quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Mantorras

"O anúncio da despedida de Pedro Manuel Torres, Mantorras, nos campos de futebol não pode deixar de causar entre os benfiquistas nada menos que uma profunda e sentida emoção. Com razão, nos derradeiros anos da sua carreira, Mantorras representava como que um talismã para as hostes benfiquistas. E algumas vezes, correspondendo à expectativa dos adeptos, ele entrou em campo, marcou e resolveu.
Talvez nem todos os que chamavam agora por Mantorras se recordem do jogador fenomenal, que poderia ter atingido os píncaros da glória.
De muito poucos atletas como Pedro Mantorras se poderá dizer com inteira justiça, e com enorme e sentida tristeza, que «passou ao lado de uma grande carreira».
O desconcertante Mantorras de um admirável hat-trick frente ao Sporting, ao serviço do Alverca, gingão e velocíssimo avançado, ainda brilhou no Benfica, clube do seu coração, e foi cobiçado por grandes potências do futebol mundial, como o Barcelona ou o A.C. Milan.
Mas um ano de 'águia ao peito' acabou com uma dramática lesão num joelho, quatro intervenções cirúrgicas e três anos de afastamento dos relvados.
'Deixem jogar o Mantorras', pediam dirigentes do Benfica quando o fenomenal angolano, mal pegava na bola, era vítima das mais brutais, traiçoeiras e impunes agressões.
Nos poucos anos durante os quais jogou, numa longa carreira de sofrimento, Pedro Mantorras mostrou ser um daqueles raros jogadores que resolve, por entre uma floresta de pernas, ou arrancado de trás e destroçando uma equipa adversária.
Mantorras merecia mais da vida e do futebol. E é de grande nobreza de carácter o Benfica anunciar, comovidamente, que o jogador vai ter a festa de despedida «com a dignidade e o carinho que merece». Nesse dia, os benfiquistas lá estarão."
João Paulo Guerra, in O Benfica

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