segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Super Maxi

"Há jogadores que admiramos pelo seu virtuosismo. São os artistas, os magos, os príncipes do Futebol. São as estrelas que perfumam com classe os relvados por onde passam. São aqueles que mais vezes aparecem nos resumos televisivos, pelas suas grandes jogadas, pelos seus magníficos passes, pelos seus toques de magia, pelos seus golpes de genialidade. Temos, no nosso plantel, quem corresponda a este perfil. Falo, por exemplo, de Pablo Aimar.

Há jogadores que admiramos pela sua eficácia. São os grandes goleadores, os matadores impiedosos e inclementes, os que estão sempre no local certo para caçar as suas presas. São o terror dos guarda-redes. São as pontas de uma lança que dá a estocada final nos touros da fatalidade. São eles, também, os maiores intérpretes da nossa euforia, pois são quem nos faz saltar da cadeira como molas, no momento clímax de um jogo: o dos golos. Eis um retrato onde caberia certamente Óscar Cardozo, o nosso principal artilheiro.

Mas há também jogadores que raramente marcam golos, que nunca fazem fintas, nem habilidades, que não são notícia nos resumos, nem capa de jornais, mas que são indispensáveis a qualquer treinador. São os pulmões e o músculo do conjunto, os que correm o tempo todo, que dinamizam os colegas, que pressionam adversários, que nunca se lesionam, nunca se cansam, nunca reclamam, e nunca falham. São monstros de competitividade. São relógios de pujança. São carros de combate, ao serviço do seu exército. São gladiadores prontos a todos os sacrifícios e a todas as privações, em nome do ideal colectivo. E com esta descrição, só podemos estar a falar do nosso fabuloso Maxi Pereira.


São jogadores 'à Benfica'!

Na mais fiel tradição do que é um jogador 'à Benfica', Maxi conquistou o seu espaço a pulso. Chegou quase sem se dar por ele, veio muito mal acompanhado, e catalogando, na altura, como extremo-direito. Chamava-se Maximiliano, só mais tarde perdendo as últimas letras do longo nome. Já era internacional uruguaio, mas demorou afirmar-se. Fê-lo com suor, porventura com algum sangue, mas sem verter lágrimas, pois homem de barba tão rija não chora facilmente. Hoje é uma referência na equipa do Benfica, tendo sido considerado, por conceituadas publicações estrangeiras, como o melhor lateral-direito do último Mundial.

Tal como aqui disse acerca de Luisão, há jogadores cujo mercado não paga o peso que têm nas suas equipas. Maxi Pereira é um deles, pois se os mercados prestam, fundamentalmente, homenagem ao talento, a alma só a conhece quem a vê de perto, e quem sabe de cor os seus ritmos, as suas forças e os seus contágios. Não será por isso um jogador para encher o campo, e para encher épocas a fio de profissionalismo, vontade de lutar e de vencer. Tal como disse de Luisão, Maxi, é, também, mais do que um mero futebolista. Maxi é um jogador... do Benfica. Esses dois são hoje, na nossa defesa, uma espécie de Pietra e Humberto dos tempos modernos - nomes que, a seguir a Bento, prosseguiam invariavelmente a enunciação de qualquer onze do Benfica, durante os anos da minha inocência.


Queremos festejar títulos juntos...

Luisão renovou recentemente contrato com o nosso Clube, devendo manter-se por cá até ao fim da carreira. Muito me agradaria que com Maxi Pereira sucedesse o mesmo, para que o pudéssemos ver, por alguns anos mais, a lutar bravamente pela camisola que sempre deixa encharcada de suor; a correr; veloz, banda direita acima e banda direita abaixo; a dar precioso exemplo de fibra, de profissionalismo e de coragem; a desenhar, em cada metro de relvado percorrido, todo o fervor do benfiquismo que aprendeu a seguir, a respeitar e a cumprir como poucos.

Maxi não tem preço. Está acima da lógica económica e financeira que tomou conta do Futebol e da vida. Está para além dos ditames dos mercados da bola, que não entendem nada de coragem nem de mística. Ultrapassa os critérios objectivos e subjectivos da valoração de um jogador - que não tendo talento para a troca, tem tudo o resto que constrói um campeão.

Campeão! É isso que ele é. É isso que ele sempre foi no Benfica, ano após ano, mesmo quando, pelos mais variados motivos, não pudemos festejar os títulos."


Luís Fialho, in O Benfica

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