segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Dois ministros na festa dos pacóvios

"Os dois ministros puseram-se à estrada. Não se sabe se cada um na sua viatura cedida pelo Governo, conduzidos por motoristas cedidos pelo Governo, ou se, tendo em conta a fase difícil em que o País vive, os dois na mesma viatura cedida pelo Governo conduzida por um só motorista cedido pelo Governo. O facto é que se puseram ao caminho, garbosos na sua função ministerial, para representar o Governo, que lhe cedeu carros e motoristas, ou carro e motorista, numa festarola de pacóvios.

Poder-se-á perguntar: indo em representação do Governo, representaram os dois ministros o próprio País? Ao ver os dois ministros aos beijos e abraços com senhores de má fama e condutas absolutamente reprováveis, qualquer impoluto cidadão deste cantão desacreditado teria tendência a sentir um arrepio de nojo.

Há que convir que a função de ministro deveria poupar os seus titulares e representações sinistras numa bambochata levada a cabo por gentalha profundamente corrupta. É verdade que de há muito a esta parte que qualquer um é ministro e já não esperamos deles gestos de decência. Mas também não lembra ao diabo que dois ministros de enfiem num carro cedido pelo Governo (vamos dar de barato que foi só um) e conduzido por um motorista cedido pelo Governo e ala país acima para andar às palmadas nas costas com um jarreta devasso e putredinoso e com um matulão retardado que se entretem a partir a soco e a pontapé a boca de qualquer honrado trabalhador que queira respeitar o seu ofício. A cena foi degradante. Os dois alegres ministros foram patéticos. Figurinhas grotescas num palco de cavalgaduras...


PS: Continuo a seguir muitos jogos de futebol ao vivo, e muitos mais na televisão. Nunca mais vi quem quer que seja repetir o gesto torpe e repulsivo de recusar dar a mão aos meninos que costumam entrar em campo com os jogadores. Parece que, nesse aspecto, Portugal tem o exclusivo de tal corja de velhacos."


Afonso de Melo, in O Benfica

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