quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Língua e golos

"Em cada português há um perito de futebol e um linguista do futebolês. Por exemplo, ao contrário da maior parte dos cidadões que não gostam de futebol, todos já sabemos que Kiev se diz, na Ucrânia, Kiiv, que Witsel se lê Uitsél, na Bélgica, e que o Benfica tem um goleador chamado Cárdosso, que é, pelos vistos, bem melhor que Franco Rará.

Enquanto nos orgulhamos de dizer Rámes Rodrigués e de aprender em apenas dia e meio a dizer, sem gaguejar, Gençlerbirligi - os turcos que há uns anos jogaram com o Sporting -, nem reparamos que na língua somos de facto dos maiores craques de todo o Mundo. Olhamos para Falcao e conseguimos dizer Falcáu mas se fosse preciso diríamos Falcão. Num campeonato mundial da oralidade seríamos sempre candidatos ao título, tal a facilidade com que vamos a cada um dos sons.

Não será só por uma predisposição de alma que somos povo de dar mundos ao Mundo. E que os nossos melhores brilham em quase todo o lado. Com a crise de golos que aí anda vale a pena começarmos a olhar para um miúdo que vai conquistando o seu lugar na liga inglesa. É o número 9 do Fulham e o nome é fácil de dizer, até para um inglês: Orlando Sá.

Poucos se lembram como se diz goleador em português. Há que estar atento aos valores.

..."

Nuno Perestrelo, in A Bola

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