Os treinadores

"Em Portugal, um responsável máximo pela orientação de jogadores profissionais não tem uma tarefa fácil. A vida de um treinador é das mais atormentadas que imaginar se possa, no que ao contexto competitivo diz respeito. A glória mistura-se com a humilhação, o reconhecimento geral transforma-se em apedrejamento público e a inteligência táctica metamorfiza-se em escolha desajustada de jogadores. De bestial a besta vai uma ténue linha de segurança. É que em cada seguidor do fenómeno futebolístico e em cada sócio habita um treinador de bancada, um ser que se considera mais sagaz e melhor técnico que os demais. Estas mentes iluminadas esquecem-se de que as escolhas dos técnicos foram feitas por figuras experientes, após avaliação criteriosa e responsável. E, bastas vezes acontece, os estrategos que agora os treinadores de bancada criticam são os mesmos que anteriormente tantas alegrias e motivos de orgulho lhes deram.

Podia falar de Jorge Jesus mas, para afastar a subjectividade, destaco um exemplo externo, noutros tempos ligado ao nosso clube: Paulo Bento. Será que depois de ter conduzido o eterno rival a dois vice-campeonatos, PB perdeu o jeito de um dia para o outro? Seria um treinador tão mau capaz de mudar completamente o querer e o saber de uma selecção, a ponto de a fazer ganhar em casa e fora por margem expressiva? Não estarão já arrependidos os detractores de PB e não rejubilariam hoje se ele reentrasse pela porta principal do clube que o despediu? A qualidade, a grandeza e o sucesso não se edificam numa semana e fazê-los cair num par de dias, alimentando a queda com argumentação primária, é próprio dos pequenos, dos medíocres e dos adversários cuja história é incomparável à do Sport Lisboa e Benfica.

Vêm aí desafios importantes , é obrigatório estarmos unidos e confiar em quem nos fez campeões, em quem nos devolveu o sabor constante da vitória. O resto não importa, por ora não é conteúdo que nos deva entusiasmar."

Ricardo Palacin, in O Benfica