quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Saviola

"Justíssimo. Trata-se de um profissional brilhante. Daqueles que enobrece o seu ofício. Escrevi propositadamente profissional e não jogador. Porque o argentino é profissionalmente completo. Atleta de inegáveis recursos técnicos e tácticos, de uma intelegência fina e arguta, trabalhador incansável, com a regularidade de um relógio de precisão, com raro sentido de eficácia e noção da «produtividade do esforço». Mas também sereno, sem alardes ou tiques de vedetismo disparatado, leal e correcto para com colegas e adversários, respeitador. Vê-se que exerce a sua actividade com o sentido lúdico do dever. Trabalhar jogando não é para ele nem uma cruz nem uma expressão narcísica. Sabe, como ninguém, emprestar o individual ao colectivo num rendimento quase musical de opções e movimentos.
O melhor profissional é aquele para quem o seu mister é o prolongamento da sua vida pessoal e vice-versa. Igual a si mesmo. Sem teatro ou máscara. Não conheço pessoalmente Saviola, mas aposto que ele é nos relvados o que é na rua, em casa, na sociedade: um homem discreto, responsável e simples. Avesso à ilusão, à quimera, ao deslumbramento efémero, ao aplauso de ocasião.
Não é dado a espalhafatos tontos nem a histrionismo bacoco. Como um dos seus irmãos (benfiquista, claro!) me disse, quando há tempos me sugeriu que nesta coluna escrevesse sobre o Saviola, é «um vagabundo que nunca ri». Com 1,68 m de altura e muito mais de personalidade.
Saviola irá longe quando os holofotes se apagarem. Porque tem vida a carácter para além do futebol. Como o inolvidável Preud'Homme."
Bagão Félix, in A Bola

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