quinta-feira, 14 de abril de 2011

O 'penalty'

"O Benfica disputa, hoje, o jogo europeu, com um resultado relativamente confortável. Por isso, espero que não haja lugar a desempate por grandes penalidades. É que, ao PSV, associo um desgosto. Em 1988, o Benfica perde ao 12.º penalty, depois de uma primeira e rara série sem falhanços de nenhuma equipa. Veloso - um exemplar jogador - falhou e o Benfica perdeu ingloriamente a final.

A marcação de um penalty é sempre uma hipérbole emocional. Ali, frente a frente, perante uma atrofiada ou desmedida baliza, o jogador que não pode falhar e o guarda-redes que não é obrigado a defender.

Não alinho na ideia de um penalty ser uma lotaria. Embora marcado com o pé que é a parte mais tosca do corpo, é um momento em que as variáveis estão bem fixadas: a bola está parada, o guarda-redes imóvel, a baliza bem enquadrada. Assim sendo, o remate tem de ser a síntese perfeita da capacidade motora com o equilíbrio psíquico.

Hoje, com as câmaras radiografando o cérebro e a alma dos jogadores, através da sua face, quase podemos estimar a probabilidade de êxito ou de fracasso naqueles segundos implacáveis. E uma das causas de falhanços tem a ver, já após o ponto de não retorno, com a alteração da decisão do modo de marcar, entrando-se em conflito com a programação cerebral e motora.

Mas, se para o atleta se trata de um duro exame, perante milhares ou milhões de olhos, para os adeptos, o coração fica descompassado entre a paradinha auricular e a do rematador. O segundo entre o ir marcar e o ter marcado é uma eternidade e a baliza oscila entre o seu dobro e a sua metade.

Momentos cruelmente belos e que perduram na memória. Por esfuziantes razões ou por desconsolados motivos."


Bagão Félix, in A Bola

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