está no caminho errado. Acorde, oiça o GPS: faça inversão de marcha, está na rota errada para o seu destino... faça inversão de marcha, está na rota errada para o seu destino."


Ricardo Palacin, in O Benfica


Mais dano que várias cruzadas

"Estes otomanos curiosos que festejam o minuto 61 como se de um título se tratasse são disciplinados e perigosos. Mas depois do minuto 61 apenas levaram para se lembrar aquele passe poético em que Aimar isola Nolito e um golo do outro mundo de Gaitán que causou mais dano a estes infiéis que várias cruzadas juntas.

O Benfica fez um óptimo resultado e parte como favorita para a segunda eliminatória, mas ao contrário daquilo que muitos adeptos defendiam, Jesus esteve bem ao tirar pressão ao jogo. Ao colocar a eliminatória com apostas de 50 por cento para cada lado, o treinador manteve a exigência e responsabilidade mas baixou a ansiedade e nervosismo que outra abordagem poderia trazer. Esteve bem, antes e durante o jogo, as substituições foram certeiras, algumas até as faria uns minutos antes na minha condição de 'treinador de bancada'. Um desabafo insolente de quem olhava o banco de suplentes deste jogo; ir ao banco buscar Maxi, Nolito e Witsel não é a mesma coisa que recorrer a Weldon, Filipe Menezes ou Kardec. Este plantel é muito melhor, tem muito mais soluções e com tempo e confiança a equipa também o será.

Na Luz pairava um receio infundado, neste momento o mais decisivo é conseguir pôr os jogadores em níveis físicos bons. O modelo de jogo que Jesus impõe funciona muito bem quando há essa disponibilidade e fica muito exposto quando a equipa está cansada. Para nosso bem, também os turcos estão em pré-época.

Mas se a diesel já jogamos de forma razoável e positiva, esperem para ver a equipa a carburar com gasolina 98 octanas.

Particular alegria por ver novamente Rúben Amorim a jogar com a nossa camisola, recuperá-lo é uma grande contratação.

Lição de profissionalismo aquela que Maxi Pereira nos deu, ganhou a Copa América, foi ver os filhos recém-nascidos e regressou para jogar.

Alguns jogadores são vedetas outros são heróis. Maxi é herói."


Sílvio Cervan, in A Bola

Considerações (o início...)

"Escrevo esta crónica sem saber o resultado do jogo da pré-eliminatória europeia e também sem saber qual o plantel que Jorge Jesus escolheu para a época que começou.

Espero que tudo tenha corrido pelo melhor, quer para o plantel definitivo, quer para a competição europeia.

Durante o Apito Dourado os árbitros resolveram os campeonatos que eles conquistaram. Tudo começou, de forma arcaica, em 1979. Manuel Vicente, árbitro da A.F.V. Real, arbitrou-nos nas Antas e a três jornadas do fim. o célebre árbitro era compadre de Pedroto. Estivemos a ganhar 1-0, até aos 83 minutos de jogo. Fomos empurrados para dentro da baliza por aquele senhor. Eram faltas atrás de faltas, livres atrás de livres, tinham-nos expulsado o Bento para não jogar aquele que seria o jogo do título. Tanto fomos empurrados que Ademir, de ressaca, fez um golo feliz. Após 19 anos de jejum iria começar aquilo que depois de tornaria habitual.

Mas mesmo com influência nos homens do Apito, eles vão-se refinando e começam a encontrar outras formas de ganhar o título. Escolhem os parceiros. Com esses parceiros escolhidos, os pontos são logo contabilizados nos jogos fora e em casa. E, com esses mesmos parceiros, nós somos obrigados a ganhar, para não perder-mos terreno. O que nem sempre acontece.

Já fiz as minhas contas para a próxima época. Eles entram em campo com um super avit de 42 pontos. Ou seja, 6 pontos a multiplicar por 7 equipas. Em casa e fora. Sei quais são as equipas, todas têm obrigação de saber.

Só nos resta uma solução. Ganhar jogo após jogo. Jesus sabe, como eu, onde está o perigo real. É nesses jogos que temos de dar o máximo. Aliás, em todos. Se assim for, seremos campeões."


José Alberto Pinheiro, in O Benfica

José Àguas "cantado" pela filha do "Pai Herói"

"Foi Helena Águas (a Lena d'Água das canções, voz única e inesquecível) que, utilizando o seu apelido de baptismo, decidiu escrever 'José Águas, o Meu Pai Herói' (Oficina do Livro), biografia de um dos maiores jogadores de sempre do Futebol português, mas também uma homenagem capaz de reavivar memórias exaltantes, e, por isso mesmo, um verdadeiro acto de amor.

Lendo este livro bem construído e bem escrito, ficamos a saber muito mais sobre o grande jogador do Benfica e da Selecção Nacional, sobre o pai e sobre o marido, sobre o homem que escrevia belas cartas de amor aos filhos e se tornou, tão merecidamente, o herói deles. Este é um livro que fala do Futebol como competição desportiva, quando ainda não possuía a dimensão mediática e global que hoje tem, mas também da vida de um homem que se tornou ídolo de multidões num País ainda a preto e branco.

Tem ainda este livro um especial elemento de atracção para o leitor, seja ele benfiquista ou de outro clube: um prefácio comovido e comovente de António Lobo Antunes, que nos faz sentir ainda mais benfiquistas, mesmo quando, como acontece no seu caso, o tempo relativiza a mágoa das derrotas e conduz ao despreocupado 'estou-me nas tintas'. Mas eu sei, também por experiência própria, que essa atitude é muito mais para evitar a decepção e a tristeza do que para arrefecer o que nos vai no coração. Um benfiquista é sempre benfiquista, e se ler esta biografia de José Águas, escrita pela sua filha, Helena, com a tinta forte de admiração e de um tocante amor, ainda sente mais essa camisola colada à pelo e ao coração.

'O Meu Pai Herói', que nasceu de um convite feito em boa hora pela editora, Maria João Lourenço, a Helena Águas - Lena d'Água, é uma biografia 'sui generis', que revela dotes narrativos desconhecidos da cantora e nos permite partilhar a glória vivida por esse pai herói que tantas alegrias deu aos benfiquistas e a Portugal. A Não perder."


José Jorge Letria, in O Benfica

Saber ser grato

"Ter a possibilidade de, como atleta, servir um dos poucos clubes míticos no Mundo deveria ser encarado como um privilégio. Os privilégios agradecem-se.

Recentemente, ao ler o livro que Helena Águas escreveu sobre o seu pai, o nosso José Águas, percebia-se o sentimento de permanente agradecimento que o grande José Águas tinha para com o Benfica, os seus colegas de equipa e os adeptos do clube. A todos, em vários momentos, José Águas agradecia. Além disso, agradecia o privilégio de poder ter servido o Benfica com tal dignidade que acabou por fazer parte do património simbólico de todos nós, benfiquistas.

A vida deu-me o privilégio de trocar ideias, conversar e debater o Benfica com muitos dos que foram (e são) faróis do benfiquismo e exemplos de gratidão para com o Benfica. Desde Nené a Rui Costa, passando por Pietra ou Toni, todos demonstram, nos pequenos gestos, nas expressões que utilizam e nas ideias que veiculam, uma gratidão ao Benfica apenas ao alcance dos que sabem ser humildes na grandeza. São-no naturalmente, sem gestos calculados, sem teatralizar o sentimento, ou seja, são-no genuinamente. Perceberam que, pela sua conduta, passaram a fazer parte da história simbólica do Benfica. E, também por isso, não desperdiçam o privilégio de ficar com as pessoas, os adeptos, os benfiquistas, na sua história.

Alcançar este patamar não se consegue a beijar o emblema, a envergar a braçadeira de capitão ou a fazer declarações de circunstância. Consegue-se com respeito pelo Benfica e gratidão honesta pela possibilidade de se tornar um símbolo para milhões de pessoas. Uns sabem perceber o tempo, o espaço e o modo. Esses são os que ficam. Outros nunca perceberão sequer o tema abordado neste texto. Esses são os que passam."

Pedro F. Ferreira, in A Bola