sábado, 9 de abril de 2011

Pecado capital

"Pinto da Costa vai ficar na história do futebol português. Pelos melhores e piores motivos. A hegemonia do FC Porto foi construída sobre os abusos de um país fascista e centralizado. Os clubes de Lisboa (Benfica e Sporting), primeiros beneficiários do regime, não souberam organizar-se no sentido de contrariar o “grito de revolta” do FC Porto, amplificado por José Maria Pedroto e, principalmente, por Pinto da Costa. O FC Porto, no pós-Américo de Sá, sempre soube capitalizar em redor da proclamada e decantada (auto)vitimização, mesmo quando passou a protagonizar o papel de manipulador das massas.

Pinto da Costa desenhou uma estratégia, considerando o perfil do país e dos seus principais adversários e, ironicamente, soube utilizar a política e a democracia para conseguir resultados através de uma ideia de totalitarismo. Começou por juntar sequazes contra o Portugal centralizado e com a sede do poder em Lisboa e foi passando a mensagem -- ano após ano, década após década -- do imperativo da descentralização. O exército foi aumentando: em 1982, quando PC chegou à presidência, o FC Porto só havia ganho 7 campeonatos, uma gota no imenso oceano vermelho e verde.

Pinto da Costa entendeu o “elitismo de pechisbeque” e sentiu que se achavam reunidas as condições para diabolizar a capital, aumentando o tom das críticas relativamente aos poderes gerados em Lisboa – o centro das decisões. Em 1987, com a conquista da Taça dos Campeões e da Taça Intercontinental, coincidindo com o final do consulado de Fernando Martins (no Benfica), Pinto da Costa percebeu que não tinha outro caminho. A partir do meio da década de noventa, já o presidente do FC Porto estava em plena magistratura ativa no sentido de fazer do clube um exército ainda mais equipado. A equipa de futebol fazia parte desse exército e o Estádio das Antas era uma espécie de quartel-general onde só os alinhados eram bem recebidos. Os mais jovens não terão memória disso, mas nos anos noventa os árbitros e os jornalistas foram sistematicamente coagidos. O ambiente nos jogos, muito difícil. A ideia era essa: criar pressão e medo. Ao mesmo tempo, atrair personalidades ligadas ao poder político, económico e futebolístico, cujas relações foram sempre geridas com muita astúcia por Pinto da Costa. Uma urdidura.

Quando o Apito Dourado surgiu havia a convicção de que Pinto da Costa se movimentava como ninguém nos bastidores do futebol – e o seu epílogo, nos tribunais, pelas expectativas criadas, deixaram nos adversários um rasto de revolta e frustração. Aí, já o Benfica havia claudicado (com Manuel Damásio, o começo do desastre), no meio de um sem-número de “aquisições” sem sentido.

Pinto da Costa conheceu 7 presidentes (Fernando Martins, João Santos, Jorge de Brito, Manuel Damásio, Vale e Azevedo, Manuel Vilarinho e, desde 2003, Luís Filipe Vieira) e nenhum deles achou a melhor forma de lidar com as “duas caras” do líder azul e branco. A visão do resultado (a obra-prima criada pelo “monstro”) fez o Benfica hesitar entre copiar o criador ou enveredar por outro caminho. O erro volta a estar à vista: na “técnica do conflito” e num país vulnerável, Pinto da Costa é imbatível. A técnica teria de ser outra. A do contraste."


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