quinta-feira, 14 de outubro de 2010

(77,53)

"(77,53)! Por momentos, pensei que se tratava de uma citação religiosa, mas logo me lembrei que tais dígitos não se atingem na Bíblia, nem mesmo no Livro dos Números, cujos versículos acabam em (36,13) ou no Livro do Apocalipse, que terminam em (22,21).

Afinal, era bem mais prosaica aquela referência. Tratava-se da precisão de um cronometrista: 77 minutos e 53 segundos, o tempo exacto de uma delirante penalidade. Para o treinador do FC Porto: «Foi óbvia, eu vi-a e os meus jogadores garantiram-me também que foi demasiado nítida.» Sublinho eu: óbvia e demasiado nítida. Tanto que ninguém a conseguiu ver ou reclamar. Já sem qualquer nitidez, dado o espesso nevoeiro, foi o penalty (e 2.º amarelo) de Fucile. Mas aí nem olho de lince, nem cronómetro. Apenas Xistra.

O treinador disse que se indignara não com a expulsão de Fucile, mas por causa do putativo penalty. As imagens são, porém, elucidativas. Não há um gesto do treinador entre os tais 77m 53s e a agressão do jogador do FC Porto. Uma caricata fita de quem não soube encaixar um pequeno desaire! Bem sei que, no dia seguinte, teve a correcção de pedir desculpa, embora tivesse omitido tudo o resto. A evidência era tão avassaladora que não tinha outro caminho.
Umas semanas antes, Villas Boas respondera ao presidente do Benfica, dizendo que «era natural que o entretenimento semanal do campeonato fosse as arbitragens!». Como não se entreteve com o penalty com que derrotou a Naval, os dois penalties na mesma jogada de ataque do Rio Ave ou o braço na bola contra o Nacional, quis agora entreter-nos com a sua visão ao virar da curva dos primeiros pontos perdidos. Uma boa e jovem visão sem miopia, hipermetropia, estigmatismo, daltonismo, estrabismo, treçolho ou o mais danoso e contagioso olho vermelho. Só a contar é que se enganou: afinal os (77,53) são (00,00)..."
Bagão Felix, in A Bola

2 comentários:

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