sexta-feira, 27 de maio de 2011

O merceeiro mentiroso e as continhas da mixórdia

"Mais, muito mais importante do que fazer contas sobre o número de trófeus do FC Porto e do Benfica (como se valessem todos a mesma coisa...), devia estar o interesse desportivo e jornalístico de saber quantos desses troféus foram esbulhados pelos portistas aos adversários nos últimos 25 anos à custa de favores sexuais, mariscadas, viagens ao estrangeiro e toda a tranquibérnia de porcarias que as escutas do 'Apito Dourado' nos ofereceram no seu horroroso esplendor.


Bairro Alto: 2h30 da manhã. Um pequeno grupo de rapazitos funde-se com as esquinas como se se escondesse de alguma coisa, enganando os quadrados iluminados dos néons dos bares que se abrem, porta sim, porta não. Traziam, por debaixo dos casacos, cachecóis azuis, e a princípio pensei que vinham com medo de festejar na rua, como seria seu direito, o último troféu ganho pelo seu clube com um golo duvidoso. Mas, depois, observei melhor. Não era medo que eles tinham. Nem havia sequer razão para tal, o ambiente era pacífico e bem disposto. Eles tinham era vergonha. Entre si, uns com os outros, terão exibido os panos, os adereços, até as camisolas azuis e brancas; na rua, tapavam-se como se mascarassem a nudez. Um, mais disponível, tratou de mostrar o cachecol. E logo se ouviu, aqui e ali, um coro acabrunhante, acusatório, humilhador, mortificante:

-CORRUPTOS! CORRUPTOS! CORRUPTOS!

Os garotos dobraram a esquina, fugindo. Só o eco os perseguiu:

-CORRUPTOS! CORRUPTOS! CORRUPTOS!

A cena foi triste.Patética até. A culpa não é deles. São apenas garotos que procuram divertir-se. Mas nós sabemos de quem é a culpa. Por mais que haja gente que vire a cara para o lado e faça de conta que não vê, que não viu, que não ouviu. Sabemos bem quem ainda neste momento emporcalha a alegria destes adolescentes que deveria ser apenas espontânea e saudável.

Panfletário, obedecendo cegamente às ordens que lhe cospem, o merceeiro mentiroso que nos insulta, semanalmente, - a todos nós e à língua portuguesa - com páginas inteiras carregadas de erros de concordância e de sintaxe, fez as suas contas mixordeiras. Nas mercearias baratas, é assim que as coisas são: somam-se batatas com grão de bico e farinha de pau com mandioca. Para tão triste figura, que se predispõe a mentir só para ficar bem visto pelos seus senhores (que não são sequer os que principescamente lhe pagam barbaridades), vale tudo o mesmo: Taças, Supertaças, Campeonatos e até um ou outro troféu que se dá ao luxo de inventar, como a Taça dos Leitões Europeus. Importa enfiar tudo no mesmo saco e engazopar o cliente.

Tal não seria grave, pois o seu descrédito é total, como sempre acontece a quem tem uma mercearia que vende produto peçonhento. Mas, o rebanho de jornalistas de estrumeira e anõezinhos televisivos logo vê na mixórdia feita uma forma de agradar ao ferrabrás que os fascina. E calcorrem de imediato, alegremente, as pisadas do merceeiro aldrabão, seguros de que tal lhes continuará a valer benesses dos seus empregozinhos periclitantes. Esquecem-se (ia a escrever esquecem-se, mas não se esquecem, fazem-no na plena consciência da sua porcaria) de que muito mais importante do que fazer contas sobre o número de troféus do FC Porto, devia estar o interesse desportivo e jornalístico de saber quantos desses troféus foram esbulhados aos adversários nos últimos 25 anos à custa de favores sexuais mariscadas, viagens ao estrangeiro e toda a tranquibérnia de porcarias que as escutas do 'Apito Dourado' nos ofereceram no seu horroroso esplendor. Sim, eles bem podem erguer e expor as taças, mas serão suas? Há um número considerável, diria mesmo gigantesco, que não é ! Ficámos a saber, ao longo dos últimos anos, que há Campeonatos e Taças, e até uma Taça dos Campeões - além do 'caso Ivanov' também sabemos agora que gastar bastante em prostitutas no Campeonato anterior - que estão na vitrina errada. Eles exibem-nas, mas que valem? NADA! São simples objectos que ficarão ali, para sempre, a recordar uma determinada (in)cultura e uma forma de estar na vida na qual roubar, enganar, mentir e forjar são as bases da sobrevivência. Por maior repugnância que isso provoque em todos nós, que desprezamos merceeiros aldrabões e sentimos que, como dizia Orwell, até o mais baixo, abjecto e vil dos seres humanos terá de dizer BASTA!, nem que seja para si próprio, baixinho, e fazer finalmente aquilo que é correcto."


Afonso de Melo, in O Benfica

3500 é um número que impressiona

"Esta é a edição número 3500 do Jornal semanário oficial O BENFICA. Um número que impressiona, pelo que representa e dedicação de todos os Colaboradores à insigne memória do seu Clube. O nosso Glorioso Sport Lisboa e Benfica. E, sobretudo, por, ao longo destes mais de 67 anos, imposto como o verdadeiro acervo e o registo mais justo e perfeito das performances e da infinitude de casos históricos que montaram a inextinguível grandeza do Benfica.

Luminosas personalidades da Comunicação e da Cultura portuguesas, como José Magalhães Godinho, Paulino Gomes Júnior, António Fezas Vital, Adolfo Vieira de Brito, Baptista Rosa, J.M. Boavida-Portugal, João Loureiro, José Respício, Carlos Morgado e Adriano Cerqueira, foram, entre outros, alguns dos vinte e seis muito ilustres Directores que me antecederam nesta honrosa missão de dirigir a manter acesa a 'chama imensa' do Clube diante dos seus Sócios mais dedicados. Nas mesas da redacção do nosso Jornal, foram trabalhando, ao longo destes impressionantes 3500 números, centenas de figuras importantes do Jornalismo português, que orgulhosamente o passaram a ostentar nos seus currículos. Também não os esquecemos nesta hora, a todos e a cada um deles, em especial àqueles a quem o Destino quis roubar do nosso convívio.

Nas horas boas e nas horas más, O BENFICA sempre continua a dar a notícia, regista o comentário, fixa o recorde, acolhe as mensagens do atleta ou do treinador, exalta o herói, narra a Assembleia Geral, revela os bastidores, denuncia o escândalo que desonra a competição desportiva, ajuda a erguer a construção do Estádio, refere as decisões da Direcção, fotografia o lance, incita à vitória ou relembra o passado, apontando sempre para o futuro.

O destaque temático da edição desta semana, em que relembramos o cinquentenário da chegada do rei Eusébio ao Benfica, é mais um claro exemplo desta insigne ponte virtual, em que ligamos o passado ao futuro que queremos viver apaixonadamente.

No tempo em que O BENFICA foi criado, no final do ano de 1942, por decisão dos seus Sócios, não havia as condições de oferta de comunicação que hoje conhecemos: o Jornal surgia em casa dos nossos primeiros Assinantes, como um prodigioso veículo que lhes levava a própria alma do Benfica. Ainda hoje assim o mantemos, para Honra e Glória do nosso querido Clube, quando são agora múltiplos os canais de comunicação estabelecidos entre o universo desportivo e empresarial do Sport Lisboa e Benfica e os seus dedicadíssimos destinatários.

Mas 3500 edições depois de início, o espírito com que se trabalha, no piso 2 da ala Noroeste do Estádio da Luz, lado a lado com as instalações da BENFICA TV - a nossa jovem irmã, continua a ser o mesmo do 1.º número, porque o nosso desígnio permanece honrar o Benfica, celebrar o Benfica e dignificar o universo desportivo português. Semana a semana, mês a mês e ano a ano."


José Nuno Martins, in O Benfica

A Taça Latina e a história

"A Taça Latina sempre foi considerada como competição internacional e oficial e, como tal, sempre foi contabilizada por A BOLA nos palmarés dos clubes que a venceram.
O mesmo sucede, aliás, em Espanha, onde Real Madrid e Barcelona também continuam a considerar, como oficiais, os seus títulos latinos.
Recentemente, a propósito de uma questão que a Lusa suscitou junto da FIFA, aliás, promovida por uma discussão de mero ego clubístico, sobre quem já detinha mais títulos oficiais em Portugal, surgiu uma resposta surpreendente.
Segundo a Lusa, a FIFA não consideraria, como oficial, a Taça Latina conquistada pelo Benfica no ano de 1950 porque «não eram aplicadas as leis do jogo em vigor na altura».
Nas consultas, entretanto, feitas por A BOLA não consta que as Taças Latinas fossem jogadas com leis de jogo diferentes.
Eventualmente com aspectos diferenciados de organização, mas, esses, não menos oficiais do que, por exemplo, algumas Taças Intercontinentais, desde as que se jogaram entre equipas que não tinham sido campeãs continentais, até às que foram realizadas por marcas privadas, como foi o caso da Toyota.
Apesar disso são - e a nosso ver bem – consideradas como competições oficiais.
Quando se trata de mudar a história, é preciso mais do que um parecer oficioso e de argumentação duvidosa.
A BOLA mantém, assim, a sua posição oficial, que, aliás, sempre foi publicada anos e anos a fio, sem qualquer reparo, não abdicando de fazer a necessária e indispensável investigação sobre o assunto.
Mudará – disso não haja dúvida - se for mesmo caso disso.
E, manifestamente, ainda não é."

Vítor Serpa, in A Bola

Traje de passeio

Sou um admirador de longa data – e com prova escrita – do trabalho televisivo da jornalista Fátima Campos Ferreira, em particular da moderação que, na esmagadora maioria das ocasiões, consegue imprimir ao “Prós & Contras” (RTP) que é, em múltiplas circunstâncias, uma “arena” difícil de tornar útil e apresentável. Fátima, insisto, consegue um rácio muito apreciável na condução do programa. Esta ideia, repetida, deixa-me à vontade para concluir que prestou um mau serviço à informação e ao canal para o qual trabalha com a entrevista que anteontem realizou a Jorge Nuno Pinto da Costa.

Primeiro: não estava suficientemente preparada. Só isso explica que tenha designado um dos troféus em exposição como correspondente à Taça da Liga, precisamente a única competição que o FC Porto não ganhou esta época. Só assim se entende o erro de pensar que o alegado jantar de Pinto da Costa, agora investigado pela Procuradoria-Geral da República, com um árbitro holandês tivesse ocorrido em Espanha e não em Matosinhos.

Segundo: nunca foi capaz de marcar uma linha condutora para a conversa, saltando do ponto de vista desportivo para o pessoal, quase ignorando as questões orçamentais e do passivo do clube/SAD (aqui deu “carta branca” para que o presidente portista disparasse duas ou três verbas, sem exercer qualquer contraditório).

Terceiro: permitiu – e, por vezes, com um sorriso de anuência – que Pinto da Costa mantivesse a sua estratégia de ódio irónico contra alguns jornais, desportivos ou não, contra algumas personalidades, sejam elas os “fedorentos” (Domingos Amaral passou, por força de uma crónica, a integrar a trupe dos humoristas...) ou o “meia-tigela” (o vice-presidente do Benfica, Rui Gomes da Silva, outra vez alvo indefeso da verborreia do timoneiro) e um político (o presidente da Câmara Municipal do Porto). Volto a estar descansado neste particular: da mesma forma que defendi que a abertura dos Paços do Concelho ao FC Porto na sequência de uma grande vitória internacional não beliscaria a fronteira entre política e futebol traçada por Rui Rio, consigo perceber que, apesar da apregoada indiferença, Pinto da Costa não perdoa ao autarca. Da mesma forma que não suporta o Benfica. Já agora: convém que alguém explique a Pinto da Costa que as edições on-line permitem que um jornal português possa referir uma notícia do mesmo dia de um jornal espanhol sem que haja aqui batota ou tráfico de influências.

Fátima Campos Ferreira terá presumido que não seria preciso engalanar-se nem vestir o fato de operário para entrevistar Pinto da Costa. Errou. Apresentou-se de traje de passeio e só deu direito a que o seu interlocutor aproveitasse aquilo que garantiu não ver: um tempo de antena.