sexta-feira, 29 de abril de 2011

Aquilo que eu sei

"Eu sei que há coisas que não devem ficar sem resposta. Eu sei que neste Mundo global e mediático somos medidos pela força que demonstramos ter e que a linguagem de quem informa muitas vezes acirra e espicaça só para garantir audiências e tiragens altas à custa de incidentes e de 'casos'.

Eu sei que no espaço de paixão que é o do Futebol se tende a agir muito mais com o coração do que com a razão e que depois cada um cai em si e descobre que foi mais longe do que deveria ter ido.

Eu sei que há humilhações que é difícil digerir e aceitar e que andamos todos crispados por causa da crise que fustiga este País e compromete o nosso presente e o nosso futuro. Eu sei tudo isso, embora sinta quase sempre que sei muito pouco.

Mas a verdade é que também sei que a grandeza de espírito e a superioridade moral vêm da serenidade muito mais do que da beligerância. E também sei que quem usa a violência multiplica a violência e mancha a imagem daquilo que na realidade somos e valemos. E é muito.

O Futebol é importante, porque nele investimos paixão e esperança, mas existe muito mais vida para além dele. Existe a própria vida, com todos os problemas e desafios que desfilam perante os nossos olhos exigindo soluções e respostas. Será isso pouco?

Umas vezes ganham uns, outras vezes ganham outros. As guerras são noutros lugares. São na Líbia, no Afeganistão e noutros pontos do Mundo. Só a paz e a liberdade nos dão tempo e espaço para fruirmos o espectáculo do Futebol, sem medo, mas com regras, sobretudo as cívicas, que são as da cidadania e as da sã convivência. Há famílias inteiras que deixarão de ir aos estádios se deixarem de ser estas as regras do jogo.

E depois existe ainda uma outra coisa. Há uma medalha que nunca deve ser posta no peito do adversário, seja ele qual for: a de um campeão de cabeça perdida a ficar abaixo do muito que valem a sua história e o seu potencial de futuro. Ninguém nos tira o orgulho de sermos quem somos."


José Jorge Letria, in O Benfica

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