quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O poder corrompe

"Em Outubro último, Julio Grondona foi eleito pela nona vez consecutiva presidente da federação argentina. Significa isto que Don Julio como é conhecido em Buenos Aires, está no cadeirão da AFA há 32 anos e, se vier a cumprir integralmente o novo mandato, acabará por lá permanecer 36! Pelo menos. Com 80 anos, tem passado os últimos meses na Suíça para se tratar de um tumor a que foi operado e para se dedicar à FIFA, de que também é vice-presidente há muitos anos. Uma hegemonia assim tão prolongada, no futebol não tem precedentes. O diário El Gráfico escreveu na altura que os 25 anos de Alex Fergunson no banco do Manchester United parecem uma anedota em confronto com a longevidade de Grondona. Esqueceu-se, porém, de referir que nós, portugueses, nesta matéria não estamos distantes de poder pedir meças aos argentinos. Então, não é verdade que temos Pinto da Costa bem perto dos 30?

Fenómenos destes são mais frequentes na política. Os 50 anos de Fidel Castro em Cuba, os 35 de Stroessner no Paraguai e os 32 de José Eduardo dos Santos em Angola são alguns dos muitos exemplos que existiram por esse mundo fora. Nós cá, mais uma vez, não fugimos à regra: Mesquita Machado na Câmara de Braga há 35 anos é um bom paradigma. O que leva toda esta gente a ficar agarrada ao poder por tanto tempo? A resposta vem na imprensa mundial independente: a corrupção, o tráfico de influências, as falcatruas. No caso de Grondona (que dirige as finanças da FIFA e manipula milhares de milhões!), atolado até ao pescoço (com o compadre Blatter) em escândalos, acrescem razões políticas. A presidente Kirchner, para retirar os direitos televisivos ao império mediático do Clarin, hostil à sua governação, e assim fragilizá-lo, precisa de Don Julio."


Manuel Martins de Sá, in A Bola

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