quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Nem com uma ajuda do Porto...
"E disse «Mas que grandes incompetentes!» De facto, é uma experiência diferente ver jogos grandes do nosso clube na companhia de convivas de clubes adversários.
Sendo inevitável que uma pessoa, se for educada, não se sinta à vontade para vincar as suas emoções como, mais efusivamente aconteceria, se estivesse apenas rodeada de correligeonários, também é verdade que a pluralidade dos sentimentos reunidos acaba sempre por produzir pérolas de sabedoria, expressas em tom de amigável rivalidade.
-Mas que grandes incompetentes! - esta foi, por exemplo, a melhor pérola da plateia na minha noite de segunda-feira.
Como qualquer leitor minimamente qualificado já depreendeu, tratou-se do desabafo de um amigo portista dirigido a um amigo sportinguista. E foi proferido no mesmíssimo momento em que Artur Soares Dias deu por acabados os seis minutos de compensação em Alvalade.
Compreende-se, não é?
Falando sozinho, falou por todos os portistas que devem ter sentido o mesmo desencanto quando tanto, mas tanto, tinham apostado no Sporting e na visita do Benfica a Alvalade para a cerimónia de oficialização dos 11 pontos de atraso e, consequentemente, para a cerimónia da entrega do título.
É que o FC Porto ofereceu ao Sporting para esta jornada um apoio moral fortíssimo ao antecipar por largas semanas o seu confronto com o Nacional, da ronda correspondente, de modo a fazer tremer o Benfica só de pensar que ia entrar em Alvalade com os tais 11 pontos de atraso. Mas, obra do acaso, foi o Sporting quem não aguentou a pressão que era destinada ao rival.
Como se não bastasse, o FC Porto ofereceu ao Sporting - e de borla! - ideias divertidas para o ambiente do jogo. Em redor de Roberto choveram no relvado bolas de golfe, isqueiros, tochas e outros artefactos.
E foi também o FC Porto que inspirou o Sporting a passar no ecrã do estádio, antes do jogo, momentos antigos de golos marcados ao Benfica. É que os inspiradores-amigos tinham feito exactamente a mesma coisa no seu Estádio do Dragão quando o Benfica foi lá há menos de um mês jogar e vencer no jogo da Taça.
Não deixa de ser engraçado verificar que com tantas semelhanças os resultados acabaram por ser iguais. O Benfica venceu no Porto e em Alvalade por 2-0 e jogou as segundas partes com 10 jogadores apesar dos esforços dos comentadores da Sport TV que persistiram ao longo dos dois jogos em dar instruções, um tanto infantilmente, para o relvado.
No jogo no Porto bem disseram que para fazer companhia a Varela «precisavam» de mais alguém com as suas características, no jogo de Lisboa nunca desistiram de acreditar na reviravolta do Sporting, embora se enervassem com o volume de bolas pelo ar despejadas para a área de Roberto. Assim não podia ser.
Quanto ao árbitro do derby não se pode imputar qualquer responsabilidade ao FC Porto.
Artur Soares Dias veio do Porto, mas da cidade do Porto, não do clube, que fique bem claro. E a expulsão de Sidnei foi uma ajuda ao Sporting mas foi uma uma ajuda que veio do Porto e não do Futebol CLube do Porto.
E lá que foi uma ajuda, foi, apesar de não ter resultado. Daí o desabafo do meu conviva portista:
-Mas que grandes incompetentes!
Aceitar-se-ia até a expulsão de Sidnei se Artur Soares Dias tivesse expulsado vinte minutos antes Pedro Mendes, o que acabou por não se verificar.
A defesa da honra leonina está agora a cargo dos portistas com voz activa, unânimes em acusar o árbitro de ter roubado o Sporting miseravelmente. Não ficaram, portanto, satisfeitos com o trabalho do árbitro portuense.
Enfim, foi a maneira que arranjaram de não terem de reconhecer que apostaram com entusiasmo excessivo na incompetência de terceiros. Este azedume portista com o portuense Soares Dias só tem paralelo na crispação de Alberto Cabral, o adjunto de Paulo Sérgio, que aproveitou os seus cinco minutos de fama para conseguir exasperar a ala lúcida de Alvalade.
Até ao final da época ainda vai haver mais um derby, pelos primeiros dias de Março joga-se na Luz a meia-final da Taça da Liga. Desta vez é que vamos levar com o Jorge Sousa. Para equilibrar.
JARDEL estreou-se num derby e passou quase todo o tempo em campo de cabeça atada por causa de um choque com Cristiano que, do outro lado, também se estreou num derby embora longe, muito longe da eficiência do benfiquista.
Enquanto o jogo prosseguia, Jardel esteve cinco minutos a ser assistido fora das quatro linhas. Ou seja, o Benfica não só jogou com 10 toda a segunda parte como também durante um bocadinho não menos emocionante jogou com 9. No entanto, não houve danos a registar à excepção dos 9 pontos com que o central de 24 anos foi cosido na cabeça.
Nove pontos que não dão grande jeito na cabeça de Jardel e que são, precisamente, os mesmos 9 pontos que davam um grande jeito ao Benfica para ultrapassar o FC Porto na tabela. Mas não se pode ter tudo.
NA noite de terça-feira o Chelsea jogou em Copenhaga, para a Liga dos Campeões. À mesma hora, em Lyon, o Real Madrid fazia também o seu jogo, com mais e maiores ingredientes de atracção. Mas felizmente há o zapping. E por breves instantes surge-nos Ramires a lavrar o campo na Dinamarca, para a frente, para trás e para os lados, uma máquina impressionante.
Ramires é um jogador do outro mundo. Foi pena que a crítica portuguesa não lhe tivesse reconhecido as suas capacidades raras. Não é que não tenha sido sempre tratado, enquanto esteve no Benfica, como um jogador muito acima da média. Mas poucos se terão dado conta da real dimensão do seu futebol. Foi um prazer revê-lo.
FOI notícia de jornal que um grupo de adeptos portistas fez pela águia Vitória uma oferta de meio milhão de euros ao seu treinador Juan Barnabé. A ideia seria oferecer a grande ave ao presidente Pinto da Costa. Fariam melhor os mencionados adeptos portistas, em nome da amizade com o Sporting, em terem pegado no meio milhão de euros e oferecê-lo à SAD de Alvalade para que pudessem pagar os ordenados ao Liedson.
HOJE é noite de Europa para o Benfica e para o Sporting. Ontem foi tarde de Europa para o FC Porto que sofreu ainda uns vinte minutos mas seguiu em frente. Há uma certa curiosidade em ver como vão os rivais lisboetas, depois do derby, ressurgir em campo. Mas disso falaremos na próxima quinta-feira."
Leonor Pinhão, in A Bola
Sem tempo para tréguas
"Por uma vez, e registando as inevitáveis exceções dos facciosos sem formação e sem códigos, podemos aproveitar a jornada europeia para correr todos para o mesmo lado, acreditando que as quatro equipas portuguesas envolvidas podem seguir adiante. Com apenas um resultado desvantajoso à entrada para a segunda mão, e mesmo esse é tangencial, as hipóteses, mesmo desiguais, são francamente boas.
E quem anda perto do futebol sabe como seria importante – e não, não é só prestígio – que fizéssemos o pleno, avançando a quatro para os oitavos-de-final, marcando pontos, multiplicando receitas, aproximando (nem que seja um bocadinho assim…) a periferia em que vivemos do centro nevrálgico das operações. Os investimentos estariam mais próximos da compensação.
De resto, basta lembrar que os primeiros vencedores da Taça dos Campeões Europeus também foram dois clubes ibéricos. Apetece dizer – e sonhar – que o Atlético Madrid já fez a sua parte, ganhando a edição de estreia da Liga Europa; falta a armada portuguesa corresponder…
Depois desta ronda europeia, a olhar então com fé, adensa-se o calendário, sobretudo para as equipas de topo e em particular para o Benfica. Antes de mais, é – por esta altura – a única ainda envolvida em quatro frentes, uma vez que entre as suas parceiras na Europa, o FC Porto já se despediu da Taça da Liga, o Sporting há muito esqueceu o campeonato e caiu na Taça de Portugal, o Braga – quase redimensionado à era pré-Jesualdo – já percebeu que tem de acelerar na Liga dos pontos para não perder o contacto com a Europa, dando de caras com competidores inesperados como Paços de Ferreira, União de Leiria, Olhanense e Beira-Mar, que se juntam a uma corrida que ainda abarca o Vitória de Guimarães (a um ponto do Sporting e ainda à espera da visita dos leões…) e o Nacional.
Neste quadro, talvez seja o momento de os adeptos compreenderem por que Jorge Jesus não abdicou de algumas pedras menos utilizadas, antevendo que o número de jogos e o respetivo ritmo acabaria por justificar novas chamadas, e não perdeu tempo a inscrever os chamados “reforços de Inverno”, com Jardel e a sua inesperada chamada de anteontem a ser o primeiro a demonstrar utilidade e espírito combativo. Se a malapata germânica for ultrapassada – e é bom que ninguém tenha admitido ir a Estugarda a apontar ao empate –, o Benfica habilita-se, no conjunto das várias provas, a uma das melhores épocas de sempre, não só pelos resultados como pelo nível de empolgamento que regressou às exibições. Ou seja, não fosse a escorregadela inicial – a juntar à via rápida que de quando em vez se abre ao FC Porto –, e outra seria a história. Assim, em boa verdade, não há tempo para limpar armas."
E quem anda perto do futebol sabe como seria importante – e não, não é só prestígio – que fizéssemos o pleno, avançando a quatro para os oitavos-de-final, marcando pontos, multiplicando receitas, aproximando (nem que seja um bocadinho assim…) a periferia em que vivemos do centro nevrálgico das operações. Os investimentos estariam mais próximos da compensação.
De resto, basta lembrar que os primeiros vencedores da Taça dos Campeões Europeus também foram dois clubes ibéricos. Apetece dizer – e sonhar – que o Atlético Madrid já fez a sua parte, ganhando a edição de estreia da Liga Europa; falta a armada portuguesa corresponder…
Depois desta ronda europeia, a olhar então com fé, adensa-se o calendário, sobretudo para as equipas de topo e em particular para o Benfica. Antes de mais, é – por esta altura – a única ainda envolvida em quatro frentes, uma vez que entre as suas parceiras na Europa, o FC Porto já se despediu da Taça da Liga, o Sporting há muito esqueceu o campeonato e caiu na Taça de Portugal, o Braga – quase redimensionado à era pré-Jesualdo – já percebeu que tem de acelerar na Liga dos pontos para não perder o contacto com a Europa, dando de caras com competidores inesperados como Paços de Ferreira, União de Leiria, Olhanense e Beira-Mar, que se juntam a uma corrida que ainda abarca o Vitória de Guimarães (a um ponto do Sporting e ainda à espera da visita dos leões…) e o Nacional.
Neste quadro, talvez seja o momento de os adeptos compreenderem por que Jorge Jesus não abdicou de algumas pedras menos utilizadas, antevendo que o número de jogos e o respetivo ritmo acabaria por justificar novas chamadas, e não perdeu tempo a inscrever os chamados “reforços de Inverno”, com Jardel e a sua inesperada chamada de anteontem a ser o primeiro a demonstrar utilidade e espírito combativo. Se a malapata germânica for ultrapassada – e é bom que ninguém tenha admitido ir a Estugarda a apontar ao empate –, o Benfica habilita-se, no conjunto das várias provas, a uma das melhores épocas de sempre, não só pelos resultados como pelo nível de empolgamento que regressou às exibições. Ou seja, não fosse a escorregadela inicial – a juntar à via rápida que de quando em vez se abre ao FC Porto –, e outra seria a história. Assim, em boa verdade, não há tempo para limpar armas."
Mantorras
"O anúncio da despedida de Pedro Manuel Torres, Mantorras, nos campos de futebol não pode deixar de causar entre os benfiquistas nada menos que uma profunda e sentida emoção. Com razão, nos derradeiros anos da sua carreira, Mantorras representava como que um talismã para as hostes benfiquistas. E algumas vezes, correspondendo à expectativa dos adeptos, ele entrou em campo, marcou e resolveu.
Talvez nem todos os que chamavam agora por Mantorras se recordem do jogador fenomenal, que poderia ter atingido os píncaros da glória.
De muito poucos atletas como Pedro Mantorras se poderá dizer com inteira justiça, e com enorme e sentida tristeza, que «passou ao lado de uma grande carreira».
O desconcertante Mantorras de um admirável hat-trick frente ao Sporting, ao serviço do Alverca, gingão e velocíssimo avançado, ainda brilhou no Benfica, clube do seu coração, e foi cobiçado por grandes potências do futebol mundial, como o Barcelona ou o A.C. Milan.
Mas um ano de 'águia ao peito' acabou com uma dramática lesão num joelho, quatro intervenções cirúrgicas e três anos de afastamento dos relvados.
'Deixem jogar o Mantorras', pediam dirigentes do Benfica quando o fenomenal angolano, mal pegava na bola, era vítima das mais brutais, traiçoeiras e impunes agressões.
Nos poucos anos durante os quais jogou, numa longa carreira de sofrimento, Pedro Mantorras mostrou ser um daqueles raros jogadores que resolve, por entre uma floresta de pernas, ou arrancado de trás e destroçando uma equipa adversária.
Mantorras merecia mais da vida e do futebol. E é de grande nobreza de carácter o Benfica anunciar, comovidamente, que o jogador vai ter a festa de despedida «com a dignidade e o carinho que merece». Nesse dia, os benfiquistas lá estarão."
João Paulo Guerra, in O Benfica
O breve adeus de Vanessa
"Fui um dos muitos portugueses que receberam com estupefacção a notícia da suspensão, por tempo indeterminado, da brilhante carreira de Vanessa Fernandes. Segundo o comunicado difundido pela atleta, é um problema de saúde que se encontra na origem desta interrupção inusitada.
É, como cidadão e como benfiquista, que lamento esta paragem, por certo incontornável, pois, para além dos magníficos resultados desportivos alcançados numa modalidade de elevadíssima grau de exigência, Vanessa, que não conheço pessoalmente, sempre me pareceu ser uma pessoa muito autêntica, combativa e dotada de um invulgar espírito de sacrifício, certamente também herdado do grande ciclista que foi o seu pai, Venceslau Fernandes. O que está na origem desta decisão pertence ao foro da atleta e da equipa que a treina e apoia, mas é legítimo que aqueles que a veêm deixar as competições de forma tão abrupta não consigam esconder a sua surpresa e desconsolo.
Não é preciso ser especialista em Desportos de Alta Competição para se saber que só com um imenso trabalho e, sobretudo, com um inimaginável grau de sacrifício se consegue chegar até onde Vanessa chegou.
Tudo havia ainda a esperar desta carreira brilhante, desde logo nas próximas Olimpíadas, em que ela estaria, naturalmente, entre os candidatos às medalhas. Para Vanessa, e para quem trabalha com ela, esta decisão terá sido das mais difíceis das suas vidas. Só nos resta esperar que ela possa, e queira regressar, apta a completar um ciclo de triunfos que tantas alegrias nos trouxe.
Mas o importante para a jovem atleta é também perceber que, seja qual for a evolução do seu, existe vida para além da Alta Competição e que quem é jovem tem direito a escolher o seu destino, ainda que ele não passe pelos pódios da glória que nos exalta. As carreiras terminam e a vida continua. Aconteça o que acontecer, Vanessa Fernandes já figura na história do Atletismo português, num lugar difícil de igualar. Essa glória já ninguém lhe tira."
José Jorge Letria, in O Benfica