quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Os Manducas

"O nosso Manduca só teve de esperar quatro anos até poder responder convenientemente a Pinto da Costa


EM 2007, o presidente do FC Porto lá foi dar mais uma grande entrevista à SIC e, sempre a pensar no Benfas como é seu apanágio, explicou ao país a receita do seu sucesso.

-Nós no Porto não andamos a comprar Manducas - disse com aquela autoridade papal que, por sinal, nem todos lhe reconhecem.

O nosso Manduca só teve de esperar quatro anos até lhe poder responder convenientemente.

E é caso para se dizer, Manduca, com a sua ironia do costume...


QUE estranho caso o de Hulk. Não pela tinta no cabelo que isso é coisa que não risca nada. Mas pelo destrambelhamento com que se apresenta em campo, a discutir com tudo e com todos que nem o João Pereira, a dar ordens aos colegas que nem o Messi, a assumir sobre os seus ombros bem largos o manto de honrarias e de responsabilidade com que Pinto da Costa o fez Cavaleiro da Causa quando afirmou, num púlpito qualquer, que o único elemento indispensável da equipa de Villas Boas era, nem mais nem menos, do que o próprio Hulk.

Pinto da Costa, embargado, falava depois do abandono de Villas Boas e quando toda a gente falava no interesse de clubes poderosamente mais económicos nos serviços de jogadores como Guarín, João Moutinho, Fernando, Rolando e Falcao, que acabaria por se transferir para o Atlético de Madrid onde se deve chatear de morte.

O presidente do FC Porto foi muito claro ao tranquilizar os adeptos. Podem ir-se todos embora, menos o Hulk.

Vendo, pela televisão, o jogo de Nicósia entre o Apoel e o FC Porto, e as pálidas movimentações em campo dos jogadores campeões nacionais, concluímos que foi isso mesmo que se passou.

Foram-se mesmo todos embora. E só ficou o Hulk. E so o Hulk não chega.


UM tanto ingenuamente, andam muitos benfiquistas contentes com a hipótese do FC Porto não se qualificar para os oitavos-de-final dos Campeões. As rivalidades são assim mesmo. Não se respeita a Pátria, não se respeita o desportivismo, não se respeita nada a não ser a vontade de gozar com os amigos, com os colegas e com os familiares adeptos do clube adversário, em paga por tudo o que já gozaram connosco.

É por esta razão que andam benfiquistas contentes com a carreira do FC Porto na actual fase de grupos da Liga dos Campeões. Pois fazem muito mal se souberem pensar à distância.

Se o FC Porto não se classificar nos dois primeiros lugares do seu grupo, classificando-se no terceiro posto tem acesso directo à Liga Europa, de que é detentor, uma prova que parece ser feita à medida dos clubes da meia-tabela europeia. Recorde-se que no ano passado os finalistas até foram os dois clubes portugueses, para grande desmaio do Michel Platini, e mesmo o Benfica, a viver um final de época horrível, conseguiu ser semi-finalista dessa Liga Europa.

Ou seja, se o FC Porto for parar à Liga Europa arrisca-se a ganhá-la pela segunda vez consecutiva. E então é isto que os benfiquistas querem? Não seria melhor vermos o FC Porto qualificado para os oitavos-de-final, com o seu treinador longe de focos agressivos de opinião, podendo-lhe sair na fase seguinte um Chelsea, de Villas Boas que faria, assim, ao Porto um regresso ainda mais espectacular do que o do Coliseu?

Pensem bem benfiquistas, pensem bem no que é melhor e deixem-se de festejos indignos pelos azares de terceiros.


GOSTO muito da cidade de Guimarães e não me refiro apenas ao centro histórico, mas a toda a cidade que é uma beleza com pontos de equilíbrio raros no desenho e na arquitectura das nossas urbes. E também gosto do Vitória de Guimarães. E do Rui Vitória também gosto porque fala a sério.

Fiquei, por isso, contente com os 3 pontos que o Vitória somou contra o Rio Ave, embora também goste do Rio Ave por causa do João Tomás e não é preciso dizer mais nada.

Do Carlos Xistra, com franqueza, já não gosto assim tanto. Não me refiro à pessoa, que não conheço, e que bem pode ser admirável. Mas como árbitro, aceite-se que não gosto do Carlos Xistra. Mesmo que um erro seu tenha oferecido a vitória ao Vitória de quem gosto o bastante para me alegrar com os seus sucessos mas de quem não gosto o suficiente para me impedir de registar a arte de Xistra no momento da alegre decisão.


EM declarações a uma agência de informação iraniana, Carlos Queiroz anunciou que vai votar em Lionel Messi para o Bola de Ouro de 2011. Trata-se do prémio que consagra o melhor jogador do ano e tem um grande valor simbólico porque é patrocinado pela FIFA e é atribuído por escrutínio das opiniões dos melhores treinadores do mundo. Queiroz é um deles e por isso é chamado a votar.

Na minha modesta opinião, votou bem porque Lionel Messi não só é o melhor jogador do mundo como este ano ainda caprichou ser o melhor jogador do mundo e dos arredores só para irritar Cristiano Ronaldo que leva estas coisas muito a peito.

Se, em vez de ser o seleccionador do Irão, Carlos Queiroz ainda fosse o seleccionador português também votaria, com certeza, em Messi ainda que por tal arrojo de personalidade tivesse de pagar bem caro o preço de ter ofendido Cristiano Ronaldo e 9 milhões de portugueses.

Ou não?


ESTAMOS em Novembro, este mês há derby! Nas cidades, nos campos, nos escritórios, nas fábricas, nos cafés e nas barbearias os dois valorosos campos já andam em despiques retóricos da mais alta intensidade.

-O Domingos não vai pôr o Rinaudo em Leiria para termos a certeza de que pode jogar contra vocês!

-Mas porquê?

-Porque já tem quatro cartões amarelos cirúrgicos para levar mais um em Leiria e não poder jogar com vocês.

-E faz-vos assim tanta falta o Rinaudo?

-O Rinaudo é apenas o melhor argentino de todos os tempos!

-Achas, portanto, que é o Benfica que está por trás desses quatro cartões amarelos ao Rinaudo?

-Evidentemente que está. Isto está a ser preparado há muito tempo para o Rinaudo não jogar contra vocês.

-Mas sabes que o Rinaudo na sua penúltima época no Ginásio de La Plata levou 11 amarelos e na última época levou 13 cartões amarelo=

-Não sei nem me interessa.

-Ah, pronto, está bem.

E até 26 de Novembro as respectivas retóricas não vão sossegar.


O jovem Luís Martins tem razões para estar satisfeito. Estreou-se num jogo da Liga dos Campeões e quando foi substituído o resultado era de um a zero a favor do Benfica. Assim que Luís Martins desapareceu no túnel e Miguel Vítor ocupou a sua posição, o Benfica sofreu imediatamente um golo e a partir daí, francamente, produziu uma exibição quase confrangedora.

Nem sei o que pareciam os jogadores do Benfica em campo. Talvez onze Manducas, mas daqueles Manducas a que Pinto da Costa se referia com desdém, em tempos passados, não aquele Manduca que na terça-feira beneficiou da pressa toda com que Hulk quis repor a bola em jogo depois de ter empatado, de penaltie, acabando por conceder ao jogo o tempo extra suficiente para o Manduca-bom ter assinado o golo da vitória do Apoel.

Ontem, em largos períodos do jogo, o Benfica, salvo honrosas excepções, esteve entregue a um conjunto de Manducas-maus. Aimar, por exemplo, que é um príncipe a jogar à bola, passou o tempo todo em quezílias com os adversários ao ponto de irritar o árbitro que, ao cabo de tantas, lhe deu um merecedíssimo cartão amarelo.

O árbitro esteve mal em muitas ocasiões, é verdade, ficou até por assinalar uma grande penalidade a favor do Benfica, mas o Benfica pôs-se muito a jeito para sofrer o dissabor que acabou por penar.

Uma coisa é certa: o nosso Jorge Jesus fez-nos muita falta."


Leonor Pinhão, in A Bola

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