segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A teoria do caos na óptica do apito

"O início desta época fica, desde já, marcada pelo tiro no pé dado pelos árbitros (como classe que quer ser profissional) a propósito da recusa de João Ferreira em arbitrar o Beira-Mar - Sporting. João Ferreira estava fora, soube em diagonal de algumas coisas que tinham sido publicadas, tomou a nuvem por Juno e precipitou-se. Imediatamente, em vez de chamar o seu associado à razão, a APAF cavalgou uma onda que parecia fragilizar Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem da Liga. A história de Aveiro é conhecida, um árbitro dos Regionais dirigiu, sem problemas de maior, aliás, a partida entre Beira-Mar e Sporting e a Liga, através de diligências do seu presidente, tentou, na semana seguinte, resolver um problema que só de forma adjacente a tocava. Fernando Gomes, sentou a APAF e Sporting à mesma mesa e perante a exigência dos árbitros do reconhecimento, por parte dos leões, de uma culpa que não tinham tido, viu frustrados os seus intentos.

Em face deste cenário, Vítor Pereira fez o que tinha de fazer, nomeando árbitros para a terceira jornada da Liga Zon-Sagres. A bola ficou do lado da APAF. Ou recusava e ensaiava uma saída de fininho pela porta dos fundos, ou mantinham-se firme e hirta como uma barra de ferro e apostava todas as fichas na coesão dos árbitros perante a situação criada. Obviamente, teve de recuar, porque no painel de árbitros de primeira categoria há quem não se deixe manipular e, na reunião de Leiria tenha assumido uma posição intelectualmente honesta, mandando o corporativismo com que a classe estava a ser manipulado às malvas. Sem que a Liga ou o Sporting vacilassem, e certa, já, que não faltaria árbitro em Alvalade, a APAF fez um comunicado cheio de nada e saiu de cena.

Será possível enquadrar a canhestra tentativa de fragilização de Vítor Pereira a que se assistiu, sem trazer à colação as eleições para a Federação Portuguesa de Futebol (que, no contexto dos novos estatutos, vai passar a acolher Arbitragem e Disciplina das competições profissionais)? Não creio.

E quem quiser fazer contas mais certeiras basta ver quem fez o quê a quem, de onde vieram os ataques e quem os protagonizou nos vários momentos.

As próximas eleições federativas - porque continua a haver quem tenha saudades do tempo dos xitos e esteja a apostar muito em retomar o controlo de posições-chaves - têm uma importância que importa desde já relevar. É por isso que este episódio triste dos árbitros, inspirado na teoria do caos, em que o bater de asas de uma borboleta desencadeou um tremor de terra, merece reflexão aprofundada.

..."


José Manuel Delgado, in A Bola

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