quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Do momento histórico à questão política

"ONTEM jogou a selecção portuguesa e todas as oportunidades são boas para ver jogar Fábio Coentrão. Era um jogo particular e Portugal venceu por 5-0 o Luxemburgo produzindo uma exibição quanto baste mas empenhada, alegre e com golos, como os adeptos gostam.

O momento histórico do jogo não foi, no entanto, o inusitado golo de cabeça de Fábio Coentrão, nem o incrível pontapé com que Hugo Almeida marcou pela primeira vez contra os luxemburgueses, nem o livre soberbamente apontado por Cristiano Ronaldo que resultou no segundo golo de Portugal.

O momento histórico do jogo também não foi a entrada de Nuno Gomes em campo, porque, na verdade, não chegou a entrar.

O avançado do Braga passou o jogo todo sentado no banco a dar autógrafos à criançada tal como relataram os comentadores da RTP. Paulo Bento terá preferido dar mais tempo a Hugo Almeida para tentar o hat-trick do que interromper a sessão de autógrafos de Nuno Gomes.

São opções, há que respeitar.

O momento histórico do jogo aconteceu aos 84 minutos, já bem perto do final, quando Bruno Alves depois de ter entrado a pés juntos sobre um pacato luxemburguês viu, pela primeira vez na sua longuíssima lista de internacionalizações, um cartão amarelo mostrado pelo árbitro.

Alguma vez tinha de acontecer, não é?




A selecção de sub-20 está na Colômbia a jogar o Mundial do escalão. À partida de Portugal ninguém deu muita atenção aos rapazes porque longe vão os tempos em que as selecções ganhavam títulos e impressionavam toda a gente. Mas agora, como os sub-20 fizeram um bom arranque na prova, parece ter renascido entre os adeptos essa curiosidade e apego patriótico que nos leva a querer ver os jogos e a vaticinar o melhor.

Pelo menos foi o que me pareceu na noite desta ´

ultima terça-feira, quando já muito depois da hora de jantar se reuniu em frente ao meu televisor uma assembleia variada de pessoas de idades diversas e de filiações clubistas plurais porque a RTP transmitia em directo o Portugal-Guatemala dos oitavos-de-final da competição mundial.

Antes do o árbitro apitar, as opiniões eram unânimes. Que era uma vergonha para o futebol português não haver lugar para os nossos jovens talentos nas equipas de top que disputam a Liga principal, que era lamentável não haver um único jogador português entre as três dezenas de reforços com que o Benfica, o FC Porto e o Sporting se apetrecharam para esta época e, para terminar, que era impossível acreditar não haver lugar nos três grandes para nenhuma das extraordinárias promessas que iríamos ver em acção na TV.

O jogo começou. Aos 7 minutos todos estes pareceres pró-futebolista jovem português foram reforçados com o golo de Nelson Oliveira na transformação de uma grande penalidade. O entusiasmo foi ao ponto de se ouvirem benfiquistas reclamar a venda imediata de Cardozo porque Nelson Oliveira, que é da casa, fazia muito bem o lugar e de se ouvirem portistas manifestar a sua tranquilidade com a hipótese de saída de João Moutinho porque Caetano, sendo praticamente da mesma altura que Moutinho, é dez vezes melhor jogador.

O jogo continuou e não foi nada do que se estava à espera. Os guatemaltecos, estreantes nestas andanças, cheios de vontade de fazer o melhor possível não deixaram os portugueses jogar à bola como sabem e como gostam e a exibição dos nossos sub-20 descambou para uma sensaboria total apimentada com alguns momentos de inusitado perigo vindo da medíocre equipa adversária.

E, naturalmente, os pareceres da minha plateia caseira foram mudando. Nenhum dos jovens jogadores em campo passou a merecer o lugar em nenhuma equipa de top, por exemplo. E o Benfica, o FC Porto e o Sporting fizeram muitíssimo bem em ir buscar jovens estrangeiros porque já vêm com outro andamento e não jogam para o lado nem para trás, por exemplo.

São e serão sempre assim, voláteis, as opiniões dos adeptos. São convicções sedimentadas em 90 minutos de jogo e duram, inabaláveis, até ao próximo jogo que nunca é igual ao anterior.

Não querendo alinhar no campo das sentenças vãs sobre o futuro imediato de jogadores com menos de 20 anos, não posso, no entanto, deixar aqui expressa a minha convicção inabalável de que Mika, o guarda-redes, tem tudo para vir a ser um profissional conceituado na sua especialidade. E é um guarda-redes com sorte. Ao longo da carreira de Mika, o tempo se encarregará, ou não, de explicar isto de haver guarda-redes com sorte.




MANUEL NEUER, por exemplo, já foi um guarda-redes com sorte e agora, ao que tudo indica, é um guarda-redes sem sorte que é a sina de todos os guarda-redes cujo valor do passe atinge cifras de muito, muitos milhões de euros. Neuer era um guarda-redes com sorte no Schalke 04 e na selecção alemã e neste defeso foi transferido para o Bayern Munique por 21 milhões de euros.

Fez a sua estreia oficial pelos bávaros no domingo, no jogo de abertura do campeonato alemão, em casa, contra a modesta equipa do Borussia de Moenchengladbach, que esteve em risco de despromoção na época passada. Manuel Neuer contribui com uma saída em falso e muito atrapalhada para o golo da vitória dos visitantes. Os adeptos do Bayern de Munique não gostaram nada e criticaram À gerência do clube os valores astronómicos da contratação.

Já vimos isto em qualquer sítio...




UM benfiquista prontamente identificado agrediu o árbitro Pedro Proença à cabeçada no Centro Comercial Colombo que, para quem não sabe, fica mesmo à frente do Estádio da Luz. De acordo com as notícias dos jornais, o delinquente foi detido no local e quando chegou à esquadra da polícia apresentou às autoridades o seguinte cartão-de-visita: «Sou sócio cativo do Benfica.»

Dentro das mais do que lamentáveis circunstâncias, o Benfica teve muita sorte porque, assim, para além do tão desejável quanto básico comunicado de repúdio que rapidamente redigiu e fez circular manifestando a sua solidariedade para com Pedro Proença, poderá também agir disciplinarmente sobre o agressor que é «sócio cativo» do clube.

O Benfica teve sorte em o agressor não ser um simples adepto sem qualquer vínculo institucional com o emblema. Se assim fosse, o Benfica poderia censurar - como o fez - o acto em si, mas não teria qualquer tipo de autoridade sobre o energúmeno que nos envergonhou a todos. Tratando-se de um sócio cativo, o Benfica, se não quiser ficar manchado e cativo desta anormalidade de má e violenta índole, só terá de aplicar a sua lei interna, consagrada nos Estatutos do clube, e libertar-se rapidamente deste associado, banindo-o da qualidade de sócio.

Outra coisa não será de esperar que aconteça.

Certamente que no Benfica já estarão a tratar deste assunto que requer urgência e pragmatismo. No seu comunicado, a SAD do Benfica fez votos para que a «justiça aja de forma célere», referindo-se à justiça dos tribunais civis. Eu faço votos para que o Benfica aja de forma célere na medida justa da aplicação da sua lei interna.

É uma questão política, percebem?"


Leonor Pinhão, in A Bola

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