quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Afinal, o Schaars tem razão

"O semi-sucesso do Benfica em Manchester começou por onde começam todos os êxitos das grandes equipas de futebol: pela baliza



O Holandês Schaars vai viver este sábado o seu primeiro derby. Ontem falou publicamente sobre o assunto. Schaars sente que «o ambiente está tenso». Schaars é novato nestas rivalidades da Segunda Circular, está visto.

Na verdade, o ambiente não está tenso. Pessoal mais exprimentado nestas coisas dirá, sem sombra de dúvida, que já houve centenas de derbies com ambientes mais absurdos e pesados a antecedê-los.

Mas Schaars fala do que sabe e do que sente e lá terá as suas razões. À semelhança de muitos estádios europeus, o Benfica vai passar a dispor de um reforço do sistema de segurança para os adeptos visitantes. A delimitar os espaços, no lugar onde se colocavam os cordões de polícias a desempenhar esse papel, passa a haver grades. O procedimento recebeu a aprovação da Liga e da PSP e vai estar montado já no sábado no jogo com o Sporting. E é assim que vai ficar para os jogos futuros.

Perante a afabilidade do momento entre os rivais, não houve em tempos recentes nenhum acontecimento insólito que indispusesse as respectivas administrações, este assomo de indignação por parte de alguns responsáveis de Alvalade tomba um bocadinho para o ridículo. Trata-se da manipulação de uma coisa que não é nada com o aparente intuito, muito dispensável, de criar um ambiente, enfim, tenso.

Olhem, afinal o Schaars tem razão.



O semi-sucesso do Benfica em Manchester, assegurando a qualificação para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, começou por onde começam todos os êxitos das grandes equipas de futebol: pela baliza.

E, que ninguém se ofenda, mas foi Artur o único dos benfiquistas a aguentar os 90 minutos sempre ao mesmo nível, altíssimo, respondendo às exigências da ocasião sempre da mesma maneira, 100 por cento impecável. O belga Witsel não esteve a 100 por cento mas terá estado aí a uns 82 por cento, o que também não é nada mau considerando a sua extrema juventude e inexperiência.

Os outros foram inexcedíveis em aplicação, correram quilómetros, calaram Old Trafford mas a verdade é que o Benfica esteve largos momentos do jogo em aflição. Nada de mais, obviamente, porque o Manchester United é um gigante de créditos firmados e o Benfica anda valentemente a tentar elevar o seu futebol ao nível do seu prestígio internacional.



OS jornais deram conta fortes medidas de segurança que, no sábado, protegeram o autocarro do FC Porto à chegada ao Porto depois do jogo de Coimbra e do reforço, na segunda-feira, dessas já de si fortes medidas de segurança que protegeram o mesmo autocarro quando levou a equipa ao aeroporto para apanhar o avião para a Ucrânia.

O autocarro não sofreu nem uma beliscadura. O que prova que as medidas de segurança foram bem executadas o que não admira. No aeroporto, por exemplo, o aparato policial foi de monta que não houvesse por lá nenhum indigente disposto a insultar os jogadores, os técnicos ou mesmo os dirigentes nem nenhum voluntário com predisposição para partir os vidros do autocarro do FC Porto.

Mais vale prevenir do que remediar, pensaram as autoridades policiais locais e é assim mesmo que se tratam destes assuntos.

Da próxima vez que o Benfica for ao FC Porto, está finalmente o problema do Vermelhão resolvido.

Basta que os dirigentes da Luz solicitem respeitosamente às autoridades locais a mesma protecção policial para o seu autocarro (com recheio de pessoas e bens).

E, assim, com esta eficácia e empenho, nunca mais o Vermelhão regressará do Porto com um risco na pintura, com um farolim partido ou com uma escova de limpar o pára-brisas pendurada ao Deus-dará pela auto-estrada abaixo até à garagem do Estádio da Luz.



O Expresso on line garante que João Moutinho é o «líder dos rebeldes» que no balneário portista se têm dedicado a fazer a vida negra a Vítor Pereira colocando em causa o seu estatuto de autoridade.

-É uma maçã podre, sempre foi uma maça podre! - disse-me um amigo sportinguista preocupado com a eventual demissão do treinador do FC Porto.

Tenho, no entanto, um amigo portista que vê as coisas de outro modo.

-O Moutinho está a fazer em grande trabalho, deixem o Moutinho trabalhar!

É muito difícil entenderem-se os adeptos dos clubes rivais.



ENTREVISTADO pela Rádio Monte Carlo, a jovem esperança Mangala afirmou ser do Paris Saint-Germain desde pequenino e acrescentou que o seu sonho é jogar no Parque dos Príncipes. «PSG? Ia já...» Considerou-se, no entanto, contente por estar no futebol português visto que considera o FC Porto «um trampolim» para outros voos.

O mundo anda todo às avessas.



ANDAM também os irmãos desavindos e isso não é bom. Nascida em África, a amizade entre Eusébio e Hilário resistiu galantemente à rivalidade entre os dois emblemas que os jogadores haveriam de representar na Metrópole - era assim que se dizia, naqueles tempos - mas, mais de meio século depois de ambos terem aterrado em Lisboa, parece que a tão badalada entrevista de Eusébio ao Expresso causou mossa e obrigou Hilário a responder, também em forma de entrevista através do jornal do Sporting.

Eusébio e Hilário são duas pessoas adoráveis e não mereciam, de forma alguma, este desencanto, pelo menos aparente, na sua relação.

Eusébio disse ao Expresso que nunca gostou do Sporting porque quando era jovem em Lourenço Marques «o Sporting era o clube da elite, da polícia e dos racistas». Esta frase causou indignação entre os sportinguistas.

A resposta de Hilário, no entanto, não ajudou nada a contrariar a opinião de Eusébio. Antes pelo contrário.

Hilário recorda que quando assinou pelo Sporting de Lourenço Marques «diziam que eu ia para um clube de brancos, um clube racista».

Diziam? Mas quem é que dizia uma coisa dessas? Seria já o Eusébio?

Hilário diz também, com justificado orgulho que foi «o primeiro preto a jogar no Sporting de Lourenço Marques». De acordo com wiki-Sporting, fonte fidedigna de informação, o Sporting Clube de Lourenço Marques foi fundado em 1920 pelo que, de acordo com as palavras de Hilário, não albergou um único «preto» durante as primeiras quatro décadas da sua existência como associação desportiva.

Ainda citando a informação disponível na Wiki-Sporting, de acordo com «os testemunhos de antigos jogadores do Sporting de Lourenço Marques, era um clube selectivo». E «para os negros jogarem no Sporting ou tinham que ser jogadores com a qualidade de Eusébio da Silva Ferreira ou então tinham que ter alguém que os apadrinhasse».

Um clube selectivo? Lá está a elite, não é?

Sempre citando a Wiki-Sporting, o Sporting de Lourenço Marques tinha uma base social bem definida: «Os seus dirigentes e atletas proviriam principalmente da Polícia e do Serviço Municipalizado de Água e Electricidade», reza o documento.

Lá está a Polícia, não é verdade?



O Shaktar-Porto foi divertido. Como o empate não servia a nenhuma das equipas tivemos um espectáculo aberto, corrido, bola cá, bola lá, às vezes parecia um jogo de hóquei em patins de tão disparado que foi. O FC Porto, por ter melhores jogadores, foi mais feliz e ganhou por 2-0. Agora basta-lhe vencer o Zenit de São Petersburgo e de São Bruno Alves para seguir em frente na Liga dos Campeões.

Vítor Pereira, o mal-querido treinador dos campeões nacionais, festejou a vitória com uma exuberância que se compreende.

Nós aqui em Portugal, compreendemos. Lá fora, não sei..."


Leonor Pinhão, in A Bola

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