sexta-feira, 17 de junho de 2011

Coulrofobia

"É comum entre crianças, dizem os psiquiatras, mas também ocorre com adolescentes e adultos. 'Ao deparararem-se com um indivíduo vestido de palhaço, os portadores dessa fobia têm ataques de pânico, perda de fôlego, arritmia, suores frios e náusea'.

D. Palhaço é um destroço. Está velho e senil. Diz coisas sem sentido. Rosna, late e, sobretudo, grunhe. Ainda assim mete medo. Coulrofobia, dizem os médicos. Talvez isso explique a subserviência e o lambe-botismo dos que escrevem opiniões nas quais nada opinam, dos que deviam investigar e não investigam, dos que deviam esclarecer e não esclarecem.

Quem tem medo de D. Palhaço? Toda a gente! Pseudo-jornalistas, pseudo-políticos, pseudo-juízes. D. Palhaço está podre. Por mais que ameace entrar-nos pela casa dentro todas as semanas com um número de circo. Ele sabe de verdade comprovada que o ridículo não mata: é a personificação do ridículo e não está morto. Fede, mas ainda não está morto.

Por haver tanta gente a sofrer de coulrofobia, D. Palhaço julga-se eterno. O medo dá-lhe vida. O medo alheio alimenta-lhe o ego. Pobre palhaço pobre. Há nele o esgar bacoco de quem não concebe o mundo sem medo, sem violência, sem ameaças. Pintando a giz sobre a boca, um sorriso estúpido: o sorriso macabro que vem do pânico dos outros. Muitos fogem, muitos calam-se, muitos mais dobram a cerviz e obedecem às suas ordens enlouquecidas pelo ódio. D. Palhaço já não é mais do que um farrapo, mas ainda há tanta gente com medo de palhaços...

A cada grunhido de D. palhaço, multiplicam-se os ataques de pânico. A cada rosnido de D. Palhaços há milhares que perdem o fôlego. A cada gracejo imbecil de D. Palhaço, é um não mais acabar de arritmias e suores frios.

Outros há, como eu, que dispensam tudo isso: só sentimos náusea."


Afonso de Melo, in O Benfica

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