sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A uma só voz

"Um, mais drástico e impaciente do que nunca, exige a “demissão” de Vítor Pereira. O outro, bem menos bonacheirão e civilizado do que noutros tempos, vocifera pela “irradiação” de João Ferreira. De repente, os comentadores ao serviço do Sporting – que, por coincidência ou não, assumiram ou assumem papéis de relevo na estrutura diretiva do clube – sentem a necessidade de convergir para a linguagem oficial num ataque à arbitragem que, com maiores ou menores razões de suporte, é desajustado na forma e no tempo, parecendo destinado ao fracasso. Ambos estiveram ligados a sectores de oposição ao presidente eleito, Godinho Lopes, o homem que protagonizou um volte-face nas disponibilidades económicas imediatas do clube e uma inédita revolução do plantel, fatores que pareceram abrir portas a um reencontro da alma leonina, apoiada na chama ganhadora de Domingos Paciência e na experiência acumulada (de negócio, de bastidor, de afirmação) da dupla formada por Luís Duque e Carlos Freitas.
Em poucas semanas, o quadro mudou radicalmente. A gritaria em torno da arbitragem – independentemente da razão de queixa que assiste ao Sporting pelos disparates de Carlos Xistra na primeira jornada – parte de um erro: toma como precedente e como exemplo aquilo que o Benfica fez no ano passado. Mais avisado teria sido olhar para essa precipitação da direção encarnada como uma lição… a não repetir. Contas feitas, o Benfica nada ganhou com a posição de força assumida. Da mesma forma, fico com a ideia de que o Sporting só arranjou lenha para atiçar o fogo em que será o primeiro a queimar-se.
Não há cortina de fumo que impeça sócios e adeptos de ver o que realmente se passa. Tudo fica claro quando um antigo presidente do clube como o atual técnico vieram a público despedaçar o efeito da aplicação do “véu diáfano da fantasia”. Dias da Cunha pôs o dedo na ferida ao garantir que, se o tivesse comprado um Nolito, não estaria agora a “choramingar”. Já Domingos Paciência, apesar dos charters de jogadores que aterraram em Alvalade, continua a clamar por reforços. Acontece que uma equipa que faz uma primeira metade de jogo como a que rubricou em Aveiro, onde nem chegou à figura de corpo presente, tem alguma dificuldade em encaixar no papel de vítima.
Já agora: se há um – único? – dado saudável neste rugido do leão, ele é o ganharmos a certeza de que o Sporting tem uma voz. Depois do prolongado e ensurdecedor silêncio dos seus responsáveis ao longo das fases mais quentes do Apito Dourado, tinham sobrado algumas dúvidas. Resta saber se não é exatamente este atraso a causa do desajustamento e se os dirigentes atuais não vão precisar de terapia da fala."


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