sexta-feira, 27 de maio de 2011

Traje de passeio

Sou um admirador de longa data – e com prova escrita – do trabalho televisivo da jornalista Fátima Campos Ferreira, em particular da moderação que, na esmagadora maioria das ocasiões, consegue imprimir ao “Prós & Contras” (RTP) que é, em múltiplas circunstâncias, uma “arena” difícil de tornar útil e apresentável. Fátima, insisto, consegue um rácio muito apreciável na condução do programa. Esta ideia, repetida, deixa-me à vontade para concluir que prestou um mau serviço à informação e ao canal para o qual trabalha com a entrevista que anteontem realizou a Jorge Nuno Pinto da Costa.

Primeiro: não estava suficientemente preparada. Só isso explica que tenha designado um dos troféus em exposição como correspondente à Taça da Liga, precisamente a única competição que o FC Porto não ganhou esta época. Só assim se entende o erro de pensar que o alegado jantar de Pinto da Costa, agora investigado pela Procuradoria-Geral da República, com um árbitro holandês tivesse ocorrido em Espanha e não em Matosinhos.

Segundo: nunca foi capaz de marcar uma linha condutora para a conversa, saltando do ponto de vista desportivo para o pessoal, quase ignorando as questões orçamentais e do passivo do clube/SAD (aqui deu “carta branca” para que o presidente portista disparasse duas ou três verbas, sem exercer qualquer contraditório).

Terceiro: permitiu – e, por vezes, com um sorriso de anuência – que Pinto da Costa mantivesse a sua estratégia de ódio irónico contra alguns jornais, desportivos ou não, contra algumas personalidades, sejam elas os “fedorentos” (Domingos Amaral passou, por força de uma crónica, a integrar a trupe dos humoristas...) ou o “meia-tigela” (o vice-presidente do Benfica, Rui Gomes da Silva, outra vez alvo indefeso da verborreia do timoneiro) e um político (o presidente da Câmara Municipal do Porto). Volto a estar descansado neste particular: da mesma forma que defendi que a abertura dos Paços do Concelho ao FC Porto na sequência de uma grande vitória internacional não beliscaria a fronteira entre política e futebol traçada por Rui Rio, consigo perceber que, apesar da apregoada indiferença, Pinto da Costa não perdoa ao autarca. Da mesma forma que não suporta o Benfica. Já agora: convém que alguém explique a Pinto da Costa que as edições on-line permitem que um jornal português possa referir uma notícia do mesmo dia de um jornal espanhol sem que haja aqui batota ou tráfico de influências.

Fátima Campos Ferreira terá presumido que não seria preciso engalanar-se nem vestir o fato de operário para entrevistar Pinto da Costa. Errou. Apresentou-se de traje de passeio e só deu direito a que o seu interlocutor aproveitasse aquilo que garantiu não ver: um tempo de antena.



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