"Minutos depois do jogo, percebi que o coro começou a funcionar: é uníssono e será o essencial das homilias das próximas semanas
1. Todos conhecemos, quer ao nível da arquitectura, quer ao nível da música, o que é o coro. Nas igrejas, é aquele espaço do altar-mor onde ficam os clérigos que cantam, em comum, os hinos religiosos. Em termos musicais, o coro é o canto simultâneo de muitas vozes. E sendo certo que, até ao aparecimento da polifonia, o coro cantava em uníssono. Muitos de nós já assistimos aos coros religiosos ou até já participámos em momentos musicais em que cantámos em uníssono. Na sexta-feira passada, assisti a um novo tipo de coro no final de um renhido Futebol Clube do Porto-Benfica. Logo após o apito derradeiro de Jorge Sousa, e naquelas que são designadas entrevistas rápidas, escutei, tão só, a apreciação dos intervenientes e, em particular, dos dois treinadores à boa primeira parte do Futebol Clube do Porto e à indiscutível capacidade do Benfica na segunda parte. E percebi, assim, que o domínio foi partilhado e que os dois treinadores, nesta matéria, estavam de acordo. Mas, alguns minutos depois, percebi que o coro começou a funcionar. Vítor Pereira, Fucile e Hulk atiraram-se ao árbitro, tendo todos visto o mesmo acto de Óscar Cardozo em relação a Fucile junto à linha lateral. Percebemos todos que Fucile, em criança, apanhou, tal como muitos de nós, algumas vezes, no traseiro. E sentiu ter necessidade de o expressar em voz alta, acompanhando alguns relatos da comunicação social que escutávamos a partir do Estádio do Dragão. O coro é uníssono. Diríamos que teocrático. Será parte integrante e essencial das homilias das próximas semanas. E, desta forma, está determinada, a partir das orientações do túnel do Dragão, a agenda comunicacional neste início de Outono. Que ajudará, como sempre nos últimos anos, na disputa pela ocupação dos lugares n futuro Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol.
2. Também na passada sexta-feira, Sintra acolheu mais um aniversário da Associação de Futebol de Lisboa. Infelizmente, um fogo perturbante obrigou-me a marcar presença junto dos bombeiros e das forças de segurança que, com a competência a que já nos habituarem, combateram as chamas e garantiram total segurança às pessoas e à circulação rodoviária. Não tive nenhuma dúvida e não hesitei um segundo. Fiquei ali, em São Marcos, como era minha obrigação. Constatei, pelos relatos, que marcaram presença no jantar três anunciados pré-candidatos à Federação Portuguesa de Futebol. Como falta, ainda, um mês para a data limite da apresentação das candidaturas, vou aguardar, pelo resultado final, ou seja, aguardar pela capacidade que alguns desses pré-candidatos terão para alcançarem o número mínimo de assinaturas para uma efectiva candidatura. Mas sendo inequívoco que a eleição do Conselho de Arbitragem e do Conselho de Disciplina - entre outros - pelo método hondt vai proporcionar, porventura, uma multiplicação de listas e tais órgãos serão, no próximo mandato, quase que um verdadeiro parlamento. E é bom que o conjunto da comunidade do futebol discuta o modelo eleitoral e faça, antecipadamente, uma serena reflexão acerca da governabilidade próxima do futebol português. É que, com uma crise de tesouraria que se antecipa, uma incapacidade de governação é meio caminho andado para uma instabilidade orgânica. Algo que não se discute, nem se escuta, nestes jantares de aniversário, por mais extensos e reivindicativos que sejam os discursos neles proferidos. É que, também nesta sede, há coros que, de tão repetitivos, se tornam cansativos.
3. No espaço europeu, há uma nova disputa jurídica-desportiva que importa acompanhar com cuidado. Um tribunal suíço determina a reintegração imediata do Sion na Liga Europa. E a UEFA, obviamente, recusa aplicar tal decisão. A questão aqui é que a UEFA tem a sua sede em território suíço e algumas das facilidades que detém resultam de decisões jurídico-políticas desse Estado singular no conjunto da Europa. Singular, em termos políticos, com a sua neutralidade - bem importante noutras épocas - e singular, em termos financeiros, em razão da especificidade do seu sistema bancário. Mas, nesta sede, o mundo também é feito de mudança. Se a neutralidade suíça é hoje em dia irrelevante, o seu sistema bancário também sofre de duros revés. Se a crise chega às instâncias do futebol, seja à FIFA ou à UEFA, não há coro que lhes valha. Daí a importância de acompanhar a presença, no próxima dia 19 de Outubro, de Michel Platini junto do Procurador do Cantão de Vaud.
4. Na última jornada da Liga dos Campeões, o Real Madrid estreou uma nova camisola. A cor encarnada tem sido um êxito de vendas. Nos três dias seguintes ao jogo contra o Dínamo de Zagreb, o Real Madrid e a Adidas chegaram a vender uma camisola por minuto. Percebemos, assim, que, quer em Espanha, quer nesta aldeia global em que vivemos, deixou de haver fidelidade às cores. O que agora há é a fidelidade aos coros do momento.
5. Hoje, dará o tiro de partida para a Meia Maratona de Portugal um dos desportistas que é um dos exemplos da determinação pessoal por um objectivo. Oscar Pistorius, o sul-africano deficiente que conquistou, através de uma decisão do Tribunal Arbitral do Desporto, o direito de participar contra atletas normais, é uma das grandes referências deste arranque de milénio. Quando o vi correr, nos recentes Mundiais de atletismo de Daegu - onde conquistou, apesar de não ter corrido a final, a medalha de prata na estafeta 4x400m -, senti que há momentos da vida que importa desafinar. Ou seja, lutar contra os coros. E a luta de Oscar Pistorius foi uma luta imensa e politicamente incorrecta. Mas, sempre com a consciência tranquila de quem, desde os onze meses de idade, sabe o que é não ter pernas a partir dos joelhos. Está de parabéns Carlos Móia, e um Maratona em reformulação para crescer, por nos proporcionar, em Lisboa, um homem e um desportista que é uma referência para todos aqueles que acreditam, de verdade, que o desporto é um verdadeiro espaço de inclusão."
Fernando Seara, in A Bola
1. Todos conhecemos, quer ao nível da arquitectura, quer ao nível da música, o que é o coro. Nas igrejas, é aquele espaço do altar-mor onde ficam os clérigos que cantam, em comum, os hinos religiosos. Em termos musicais, o coro é o canto simultâneo de muitas vozes. E sendo certo que, até ao aparecimento da polifonia, o coro cantava em uníssono. Muitos de nós já assistimos aos coros religiosos ou até já participámos em momentos musicais em que cantámos em uníssono. Na sexta-feira passada, assisti a um novo tipo de coro no final de um renhido Futebol Clube do Porto-Benfica. Logo após o apito derradeiro de Jorge Sousa, e naquelas que são designadas entrevistas rápidas, escutei, tão só, a apreciação dos intervenientes e, em particular, dos dois treinadores à boa primeira parte do Futebol Clube do Porto e à indiscutível capacidade do Benfica na segunda parte. E percebi, assim, que o domínio foi partilhado e que os dois treinadores, nesta matéria, estavam de acordo. Mas, alguns minutos depois, percebi que o coro começou a funcionar. Vítor Pereira, Fucile e Hulk atiraram-se ao árbitro, tendo todos visto o mesmo acto de Óscar Cardozo em relação a Fucile junto à linha lateral. Percebemos todos que Fucile, em criança, apanhou, tal como muitos de nós, algumas vezes, no traseiro. E sentiu ter necessidade de o expressar em voz alta, acompanhando alguns relatos da comunicação social que escutávamos a partir do Estádio do Dragão. O coro é uníssono. Diríamos que teocrático. Será parte integrante e essencial das homilias das próximas semanas. E, desta forma, está determinada, a partir das orientações do túnel do Dragão, a agenda comunicacional neste início de Outono. Que ajudará, como sempre nos últimos anos, na disputa pela ocupação dos lugares n futuro Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol.
2. Também na passada sexta-feira, Sintra acolheu mais um aniversário da Associação de Futebol de Lisboa. Infelizmente, um fogo perturbante obrigou-me a marcar presença junto dos bombeiros e das forças de segurança que, com a competência a que já nos habituarem, combateram as chamas e garantiram total segurança às pessoas e à circulação rodoviária. Não tive nenhuma dúvida e não hesitei um segundo. Fiquei ali, em São Marcos, como era minha obrigação. Constatei, pelos relatos, que marcaram presença no jantar três anunciados pré-candidatos à Federação Portuguesa de Futebol. Como falta, ainda, um mês para a data limite da apresentação das candidaturas, vou aguardar, pelo resultado final, ou seja, aguardar pela capacidade que alguns desses pré-candidatos terão para alcançarem o número mínimo de assinaturas para uma efectiva candidatura. Mas sendo inequívoco que a eleição do Conselho de Arbitragem e do Conselho de Disciplina - entre outros - pelo método hondt vai proporcionar, porventura, uma multiplicação de listas e tais órgãos serão, no próximo mandato, quase que um verdadeiro parlamento. E é bom que o conjunto da comunidade do futebol discuta o modelo eleitoral e faça, antecipadamente, uma serena reflexão acerca da governabilidade próxima do futebol português. É que, com uma crise de tesouraria que se antecipa, uma incapacidade de governação é meio caminho andado para uma instabilidade orgânica. Algo que não se discute, nem se escuta, nestes jantares de aniversário, por mais extensos e reivindicativos que sejam os discursos neles proferidos. É que, também nesta sede, há coros que, de tão repetitivos, se tornam cansativos.
3. No espaço europeu, há uma nova disputa jurídica-desportiva que importa acompanhar com cuidado. Um tribunal suíço determina a reintegração imediata do Sion na Liga Europa. E a UEFA, obviamente, recusa aplicar tal decisão. A questão aqui é que a UEFA tem a sua sede em território suíço e algumas das facilidades que detém resultam de decisões jurídico-políticas desse Estado singular no conjunto da Europa. Singular, em termos políticos, com a sua neutralidade - bem importante noutras épocas - e singular, em termos financeiros, em razão da especificidade do seu sistema bancário. Mas, nesta sede, o mundo também é feito de mudança. Se a neutralidade suíça é hoje em dia irrelevante, o seu sistema bancário também sofre de duros revés. Se a crise chega às instâncias do futebol, seja à FIFA ou à UEFA, não há coro que lhes valha. Daí a importância de acompanhar a presença, no próxima dia 19 de Outubro, de Michel Platini junto do Procurador do Cantão de Vaud.
4. Na última jornada da Liga dos Campeões, o Real Madrid estreou uma nova camisola. A cor encarnada tem sido um êxito de vendas. Nos três dias seguintes ao jogo contra o Dínamo de Zagreb, o Real Madrid e a Adidas chegaram a vender uma camisola por minuto. Percebemos, assim, que, quer em Espanha, quer nesta aldeia global em que vivemos, deixou de haver fidelidade às cores. O que agora há é a fidelidade aos coros do momento.
5. Hoje, dará o tiro de partida para a Meia Maratona de Portugal um dos desportistas que é um dos exemplos da determinação pessoal por um objectivo. Oscar Pistorius, o sul-africano deficiente que conquistou, através de uma decisão do Tribunal Arbitral do Desporto, o direito de participar contra atletas normais, é uma das grandes referências deste arranque de milénio. Quando o vi correr, nos recentes Mundiais de atletismo de Daegu - onde conquistou, apesar de não ter corrido a final, a medalha de prata na estafeta 4x400m -, senti que há momentos da vida que importa desafinar. Ou seja, lutar contra os coros. E a luta de Oscar Pistorius foi uma luta imensa e politicamente incorrecta. Mas, sempre com a consciência tranquila de quem, desde os onze meses de idade, sabe o que é não ter pernas a partir dos joelhos. Está de parabéns Carlos Móia, e um Maratona em reformulação para crescer, por nos proporcionar, em Lisboa, um homem e um desportista que é uma referência para todos aqueles que acreditam, de verdade, que o desporto é um verdadeiro espaço de inclusão."
Fernando Seara, in A Bola
Amigo Abidos
ResponderEliminarGostei e entendi o bold e o colorido (são palavras que nem parecem do Seara e até acho que ele não leu bem o que escreveu) LOL
Agora o que fiquei a saber e não sabia era o seguinte:
<span>Mas sendo inequívoco que a eleição do Conselho de Arbitragem e do Conselho de Disciplina - entre outros - pelo <span>método hondt</span> vai proporcionar, porventura, uma multiplicação de listas e tais órgãos serão, no próximo mandato, quase que um verdadeiro parlamento.</span>
Isto muda muita coisa!!!
Abraço
A 'caldeirada' nas eleicções da FPF vai ser tão grande, a contra-informação tanta, que nem me preocupei a especular cenários... por isso é que realçei somente as declarações dobre o 'traseiro' do Fuzil!!! Melhor que o Seara, só 'nosso' Jotas: o pontapé do Cardozo foi com tanta força, que no final do jogo, a merda saiu toda pela boca do Fuzil!!!
ResponderEliminarAbraços