sexta-feira, 3 de junho de 2011

As nossas culpas

"Quando o Benfica ganha, nós ganhámos. Quando o Benfica perde, eles perderam.
Esta parece ser a matriz de pensamento de muitos benfiquistas, que na hora da derrota se apressam a procurar culpados, esquecendo que o problema também pode passar por si próprios.
A época não foi feliz, e ninguém deve fugir às responsabilidades. O presidente foi o primeiro a assumi-las, num exercício de humildade que dignifica e engrandece o cargo que ocupa. Também o treinador já confessou ter errado em diversas situações ao longo da temporada, o que não lhe diminui a competência. Obviamente que os jogadores não escapam ao escrutínio, pois muitos deles não renderam aquilo que se esperava. Mas os adeptos também não podem colocar-se à margem do processo.
Se a força das bancadas foi uma das armas com que o Benfica conquistou o campeonato de 2009-2010, é preciso dizer que, nesta temporada, esse apoio nem sempre se fez notar.
Não consigo entender, por exemplo, como ficaram 8 mil bilhetes por vender numa meia-final europeia. Não consigo entender como, no jogo da Taça de Portugal com o FC Porto – que tanta importância viria a ter – apenas estavam presentes cerca de 35 mil espectadores. Não consigo entender como um clube com milhões de adeptos não consegue esgotar o estádio, uma só vez, em tantos meses de competição. A crise económica dói, mas não explica tudo.
Pior ainda foram as incompreensíveis manifestações de hostilidade para com os jogadores. A mais chocante terá ocorrido após a final da Taça da Liga. Mas outras houve, desde invasão de treinos, a esperas nos parques de estacionamento, que trouxeram para nossa casa o que de pior se tem visto nos rivais. Se somarmos os assobios que se dirigiram a Óscar Cardozo (marcando 100 golos, como é possível?), a César Peixoto, a Roberto, e a outros jogadores, teremos matéria suficiente para não deixar quase ninguém inocente.
Antes de atirarmos pedras, pensemos naquilo que fizemos, e naquilo que poderíamos ter feito. Talvez comece aí um Benfica mais forte."


Luís Fialho, in O Benfica

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